Será que as pessoas diabéticas podem fazer dieta? Sim, não só podem como devem, mas seguindo regras! "80% dos diabéticos tem excesso de peso", refere José Camolas, nutricionista no Serviço de Endocrinologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor auxiliar convidado do Laboratório de Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e do Instituto Universitário Egas Moniz, em Lisboa, num artigo publicado no Diabetes 365º.

Manter um peso saudável é uma das formas de evitar o agravamento da doença, assim como "um bom controlo da glicemia, do colesterol, da pressão arterial", afirma o especialista. No entanto, como refere o projeto multiplataforma de literacia de saúde que pretende auxiliar os portugueses a lidar melhor com esta patologia, é necessário fazê-lo da forma mais correta. "É preciso perder massa gorda e manter ou ganhar massa magra, o músculo", esclarece ainda o nutricionista, que desaconselha o recurso a diuréticos.

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Na realidade, esses produtos tendem a acelerar a diminuição de peso, mas os quilos que se perdem estão longe de representar uma melhoria da saúde dos diabéticos. "Não significa que se esteja a perder massa gorda e a melhorar o estado metabólico", sublinha José Camolas. O nutricionista aponta mesmo um exemplo. "No caso de uma pessoa mais velha, com diabetes e já com algum compromisso da função renal, os rins vão ser prejudicados pelo diurético", adverte. "Ao não se perder peso da forma certa, pode-se comprometer mais a diabetes", adverte ainda o especialista. A toma de um antidiabético oral também deve ser equacionada.

Estes fármacos melhoram a sensibilidade à insulina. "Neste caso, pode ser suficiente fazer a distribuição relativamente homogénea do consumo de hidratos de carbono ao longo do dia, para que haja uma conciliação entre a capacidade de se ainda produzir a própria insulina e o efeito do medicamento, de modo a evitar hipoglicemias ou hiperglicemias", sublinha José Camolas. Caso o doente já esteja num estádio em que tenha necessidade de recorrer à toma de insulina, isso também deve ser considerado.

"Se [o diabético] usar uma bomba infusora de insulina, poderá fazer-se uma restrição menor de hidratos de carbono durante as refeições, porque a bomba pode estar programada para libertar insulina basal [libertação constante de pequenas quantidades ao longo do dia] e basta ajustar a quantidade de insulina [bolus] em proporção aos hidratos de carbono que se vai ingerir", garante. "A dieta deve ser adaptada caso a caso, não havendo, uma dieta específica de perda de peso para pessoas com diabetes", refere.

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"Temos de ter um cuidado particular com estratégias de redução de peso menos bem estudadas, como é o caso dos jejuns alternados, das restrições mais significativas de hidratos de carbono ou até mesmo das dietas cetogénicas, dado ainda haver pouca evidência científica acerca delas ou a que temos não ser suficientemente robusta para podermos recomendar estes métodos", avisa José Camolas. "Tem de haver uma grande componente de legumes e hortícolas, uma proporção substancial de fruta fresca, uma fatia considerável de leguminosas, incluindo o feijão, o grão e as ervilhas, bem como de cereais e tubérculos", aconselha ainda.

Adeqúe a ingestão de proteína às suas necessidades. "Uma criança, um adolescente ou um desportista pode ingerir um pouco acima do valor de referência, entre 0,8 a 1 grama por quilo de peso, por dia. Um diabético mais velho, com algum compromisso da função renal, não se deve ultrapassar os 0,8 gramas", avisa José Camola. "Na maioria dos adultos, não é necessário mais de 100 a 150 gramas de peixe ou de carne por dia", adverte. A ingestão de gorduras deve ser reduzida e os carboidratos de absorção lenta.