O problema do sal está, não apenas na quantidade mas, também, na qualidade. O sal comum que se vende nos supermercados tem na sua composição uma série de conservantes, anti humectantes. O verdadeiro sal, composto principalmente por cloreto de sódio e iões, é essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta. No ser humano ajuda a regular a quantidade de água no organismo.
O sal foi, em tempos, precioso. Chegou a ser usado como moeda de troca, dando origem à palavra salário. Era tão importante que se construíam fortalezas para guardar e proteger as salinas. Em Portugal, as salinas de mar mais importantes são em Aveiro, no Algarve e no Samouco. Em terra, temos as salinas de Rio Maior, uma das mais conhecidas.
Temos no mercado muitas opções de sal saudável. O sal grosso não refinado, o sal marinho, o sal gema, a flor de sal e o sal dos Himalaias são apenas alguns exemplos. O sal de boa qualidade é mais caro mas podemos e devemos reduzir a quantidade se introduzirmos nos nossos pratos algumas plantas salgadas ou fortemente aromáticas, como a salicórnia, o funcho-marítimo ou ainda o tomilho-bela-luz.
1. Funcho-marítimo
Batizada Crithumum maritimum pelos cientistas, esta umbelífera ou apiácea também é conhecida por perrexil-do-mar, funcho-marinho, funcho-do-mar ou bacila. Esta planta é muito comum entre os rochedos da costa portuguesa. A sua raiz consegue penetrar nas mais pequenas fendas rochosas e, por vezes, chega a atingir os cinco metros de comprimento. Necessita de sal e da brisa húmida do clima marítimo mediterrânico ou oceânico.
As suas folhas carnudas, espessas e brilhantes são usadas para fins culinários e medicinais. Recomenda-se a ingestão das folhas cruas para melhor beneficiar da sua ação aperitiva, tónica e antiescorbútica. Pode ainda macerá-las em vinagre num frasco esterilizado, obtendo assim uns deliciosos picles.
Pode adicionar o funcho-marítimo em saladas, sandes e sopas. Esta planta aromática tem um sabor semelhante à cenoura crua com sal. Para conseguir um efeito depurativo e diurético, é mais eficaz uma infusão da planta fresca. Rico em sais minerais e em vitamina C, é muito aromático. Na Ilha do Pico, nos Açores, é tradição provar-se a primeira água-pé acompanhada de picles de perrexil-do-mar.
2. Tomilho
O Thymus mastichiana, uma lamiáceae, é outra planta aromática que deve considerar. Em Portugal, temos o privilégio de poder usufruir de alguns tomilhos endémicos e autóctones. Um deles é o tomilho-bela-luz, também conhecido por sal-purinho por, em tempos, se achar que poderia substituir o sal. É muito utilizado, portanto, na culinária. Na zona de Mértola, dão-lhe o nome de erva-ursa e usam-no em infusões.
Utilizam-no para tratar tudo e mais alguma coisa, desde gripes, febres, tosse, infeções da garganta, dores menstruais, infeções urinárias, hemorroidas, sistema linfático, sistema nervoso, problemas digestivos e por aí fora… De facto, este tomilho, tal como todos os outros, apresenta propriedades fortemente antisséticas, antifúngicas e antibacterianas.
Tal como todos os outros Thymus, é indicado no tratamento de pé de atleta e de fungos nas unhas. Utilizo-o também em forma de óleo essencial, colocando uma ou duas gotas num litro de água que vou bebendo ao longo do dia. Poderiam também adicionar aqui uma outra planta, o Rumex indurato, cujas folhas são muito utilizadas em saladas pelo seu forte sabor ácido, avinagrado.
Esta é muito conhecida na região de Trás-os-Montes, onde os habitantes locais, sobretudo os das gerações mais antigas, lhe chamam erva vinagreira. As plantas ou ervas silvestres, mais uma vez, demonstram a grande importância que têm e sempre tiveram na alimentação do ser humano, sobretudo nas regiões agrícolas e nas regiões mais remotas em tempos que já lá vão.
3. Salicórnia
A Salicornia europeae, uma amaranthácea, está em voga. A salicórnia é uma planta halófita, adjetivo que se usa para definir as plantas bem adaptadas à salinidade. Encontra-se em salinas e noutros locais salgados, pois consegue tolerar altas percentagens (até cerca de 15 gramas) de cloreto de sódio por litro, o equivalente a metade da concentração da água do mar.
Essas plantas absorvem o cloreto de sódio em altas taxas, acumulando-o nas folhas. A salicórnia tem vindo a conquistar um lugar de destaque nas ementas de alguns restaurantes e na cozinha de muita gente. Recomenda-se, sobretudo, em dietas para hipertensos, sendo um excelente substituto do sal. Pode comer-se crua ou a acompanhar pratos de legumes, peixes ou mariscos.
Em inglês, tem o nome de samphire ou marsh samphire, o que pode originar alguma confusão com outra planta, a rock samphire, que em português tem o nome de funcho-marítimo. A salicórnia é rica em vitaminas, sais minerais e ácidos gordos, especialmente nas sementes. Colhe-se no início da primavera quando ainda está tenra. Pode usar-se para fazer um picle salgado. Já se encontra à venda em muitas lojas.
Texto: Fernanda Botelho
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