Grávida de 15 semanas, Caqui, de 32 anos, que está a espera de gémeos, está internada há cinco dias no hospital Sergio Bernales, no distrito de Comas, ao norte de Lima, onde dezenas de pacientes infetados são tratados diariamente.

"Não sei como fui infetada. É horrível ter dengue no meu corpo", disse à AFP da sua cama coberta por um enorme tule branco que a protege de novas picadas do mosquito que transmite o vírus.

O hospital montou uma ala separada para a dengue, onde mais de 20 pacientes gravemente enfermos estão a ser tratados.

A dengue é uma doença viral contraída por meio de picadas de mosquito, mas não é transmitida entre humanos. Em mulheres grávidas, há um risco potencial de transmissão para seus bebés.

O Peru registou 147 mortos em decorrência da doença e mais de 155.000 casos registados até dia 17 de abril, de acordo com o Ministério da Saúde. Os números excedem em muito as 39 mortes e 34.000 casos registados no mesmo período em 2023.

A dengue está a atingir fortemente a capital de 10 milhões de habitantes. Os casos totalizaram 30.000 entre janeiro e abril, 33 vezes mais do que os 900 registados em 2023.

"Estamos numa curva ascendente em Lima por causa da sua densidade populacional", disse o ministro da Saúde, César Vásquez, ao jornal El Comercio.

A doença potencialmente fatal, que causa febre, dor de cabeça, desconforto muscular e nas articulações, é transmitida pela picada de um mosquito infetado, o "Aedes aegypti".

"Eu temia por causa da minha vida, mas agora estou um pouco mais estável", disse o estudante Alonso Vergaray, de 18 anos, que sofreu uma hemorragia na garganta devido à dengue.

"Eu sentia-me mal de um momento para o outro, não tinha apetite, a minha força foi-se", contou o pedreiro Luis Camacho, de 60 anos, que foi hospitalizado há quatro dias.

O hospital Sergio Bernales, localizado no sopé de uma colina, tratou 2.200 pessoas entre janeiro e abril. O número é mais de 200% maior do que o registado no mesmo período em 2023, de acordo com a especialista em doenças infeciosas Diamantina Moreno.

"Fiquei preocupada quando soube que as pessoas estavam a morrer" por causa da dengue, disse à AFP Carla Soto, uma estudante de 18 anos que sofreu hemorragia vaginal em consequência da doença.

As altas temperaturas provocadas pelo fenómeno climático El Niño, entre meados de 2023 e março de 2024, favoreceram a proliferação da dengue, uma vez que "este clima é propício para a reprodução" do mosquito, destacou Moreno.

O Ministério da Saúde do país tem realizado ações de controlo dos focos e fumigação em casas, mercados e parques para combater o mosquito.

A situação levou o governo peruano a declarar emergência sanitária em 20 das suas 25 regiões em fevereiro.