Os números das Nações Unidas não enganam. No início de 2018, o número de crianças obesas no mundo rondava os 41 milhões. Em 2000, eram 30 milhões. Na população adulta, o número e a evolução foram ainda superiores. "O crescimento foi mais rápido nos países que estão num patamar de desenvolvimento intermédio", sublinha Francesco Branca, um dos especialistas mundiais que tem analisado a evolução.
Um pouco por todo o mundo, são muitos os médicos que estão a recorrer a medicamentos para combater casos de obesidade em pessoas com excesso de peso. "Para que seja aprovado, um fármaco para o tratamento da obesidade tem de demonstrar eficácia na redução do peso de, no mínimo, 5%", disse à prevenir Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO).
"Assim como [tem de garantir] segurança para o doente, sobretudo do ponto de vista cardiovascular e psiquiátrico»", revela a especialista. Os que se seguem são os únicos medicamentos de prescrição médica aprovados, até então, para combater a obesidade.
"O tratamento farmacológico está indicado para obesos com IMC superior a 27 kg/m2 com doenças associadas ou com IMC superior a 30 kg/m2", esclarece ainda.
Os fármacos para emagrecer que os médicos estão a usar
O Orlistato, um fármaco que já existia no mercado, é um dos que têm vindo a ser mais prescritos. "Atua a nível gastrointestinal, promovendo a excreção de cerca de 30% da gordura ingerida através das fezes e, consequentemente, a perda de peso", elucida Paula Freitas. Tem, contudo, uma desvantagem. "Não é comparticipado. Atualmente é um medicamento de venda livre", explica.
Os resultados até agora obtidos nos testes que foram realizados ao longo dos últimos anos são promissores, como sublinha a especialista portuguesa. "Nos estudos realizados, os doentes [que tomaram o medicamento] perderam, em média, 6,9 quilos. A sua eficácia é mais reduzida em pessoas que fazem uma dieta com baixo teor de gordura", esclarece a presidente da SPEO.
O medicamento apenas atua na presença da gordura proveniente dos alimentos e, por isso, a sua toma deve ser feita a cada uma das três refeições principais. Os efeitos secundários também são conhecidos e, à semelhança de outros fármacos, não podem ser descurados. Pode causar alterações nos hábitos intestinais, tais como fezes gordurosas, devido à eliminação da gordura não digerida nas fezes.
Liraglutido, outro medicamento a considerar por quem pretende travar a obesidade, é uma das novidades no mercado. "É um fármaco de prescrição médica que atua sobretudo a nível do sistema nervoso central na redução do apetite e no aumento da saciedade. Também atua a nível gastrointestinal, diminuindo a sua motilidade, o que aumenta a saciedade", garante Paula Freitas.
"É um análogo do GLP-1, uma hormona produzida no intestino quando ingerimos alimentos e que atua reduzindo o apetite e que se encontra diminuída em obesos ou diabéticos", explica.
O medicamento não é comparticipado e custa cerca de 250 € por embalagem.
O preço a pagar para conseguir alcançar resultados que já se tornaram públicos.
"Permitiu perdas de peso na ordem dos 12 quilos e, em termos de percentagens, uma perda de 8% face ao peso inicial. 81% dos indivíduos mantiveram o peso perdido", afirma Paula Freitas. "Deve ser tomado na dose dos 3 miligramas e, para evitar a ocorrência de certos efeitos secundários [náusea, vómito e/ou diarreia, por exemplo], é feita uma escalada progressiva para que haja uma habituação do organismo", diz.
A cirurgia apenas como último recurso
Antes de ser submetido a cirurgia bariátrica, a Organização Mundial de Saúde (OMS), também ela preocupada com a obesidade crescente, determina que o doente deve tentar perder peso através de planos alimentares, atividade física, psicoterapia, mudança de hábitos e medicação durante pelo menos dois anos, como descrevemos anteriormente. Apenas quando nenhuma destas opções resulta, o doente é sinalizado para cirurgia.
"A cirurgia bariátrica, que permite uma redução do peso superior a 15% ou 20%, está indicada para doentes com um IMC superior a 35 kg/m2 com doenças associadas ou um IMC superior a 40 kg/m2", esclarece a presidente da SPEO. O tipo de cirurgia, que pode passar por uma banda gástrica, por um sleeve gástrico ou por um bypass gástrico, será determinado de acordo com o perfil clínico do doente.
Para assegurar a eficácia da cirurgia e alcançar os objetivos pretendidos inicialmente definidos, é fundamental o acompanhamento de uma equipa multidisciplinar, composta por uma pool de médicos, nutricionistas, cirurgiões e psicólogos, que irá avaliar o doente em todos estes aspetos e os seus hábitos diários, definindo quais deverá mudar, e estabelecer planos alimentares pré e pós-operatórios.
O doente necessita de acompanhamento ao longo de todo o processo, principalmente durante os primeiros três anos. Se quer vencer a obesidade, tem, no entanto, de saber que a perda de peso não é automática e muito menos imediata, como muitos pacientes desejariam. Esse é um dos fatores a ter em conta mas há vários outros, como alertam os especialistas e como poderá ler já de seguida.
1. Não existem milagres
"Uma intervenção de curto prazo, como tomar produtos de ervanária, medicamentos de prescrição livre, comprar produtos de televisão, não vai resolver um problema tão complexo como a obesidade", alerta Paula Freitas.
2. O tratamento é para sempre
"Sendo uma doença crónica, os obesos terão esta batalha para o resto da vida, fazendo uma alimentação equilibrada e exercício físico", sublinha a presidente da SPEO.
3. Pode haver reganho de peso
"Fomos feitos para a manutenção energética e não para a perda de energia. Como tal, mesmo após o tratamento, os doentes obesos terão sempre tendência para o reganho, sendo fundamental a modificação dos seus comportamentos e a adoção de hábitos saudáveis", acrescenta ainda.
4. Não há resultados instantâneos
"É fundamental que não tenha metas irrealistas. Após uma vida inteira de hábitos desregrados, há uma série de obstáculos que as pessoas terão de ultrapassar, não sendo possível obter resultados com um tratamento de curto prazo", reitera a especialista.
5. Há tratamentos que resultam
"Por vezes as pessoas sentem-se desmotivadas devido ao insucesso que tiveram em tratamentos anteriores. No entanto, é importante que tenham em consideração novas propostas de terapêutica e que trabalhem no sentido de tentar resolver a obesidade", refere a presidente da SPEO.
6. Tem de haver acompanhamento psicológico
"O acompanhamento psicológico é feito sempre que um doente esteja sinalizado para tal. A nível hospitalar, o acompanhamento psicológico está indicado para os doentes submetidos a cirurgia bariátrica, antes e após a intervenção. Além disso, também deve ser feito no casos de indivíduos com compulsão alimentar", explica Paula Freitas.
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