A obesidade é uma doença, há muitos anos reconhecida como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e faz parte da chamada síndrome metabólica, que origina inúmeras complicações perigosas que reduzem a expectativa e a qualidade de vida da pessoa.
Muitos conceitos errados contribuem para a discriminação da pessoa com obesidade. Ingenuamente, para o conhecimento geral e até de alguns médicos, basta a pessoa “fechar a boca” e o problema está corrigido. A obesidade, doença instalada para toda a vida, não pode nem deve ser vista com esta simplicidade, uma vez que o doente está a lutar constantemente contra a sua própria biologia.
Quando o doente consegue uma vitória com a perda de 5 ou 10 quilos, o organismo, na tentativa de evitar isso, “economiza” a energia, dificultando ou impossibilitando a perda de peso e retoma rapidamente os valores anteriores. Muitas das alterações do apetite e a acumulação de gordura são de origem genética, mesmo quando os parentes mais próximos não têm obesidade.
Também não é correto alegar que o tratamento de um doente com obesidade é uma questão cosmética. A obesidade é uma doença séria que origina várias complicações, como a diabetes, a apneia do sono e o aumento de gordura no sangue, entre outras. É induzida também por uma inflamação crónica da gordura, que indica ao cérebro que tem que produzir mais gordura.
Ao mesmo tempo, uma hormona, a Grelina, produzida no estômago da pessoa, lança alarmes de fome ao cérebro, produzindo uma falta de saciedade constante, que é responsável por uma necessidade de alimentar-se permanentemente. Daí o constante efeito “iô-iô”, com o rápido regresso do peso perdido. Após um certo ponto, qualquer dieta, atividade física ou alteração comportamental não conseguem reduzir o peso e acumulam-se as doenças associadas.
Para combater esta verdadeira doença, muitas vezes, é necessário algo mais do que o antigo tratamento conservador, baseado na tríade ”dieta, atividade física e mudança do comportamento”. A obesidade severa, na maioria dos casos, necessita de um tratamento certeiro, que modifica o círculo vicioso das hormonas e a perda da saciedade. A antiga banda gástrica, já abandonada, não produzia a alteração hormonal necessária, nem uma saciedade efetiva, apenas bloqueava o fluxo da alimentação, deixando o doente insatisfeito, com regresso do peso anterior. As cirurgias atuais são sempre minimamente invasivas, com pequenas incisões, rápida recuperação para um regresso a casa com poucas complicações. Atuam como uma cirurgia metabólica, alterando o comportamento alimentar.
Um doente com uma obesidade severa, segundo alguns estudos de avaliação com 15 anos de observação, tem uma probabilidade de mortalidade nove vezes maior que um doente operado através de uma cirurgia bariátrica. A expectativa de vida é aumentada quando o tratamento da obesidade é efectivo.
Recentemente, foram desenvolvidos tratamentos efectivos, que não envolvem cirurgia: as chamadas terapias endoscópicas. O Endosleeve - ou Gastroplastia Endoscópica Apollo - é um novo método, em que o tratamento é realizado através da boca. O método possibilita a redução do estômago sem cicatrizes visíveis. Não substitui uma cirurgia bariátrica quando esta está indicada, mas pode e deve ser utilizado em situações bem definidas, como a obesidade mais leve ou quando existe contra-indicação para a realização de uma cirurgia. O acompanhamento multidisciplinar é essencial para o tratamento ser eficaz. Outros métodos endoscópicos, menos invasivos, vão estar disponíveis a curto prazo, com o desenvolvimento da medicina.
Em suma, ao contrário do que acontecia há uma década, em que as opções eram poucas, temos hoje um amplo leque de diferentes tratamentos para a obesidade, que podem ser utilizados de acordo com os problemas específicos da pessoa, o grau e as doenças associadas, com uma terapia adequada às suas necessidades. Combatendo também os falsos conceitos e os estigmas das pessoas com obesidade, temos a oportunidade de ajudar muitas pessoas a poderem regressar novamente ao convívio, à valorização social e à merecida felicidade.
Um artigo de Ricardo Zorrón, Coordenador do Centro de Inovação em Cirurgia e Obesidade no Hospital CUF Descobertas.
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