A Ginecologia é uma especialidade médica dedicada à saúde da mulher, etimologicamente é, nem mais nem menos, do que a ciência que estuda a mulher na saúde e na doença. O ginecologista não é apenas o médico da especialidade que trata os aspetos ligados à reprodução e à sexualidade, as hemorragias, as infeções, os tumores…. É isto e muito mais porque está presente em todo o ciclo de vida da mulher.
A saúde deve ser alvo de uma atenção especial uma vez que a mulher desempenha um papel muito importante na sociedade. Segundo um estudo publicado em 2016, 62% das mulheres dizem que não têm tempo para descobrir como se manter saudáveis, atitude que tem um grande impacto na sua saúde e bem-estar.
Ser mulher é também estar informada e aprender a escutar o seu corpo para encarar serenamente as diferentes etapas da vida, valorizando os sinais que a devem fazer procurar os serviços de saúde de modo a antecipar a doença ou pelo menos evitar as suas consequências mais graves.
As doenças ginecológicas têm impacto significativo na saúde da mulher, podem ter causa orgânica e funcional e apresentam particularidades de acordo com as diferentes faixas etárias em que a afetam, seja no início da vida reprodutiva, seja após a menopausa. A patologia orgânica ou estrutural é maioritariamente benigna, a nível do útero os miomas uterinos são os tumores mais frequentes, a nível dos anexos (ovários e trompas) são igualmente frequentes os quistos e os tumores sólidos benignos.
Destacam-se as seguintes situações
Miomas uterinos: tumores benignos com origem no útero que são formados por tecido muscular e podem variar em tamanho, localização e número. Aproximadamente 30-60% das mulheres têm miomas uterinos e sabemos que atingem a mulher na fase de vida reprodutiva, aumentando a sua incidência a partir dos 35 anos. O principal sintoma são as hemorragias uterinas anormais. O tratamento definitivo é a cirurgia (conservadora ou por remoção do órgão) embora os sintomas possam, nalguns casos ser controlados com tratamento médico.
Pólipos uterinos: proliferações focais que se desenvolvem no interior da cavidade uterina reproduzindo o tecido do endométrio (camada de revestimento interno do útero). Os pólipos uterinos podem surgir na pré e pós-menopausa. Podem ser assintomáticos e detetados apenas no decurso de uma ecografia ginecológica ou podem traduzir-se por hemorragias uterinas anormais. O seu tratamento é a remoção cirúrgica habitualmente por técnicas minimamente invasivas, que permitem uma mais rápida recuperação e volta à vida ativa.
Quistos/Tumores do ovário: cerca de 80% das massas anexiais são benignas. Em muitos casos trata-se de formações quísticas simples de conteúdo liquido, mas podem igualmente ter a forma de tumores sólidos, cujo expoente máximo é o teratoma (desenvolvimento de diferentes tipos de tecido no corpo humano) ou quisto dermoide. O principal sintoma é a dor pélvica que pode revelar-se de uma forma aguda. O diagnóstico faz-se através do exame ginecológico e da ecografia pélvica. O tratamento é cirúrgico, atualmente com destaque para a laparoscopia, técnica minimamente invasiva pela qual se remove o tumor através de pequenos orifícios no abdómen.
Endometriose: a endometriose é a designação dada ao processo clínico no qual as células que constituem o endométrio se encontram fora da sua localização normal, por exemplo na membrana transparente que recobre a parede abdominal e alguns órgãos (também conhecida por peritoneu pélvico), nos ovários, na bexiga, no apêndice, intestinos ou, até, no diafragma. A prevalência da endometriose é de cerca de 10% da população em idade reprodutiva. Nas mulheres com infertilidade, essa prevalência aumenta para cerca de 25 a 45%. O principal sintoma é a dor pélvica. O diagnóstico definitivo faz-se pela visualização direta das lesões (por laparoscopia) e estudo histológico das mesmas. O tratamento poderá ser médico ou cirúrgico, e dependo de cada um dos casos.
As doenças malignas são menos frequentes, mas de maior gravidade e quando diagnosticadas e tratadas numa fase inicial o seu prognóstico é mais favorável.
Enunciam-se os cancros ginecológicos mais frequentes
Cancro do endométrio: é o cancro ginecológico mais comum nos países desenvolvidos e atinge maioritariamente as mulheres após a menopausa. A hemorragia genital após a menopausa deverá ser sempre investigada pois em 10% dos casos pode ser sinal de um cancro do endométrio.
Cancro do colo do útero: é uma doença causada pela infeção provocada pelo papiloma vírus humano e que atualmente poderá ser prevenido pela vacina contra as estirpes oncogénicas desse vírus. A vacina está incluída no plano nacional de vacinação registando-se com apreço a elevada adesão da população portuguesa que faz com que Portugal seja um dos países com melhor taxa de vacinação.
Cancro do ovário: é o tumor maligno ginecológico com pior prognóstico porque muitas vezes é diagnosticado numa fase avançada da doença. A dor abdominal, a distensão abdominal, a sensação constante de enfartamento pode indiciar esta situação e devem ser motivo de consulta médica.
Muitos dos sintomas acima descritos não são atempadamente reconhecidos pelas mulheres, o que leva a um diagnóstico e tratamento tardio das suas doenças ginecológicos. É importante que a mulher, mantenha uma relação próxima com o seu médico de família e com o seu ginecologista e partilhe qualquer sintoma ou problema que considere fora do habitual para que as medidas diagnósticas e terapêuticas possam ser implementadas em tempo útil. As opções terapêuticas devem ser discutidas com as mulheres de modo a que seja possível uma decisão informada e partilhada com os seus médicos.
Um artigo da médica Fernanda Águas, especialista em Ginecologia/Obstetrícia e presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG).
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