É inquestionável, hoje, a importante intervenção das farmácias comunitárias nos cuidados de saúde primários e na promoção da saúde pública em Portugal. E se dúvidas houvesse, é suficientemente vasta a evidência, em forma de estudos, investigação e casos concretos, para comprovar, de forma consistente, que a colaboração entre farmacêuticos, médicos e outros profissionais de saúde traz benefícios concretos para a saúde das pessoas. A conjugação única de proximidade à população, elevada acessibilidade e competência técnica dos seus profissionais faz das farmácias pontos de contacto chave para responder a diversas necessidades em saúde, incluindo uma área particularmente sensível: a saúde sexual.

Embora fundamental, a saúde sexual continua rodeada de mitos que a tornam um assunto sensível. Precisamente por isso, a intervenção das farmácias reveste-se de particular relevância ao longo das várias fases da vida. A relação de proximidade, confiança e confidencialidade que caracteriza estes espaços favorece a comunicação aberta sobre questões frequentemente consideradas “tabu” pela população, como é o caso da disfunção erétil.

Não só as equipas das farmácias estão preparadas para informar os utentes sobre fatores de risco, estilos de vida saudáveis e opções terapêuticas, como podem dar um contributo essencial para desmistificar preconceitos e incentivar a adoção de estilos de vida que contribuam para a saúde sexual e para o bem-estar geral, através de um aconselhamento adaptado às necessidades de cada pessoa.

E, não menos importante, o acompanhamento farmacêutico regular e próximo permite, também, identificar sinais e sintomas que podem estar associados a condições subjacentes mais graves, como doenças cardiovasculares, diabetes ou transtornos psicológicos, garantindo-se nesses casos o encaminhamento médico adequado. Esta intervenção integrada favorece a prestação de cuidados seguros, eficazes e centrados na pessoa, ajudando a reduzir, desta forma, a pressão sobre os cuidados de saúde primários e serviços de urgência, garantindo uma resposta mais eficiente e próxima, em todo o território nacional, incluindo zonas com menor cobertura de cuidados de saúde.

Um exemplo concreto da evolução da intervenção das farmácias na área da saúde sexual é a recente disponibilização, sem necessidade de receita médica, de um dos medicamentos para a disfunção erétil, cuja dispensa é exclusiva em farmácia. Este novo enquadramento legal exige a aplicação de um protocolo de dispensa pelo farmacêutico, o que assegura que o utente tem acesso a um tratamento eficaz, de forma segura, ágil e discreta, sempre acompanhado por um profissional de saúde qualificado.

É uma alteração que, para os farmacêuticos, configura a oportunidade de reforçar a sua intervenção clínica na área da disfunção erétil através de uma avaliação estruturada e orientada por critérios definidos. Trata-se de um modelo que alia acessibilidade a rigor profissional, garantindo elevados padrões de segurança, promovendo a autonomia do utente e contribuindo para uma utilização mais eficiente dos recursos em saúde.

Outra vantagem importante é o contributo para desmistificar a disfunção erétil, apresentando-a como uma condição de saúde quotidiana e tratável. Permitir um acesso mais facilitado a este tipo de medicação, contribui para normalizar o diálogo em torno da saúde sexual masculina, incentivando os homens a procurar ajuda e a aderir a tratamentos eficazes sem constrangimentos. A farmácia, enquanto espaço de confiança e de proximidade, assume uma posição de destaque na promoção de uma cultura de saúde sexual aberta e responsável.

E isto torna a responsabilidade do farmacêutico, neste contexto, ainda mais exigente do ponto de vista de um compromisso ético e técnico rigoroso, através de uma avaliação individualizada que inclui a análise de contraindicações, potenciais interações medicamentosas e outras situações que justifiquem encaminhamento médico.

Algo que só é possível num espaço como a farmácia comunitária, onde a proximidade, a acessibilidade e o conhecimento clínico convergem. O farmacêutico informa, aconselha, adapta a comunicação à realidade de cada pessoa e reforça a importância de hábitos de vida saudáveis e da vigilância médica regular. Este modelo de atuação protege o utente, aumenta a confiança na resposta da farmácia e contribui para um sistema de saúde mais próximo, mais eficaz e mais sustentável.