Origem
A nosografia (classificação metódica das doenças) das perturbações psiquiátricas é relativamente complexa e tem sofrido sucessivas alterações mediante as novas descobertas científicas. Os primeiros trabalhos relativamente a esta síndrome remontam aos anos 40, quando um médico austríaco, Hans Asperger, descreveu quatro casos de jovens surpreendentemente semelhantes entre si: eram desajeitados, com dificuldades nas competências sociais e com interesses extremamente restritos.
Contudo, a designação Síndrome de Asperger surgiu apenas na década de 80, após a publicação de vários casos clínicos similares pela psiquiatra britânica Lorna Wing, em homenagem ao trabalho desenvolvido por Hans. Em 2013, esta síndrome e outros tipos de autismo anteriormente classificados em separado (como o autismo infantil ou autismo atípico) foram agrupados num único diagnóstico designado atualmente por Perturbação do Espectro do Autismo (PEA).
Características
A PEA é definida por dificuldades nas competências de comunicação e de interação social, e por padrões de comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos. A maioria destes sinais são evidentes no período do desenvolvimento, principalmente no segundo ano de vida das crianças, e as manifestações da perturbação variam dependendo da gravidade do quadro, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica, daí a designação de espectro.
Pessoas com Síndrome de Asperger são, à luz da nova nomenclatura, diagnosticadas com PEA porque apresentam os critérios nucleares, nomeadamente as dificuldades nas interações sociais (como mostrar pouca ou nenhuma iniciativa para interagir, não partilhar emoções ou ter dificuldade no contacto visual) e comportamentos ou interesses restritivos (como estereotipias, utilização/alinhamento repetitivo de determinados objetos ou resistência à mudança de rotinas) mas, por norma, não apresentam défices na linguagem formal (ou seja, na capacidade de utilizar vocabulário/gramática para comunicar) nem do desenvolvimento cognitivo (ou seja, na aquisição de conhecimentos). Para além destas características, é frequente apresentarem alterações motoras, como movimentos descoordenados ou uma marcha atípica.
Diagnóstico
Como a apresentação clínica é muito variável (quer pelas características do próprio, quer pelas características do meio envolvente), fazer o diagnóstico pode ser uma tarefa difícil. A avaliação deve envolver uma equipa multidisciplinar, por norma coordenada por um psiquiatra da infância e adolescência ou por um pediatra do neurodesenvolvimento. O diagnóstico é clínico, baseado na observação e na colheita de dados com os pais (e se possível com as escolas), com enfoque na evolução da sintomatologia nas diferentes etapas do desenvolvimento.
Tratamento
A deteção precoce é fundamental para que a intervenção comece o mais rapidamente possível, nomeadamente a estimulação das competências sociais, visando um melhor prognóstico. Embora não exista nenhum tratamento farmacológico dirigido à sintomatologia nuclear da PEA, esta pode ser importante nos casos que apresentam comorbilidades psiquiátricas, como alterações comportamentais graves, perturbações do sono, ansiedade, depressão, ou outras condições médicas. Por estes motivos é importante que os cuidadores estejam sempre atentos às mudanças de comportamentos.
Um artigo da médica Mara Costa de Sousa, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência no Hospital CUF Sintra.
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