Margarida Tavares, diretora do Programa Prioritário para a área das Infeções Sexualmente Transmissíveis e da Infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana da Direção-Geral da Saúde (DGS), reconhece que o enfraquecimento da perceção associada à ameaça mortal do VIH/Sida pode estar a prejudicar o recurso ao preservativo em Portugal.

Em declarações à TSF, a especialista diz que "a perceção do risco mudou" porque "a grande ameaça era a infeção VIH", que pode estar esbatida pelos programas preventivos contra a infeção, como a profilaxia pré-exposição, e pelo menor risco de morte associado à doença.

"O uso de preservativo continua a ter todo o lugar porque existem outras infeções sexualmente transmissíveis, e essas infeções não são prevenidas dessa forma", reforça a médica que é também coordenadora do Internamento e da Unidade de Doenças Infeciosas Emergentes do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto.

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Segundo a especialista, apesar de existir a crença de que as outras infeções não VIH são menos graves, "também têm as suas consequências e também são muito importantes em termos de carga de doença e de risco para a saúde", sendo por isso necessárias de prevenir, cita a rádio.

O preservativo continua a ser essencial na prevenção do VIH e de doenças como a sífilis, clamídia, gonorreia e hepatites. Em 2021, foram distribuídos cerca de 4 milhões de preservativos masculinos e femininos e 400 mil embalagens de gel lubrificante, através de organizações não-governamentais, estabelecimentos de ensino, centros de saúde, hospitais e estabelecimentos prisionais pelo programa de distribuição gratuita de materiais preventivos e informativos, segundo a DGS.

"É fulcral continuar a apostar no acesso gratuito e facilitado aos meios preventivos, como os preservativos, mesmo em contexto de pandemia, pela sua elevada eficácia na prevenção de infeções sexualmente transmissíveis e de gravidezes não desejadas, bem como repensar novas formas de abordagem às populações alvo", defende a DGS.

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Mais de 2% da população portuguesa tinha clamídia ou sífilis

Cerca de 2,7% da população portuguesa com 18 ou mais anos está infetada por ‘chlamydia trachomatis’ e 2,4% tem sífilis, doenças sexualmente transmissíveis analisadas pela primeira vez no Inquérito Serológico Nacional (ISN) divulgado em 2017.

Os dados constam do ISN 2015-2016, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e que, pela primeira vez, incluiu o estudo da prevalência de Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST). O inquérito contou com a participação de 4.866 pessoas e vem atualizar o último estudo, relativo a 2001-2002.

O ISN 2015-16 apurou uma prevalência de 2,7% para a ‘chlamydia trachomatis’ (vulgarmente conhecida como clamídia), o que “está em consonância com as estimativas europeias de prevalência para a faixa etária avaliada neste estudo (18 a 35 anos)”, segundo os autores.

A seroprevalência para a bactéria ‘treponema pallidum’, que causa a sífilis, foi de 2,4%. Em relação a esta IST, o inquérito observou “valores mais elevados nas idades mais avançadas, que poderão ser explicados pela elevada incidência da sífilis em Portugal nas décadas de 60 e 70 do século passado”.

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