O paciente tinha recebido, há três anos, um transplante de medula óssea proveniente de um dador resistente ao Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), fruto de uma mutação genética pouco frequente.
O paciente em questão não tomava medicamentos antirretrovirais há mais de 18 meses e foi submetido a uma série de testes altamente sensíveis que confirmam a inexistência de qualquer sinal da infeção pelo VIH/Sida
"Não há qualquer vírus que possamos medir. Não conseguimos detetar nada", disse à agência de notícias Reuters Ravindra Gupta, atual professor da Universidade de Cambridge e virologista especialista na infeção do VIH/Sida. Foi ele quem liderou a equipa de médicos responsáveis pelo tratamento realizado pela Universidade College de Londres.
O paciente contraiu VIH/Sida em 2003 e, em 2012, foi diagnosticado com um linfoma de Hodgkin, um tipo de cancro que afeta o sistema linfático. O transplante de medula curou-o das duas patologias.
Para quando uma cura global?
Ravindra Gupta é cauteloso. O investigador descreve o homem como "funcionalmente curado" e fala "em remissão" da doença, mas sublinha que "é demasiado cedo para o considerar curado", escreve a Reuters.
Por outro lado, o cientista frisa que o transplante de medula não significa necessariamente uma cura para o VIH/Sida, uma vez que este não pode ser alargado a todos os doentes infetados com a doença, uma vez que tem riscos, é doloroso e obriga a longas hospitalizações.
Por outro lado, a mutação do gene que torna uma pessoa resistente ao VIH/Sida não é frequente, diz Ravindra Gupta citado pela Associated Press.
Ainda assim, o investigador sugere que se caminha na direção de uma solução para aquela doença sexualmente transmissível.
O homem - que não é identificado - é conhecido apenas como o "paciente de Londres", numa clara analogia ao caso de Timothy Brown, que ficou conhecido como o paciente de Berlim.
Timothy Brown é um norte-americano que se submeteu em 2007, na Alemanha, a um transplante de medula óssea para tratar uma leucemia. O doente era seropositivo, mas o transplante proveniente de um dador resistente ao vírus curou-o da infeção.
O vírus da Sida já matou mais de 35 milhões de pessoas desde que foi descoberto. Há atualmente 37 milhões de pessoas infetados com VIH em todo o mundo.
Como se transmite?
O VIH destrói as células do sistema imunitário do indivíduo infetado, tornando o organismo vulnerável a infeções e tumores, com elevada mortalidade. O estado avançado da infeção, com perda acentuada das células protetoras do sistema imunitário (linfócitos TCD4+) é classificado como de síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA).
O VIH encontra-se principalmente no sangue, no sémen e nos fluídos vaginais das pessoas infetadas. A transmissão do vírus só pode ocorrer se estes fluídos corporais entrarem diretamente em contacto com o corpo de outra pessoa, pela via sexual e/ou sanguínea.
Uma mulher seropositiva pode também transmitir o vírus ao seu bebé durante a gravidez, parto ou aleitamento.
São conhecidos dois tipos de VIH, o 1 e o 2, que têm características próprias, incluindo a sua virulência para o sistema imunitário (VIH-1 é mais agressivo que o VIH-2). VIH-1 é o responsável pela pandemia a nível mundial, enquanto VIH-2 está envolvido na epidemia localizada em países da África Ocidental e por um número reduzido de casos fora de África, que viveram ou tiveram ligações com aquela região africana.
Portugal é o país da Europa com maior número de casos de infeção por VIH-2, devido às relações históricas com alguns destes países (Cabo Verde e Guiné-Bissau) do continente africano.
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