“A próxima mudança sazonal tem lugar no dia 31 de outubro e repito o que disse há seis meses, quando me fizeram pela última vez essa pergunta, quando repeti o que tinha dito seis meses antes também: a Comissão propôs o fim da mudança sazonal da hora em setembro de 2018 […] e esta recebeu o apoio do Parlamento Europeu (PE) em 2019 e a bola está agora com os Estados-membros, que têm de chegar a uma posição comum no Conselho”, disse, na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia o porta-voz para a Saúde Pública, Stefan de Keersmaecker, respondendo a uma questão sobre o tema.

A proposta para abolir a mudança da hora foi apresentada em 2018 pelo executivo comunitário, mas a discussão ficou bloqueada na divergência no Conselho da UE.

Os 27 Estados-membros, a quem cabe decidir sobre o assunto, não chegaram ainda a uma posição comum sobre o tema, sendo que o primeiro-ministro, António Costa, anunciou, ainda em 2018, que, com base numa recomendação do relatório realizado pelo Observatório Astronómico de Lisboa, de agosto de 2018, que as alterações sazonais são para manter.

A proposta foi apresentada pela Comissão Europeia em 2018 — na sequência de uma consulta pública efetuada em todos os Estados-membros em que a esmagadora maioria dos inquiridos (84%) se mostrou a favor do fim das mudanças de horas sazonais, e na sequência, também, de uma resolução do PE.

Face ao impasse no Conselho, no domingo, 31 de outubro, a hora muda uma vez mais e os ponteiros do relógio vão ser atrasados 60 minutos - das duas para a uma da manhã - entrando em vigor a hora de Inverno.

Mudança da hora pode ser “bastante nociva” para a saúde

A mudança da hora duas vezes por ano pode ter consequências “bastante nocivas” para a saúde, afetando o sono e o regular funcionamento dos sistemas do corpo humano, concluiu um estudo recente.

O consenso é assinado por nove autores, mas foi coordenado por Miguel Meira e Cruz, que é também o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono.

Em declarações à agência Lusa, o especialista apontou que “a grande conclusão é que a mudança da hora deve acabar de facto”, defendendo que “não faz sentido que continue”.

Miguel Meira e Cruz considerou que os argumentos a favor da mudança horária, “que são sobretudo aspetos financeiros e económicos, não são suficientes para contrapor aqueles que parecem ser os problemas que a saúde pode enfrentar com esta atitude”.

“Mudar a hora duas vezes por ano pode ser, de facto, bastante nocivo sobretudo para alguns grupos populacionais”, por exemplo, pessoas vulneráveis em relação ao sono, pessoas imunodeprimidas ou pessoas mais velhas.

O coordenador do estudo salientou que “o principal drama aqui não parece ser exatamente a mudança de horário, mas a agressão que se faz duas vezes por ano” nos ritmos biológicos do organismo.

Explicando que o corpo humano tem “milhares de ritmos”, o especialista referiu que existe a necessidade de que toda a vida no organismo “se sincronize”.

“Quando há alguma instabilidade num relógio biológico que nós temos central, no cérebro, há uma instabilidade nesse maestro, que é o principal relógio biológico, de orquestrar todos os outros relógios biológicos”, disse, acrescentando que a alteração da hora “pode levar a consequências que podem, em algumas circunstâncias, ser dramáticas, de facto”.

O coordenador da investigação apontou que a discussão da mudança da hora está ligada “essencialmente ao sono”, mas que estas alterações podem ter efeitos, por exemplo, ao nível “da predisposição para o cancro” ou da frequência com que ocorrem episódios cardíacos agudos, como os enfartes.

“A agressão maior não é exatamente nós mudarmos a hora, porque adaptar-nos-íamos, uns mais depressa e outros menos depressa. A questão é que duas vezes por ano ora andamos para a frente, ora andamos para trás, e exigimos que os nossos genes, que são coisas que demoram muitos, muitos anos a adaptar, se adaptem imediatamente. E isso não acontece”, indicou.

Assim, “seguramente era menos perigoso se mudasse uma vez de dois em dois anos”, ou até mais espaçadamente, advogou, afirmando que o desejável seria a permanência “no horário de inverno, porque é aquele que mais se coaduna com o horário real do sol”.

Ainda assim, Miguel Meira e Cruz referiu que tudo dependerá da posição geográfica de cada país, porque a “mudança de horário não é tão grave em alguns países do que noutros”.