Na sociedade em geral, cada vez mais se valoriza o embelezamento das unhas. As mulheres recorrem periodicamente à manicure para aplicação de unhas de gel e gelinho.
Estes procedimentos podem despoletar ou favorecer doenças ungueais. Por um lado, podem levar ao aparecimento de alergias aos acrilatos e promover o aparecimento de eczemas de difícil tratamento, por outro podem acordar doenças cutâneas como a psoríase e outras doenças inflamatórias como o líquen, em indivíduos predispostos.
Este tipo de procedimentos podem ainda camuflar doenças como micose e sinais que têm que ser vigiados.
A remoção da cutícula pode favorecer processos inflamatórios ou infecciosos à volta das unhas, uma vez que a cutícula funciona como uma barreira de proteção que impede a entrada de microrganismos e agentes irritativos pela prega ungueal proximal. Tal como a pele, a unha se não for hidratada, descama. Por isso, o creme hidratante deve ser aplicado também nas unhas e não só nas mãos. É importante que as pessoas tenham consciência dos riscos destas práticas e das medidas que podem adotar para minimizar o aparecimento das referidas patologias.
Várias doenças
Várias doenças dermatológicas primárias podem atingir as unhas, sendo de salientar a psoríase. A psoríase pode atingir exclusivamente as unhas, confundindo-se muitas vezes com micose. As unhas ficam espessadas, podem apresentar pequenas depressões, manchas amareladas e estarem descoladas na sua parte distal.
As infeções por fungos (onicomicose) são muito frequentes. A suspeita diagnóstica é clínica mas deve ser confirmada por exame micológico direto e cultural e idealmente também por exame histológico. O tratamento, sobretudo quando o prato ungueal está bastante envolvido, é sistémico, além de tópico, e demorado, podendo durar mais de 6 meses. O diagnóstico, acompanhamento e prescrição deve ser feito por um médico dermatologista.
Assim como na pele, podem surgir sinais nas unhas. Surgem como manchas ou linhas escuras. Esta alteração é motivo para uma consulta urgente de Dermatologia para exclusão de um melanoma, cancro agressivo com alta taxa de mortalidade.
Muitas doenças sistémicas estão associadas a alterações das unhas. As doenças cardiocirculatórias e respiratórias podem acompanhar-se de unhas em vidro de relógio, nas quais se observa um aumento da convexidade da unha e dedos em baqueta de tambor, em que há um aumento das dimensões das extremidades digitais. Na insuficiência renal crónica pode observar-se espessamento e cor amarelada. Estes pacientes podem ter na metade proximal uma cor normal e na metade distal uma cor vermelho vivo.
As doenças da tiróide também se podem manifestar nas unhas: no hipertiroidismo as unhas crescem rapidamente e ficam finas enquanto que no hipotiroidismo o crescimento é lento e as unhas ficam espessadas. Problemas na glândula suprarenal podem traduzir-se em unhas com uma tonalidade escura. Nos casos de anemia observa-se palidez do leito da unha. Por outro lado, o dermatologista tem aparelhos que permitem uma visualização pormenorizada das unhas que ajudam no diagnóstico de doenças como o lúpus e outras doenças do tecido conjuntivo.
Esteja atento aos sintomas
A temática da patologia da unha é vasta e complexa. Devemos estar atentos às alterações que ocorrem nas unhas e consultar um médico para que seja feito um diagnóstico e tratamentos precoces, já que as alterações por um período prolongado deixam mais facilmente sequelas.
As unhas podem revelar muito mais sobre a nossa saúde do que se possa imaginar. É importante saber identificar essas "pistas" e compreender o seu significado.
As explicações são da médica Filipa Ventura, Dermatologista do Centro de Dermatologia Epidermis no Instituto CUF Porto.
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