
Sabendo que a adesão à intervenção é dos principais preditores do sucesso na perda de peso, qualquer estratégia que facilite essa adesão (a curto e longo prazo) aumenta a probabilidade de um indivíduo conseguir atingir o seu objetivo. Neste contexto, a “alimentação com restrição de tempo” (“time-restricted eating”) tem surgido como uma alternativa à dieta convencional. Esta estratégia baseia-se na redução da janela alimentar – ou seja, das horas disponíveis no dia para a ingestão alimentar –, aumentando assim o período de jejum.
De forma simples, a redução da janela alimentar pode ser feita antecipando a última refeição do dia e/ou adiando a primeira (pequeno-almoço). Pode ainda ocorrer a junção de refeições, como o pequeno-almoço com o meio da manhã ou o lanche da tarde com o jantar, ajustando os horários das refeições de modo a aumentar o período em jejum.
No entanto, os artigos científicos de boa qualidade metodológica que comparam estas abordagens – como é o caso de um artigo publicado em 2020 pela revista Nature Reviews Endocrinology – indicam que parece não existir qualquer vantagem relativamente à perda de peso. Mais especificamente, quando a magnitude da restrição energética é igual, isto é, quando os indivíduos realizam um défice calórico equivalente, a perda de peso é semelhante entre estratégias. Isto não significa que restringir a janela alimentar seja uma má estratégia, mas sim que não oferece qualquer benefício adicional em relação a uma abordagem mais tradicional, se realizada nas mesmas condições.
Mais importante do que o método escolhido, a chave para o sucesso na perda de peso parece estar na adesão a longo prazo. Reduzir a janela alimentar pode ser uma boa estratégia para quem prefere fazer menos refeições ou realizar refeições mais substanciais (em detrimentos dos snacks). Por exemplo, alguém que não sinta fome ao acordar ou alguém que se deite cedo pode beneficiar desta estratégia, no sentido em que será mais fácil aderir a este tipo de intervenção.
Contudo, se esta restrição horária levar a uma a compensação nas refeições seguintes, esta não é, provavelmente, a opção mais adequada. É importante perceber que, independentemente da duração do espaço temporal em que ocorre a ingestão alimentar, o défice calórico precisa de ser alcançado de qualquer maneira para que ocorra perda de peso. Na prática, a melhor dieta será aquela que o indivíduo conseguir manter a curto e a longo prazo – ou seja, aquela que leva a uma maior adesão.
A escolha da abordagem a adotar deve ser individualizada, considerando as preferências, estilo de vida e necessidades individuais. Seja através do jejum intermitente, da restrição calórica contínua ou de qualquer outro método, a adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e atividade física regular, continua a ser a principal recomendação para a gestão do peso corporal e da saúde em geral.
Catarina Nunes
Nutricionista e professora auxiliar na Atlântica – Instituto Universitário
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