Os vírus mais frequentemente identificados são os enterovírus e, nos últimos anos, os avanços nas técnicas de diagnóstico, nas quais se inclui a biologia molecular, têm permitido identificar mais facilmente outros vírus, tais como parechovírus. No que respeita às bactérias que causam meningite, estas variam com a idade: no período neonatal (primeiro mês de vida) predominam Streptococcus do grupo B, E. coli e outras bactérias gram negativas, e Listeria monocytogenes; depois, passam a ser mais comuns o pneumococo e meningococo.
Em termos de incidência a meningite varia com a idade, sendo mais frequente nos primeiros anos de vida, e varia também com as regiões do mundo e com o acesso às vacinas. Esta incidência reduziu muito ao longo das últimas décadas após a introdução de várias vacinas, nas quais se incluem vacinas contra Haemophilus influenzae tipo b, meningococo C, pneumococo (7 valente, 10 valente, 13 valente) e mais recentemente contra meningococo ACWY e B. Neste ano de pandemia por SARS-CoV-2 houve também uma redução importante de algumas doenças infeciosas, provavelmente, ou pelo menos em parte, devido às medidas de confinamento e de distanciamento físico, à utilização de máscaras e higienização frequente das mãos. No entanto, isto não significa que estas doenças tenham desaparecido.
Mas como é que se manifesta?
As manifestações clínicas mais frequentes são febre, cefaleias, irritabilidade, vómitos, prostração ou sonolência, gemido, rigidez da nuca e convulsões. Em algumas situações estão presentes lesões na pele (exantema). Contudo, é importante reforçar que nem sempre estão presentes todos estes sinais e sintomas.
A meningite causada pelo meningococo associa-se frequentemente a sépsis (infeção generalizada com envolvimento de vários órgãos). As manifestações clínicas iniciais podem ser inespecíficas, tais como febre, irritabilidade, prostração (sonolência), às quais rapidamente se juntam manchas na pele, de cor rósea-vermelha, evoluindo para cor roxa. Muitas vezes apresentam pés e mãos frias. Pode haver vómitos. As crianças mais velhas podem queixar-se de dores de cabeça e apresentar dificuldade em fletir a nuca. Qualquer dos tipos de meningococo pode causar quadros graves e letais. Por vezes, dentro de um grupo, surgem estirpes mais agressivas, causando quadros de maior gravidade e sendo responsáveis por mortalidade mais elevada.
Da gravidade à importância do diagnóstico
A meningite por enterovírus habitualmente tem resolução rápida e bom prognóstico. Mas há outros vírus, como por exemplo o vírus herpes, que pode causar meningoencefalite, habitualmente com gravidade e elevada percentagem de sequelas.
As meningites causadas por bactérias apresentam-se muitas vezes com quadros clínicos graves e, em alguns casos, podem levar à morte ou deixar sequelas nomeadamente de neurodesenvolvimento e surdez.
Neste sentido, os principais desafios com a meningite passam pela importância de estabelecer o diagnóstico o mais precocemente possível, de modo que as equipas médicas possam iniciar a terapêutica antibiótica mais adequada, quando necessária, tendo em conta as resistências aos antimicrobianos que são um enorme problema a nível mundial. Afinal, a meningite é uma emergência médica. O diagnóstico e tratamento atempados e adequados são muito importantes, mas, mesmo quando tal acontece, pode associar-se a mortalidade e a sequelas graves.
O papel da vacinação
A maioria das meningites ocorre nos primeiros anos de vida, em particular no primeiro ano de vida, pelo que haverá benefício em vacinar o mais cedo possível. No entanto, crianças mais velhas também poderão ser vacinadas. A maior parte das vacinas estão licenciadas para administração a partir dos 2 meses de idade.
A prevenção de uma parte das meningites pode ser feita através da vacinação, mas não há vacinas disponíveis para todos os microrganismos que podem causar meningite. No Programa Nacional de Vacinação (PNV) português estão incluídas vacinas que protegem contra algumas meningites. São exemplos as vacinas contra Haemophilus influenzae tipo b, pneumococo e meningococo dos grupos B e C.
Há vacinas que protegem contra meningite causada por outros microrganismos que ainda não estão incluídas no PNV, tais como a vacina contra meningococo dos grupos A, W e Y. Para facilitar o processo de informação e quais as vacinas recomendadas, a Comissão de Vacinas da SIP-SPP (Secção de Infeciologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pneumologia) elabora periodicamente recomendações sobre as vacinas disponíveis, mas ainda não incluídas em PNV.
Um artigo da Direção da Sociedade de Infeciologia Pediátrica, adaptado de: https://www.sip-spp.pt/publicacoes/noticias/junte-se-ao-dia-mundial-da-meningite/, com a participação dos médicos: Dra. Fernanda Rodrigues (Presidente), Dra. Catarina Gouveia, Dra. Amélia Cavaco, Dra. Ana Brett e Dra. Manuela Costa Alves.
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