Quando os nossos antepassados viviam nas cavernas, a sobrevivência da espécie dependia de uma especialização de tarefas entre os géneros. Os homens caçavam em grupo e as mulheres recolhiam alimentos nas imediações e cuidavam da prole. Pode ter sido esta estrita divisão de ocupações que condicionou algumas diferenças biológicas entre homens e mulheres... Eles têm força corporal para competir com outros, elas usam a linguagem para alcançar objetivos, argumentar e persuadir.

O urologista Nuno Monteiro Pereira indica alguns comportamentos masculinos atuais que afetam a saúde deles e a nossa, enquanto que a psiquiatra Maria Antónia Frasquilho sugere estratégias que podem ajudar. Veja o que pode fazer para enfrentar o problema e saiba qual a melhor forma de motivar o seu parceiro para minorar a situação:

1. Não ir ao médico

"Por questões de indisciplina e dificuldades em encarar a realidade, os homens não vão ao médico até aos 50 anos, altura em que consideram a necessidade de uma revisão, como se fossem um carro com 50 mil quilómetros", refere Nuno Monteiro Pereira. "Nessa idade, a saúde da próstata e a disfunção erétil são as principais preocupações masculinas", conclui. Apesar de ser um exclusivo dos homens, também afeta as mulheres.

"Os homens têm dificuldade em assumir a fragilidade humana até que os primeiros sinais de falência surjam ou que, na meia idade, percebam que a vida tem um fim e as doenças podem apressá-lo. O clima familiar pode ficar mais tenso devido às preocupações que motivam", analisa Maria Antónia Frasquilho.

Apelar ao bom senso e responsabilidade do seu parceiro é uma das melhores formas de combater este comportamento. "A boa ou má saúde é cada vez mais uma escolha pessoal", refere ainda a especialista. "Quanto mais precoce o diagnóstico médico e mais rápido o tratamento, mais longevidade e melhor qualidade de vida", aconselha a psiquiatra.

2. Ressonar

Acontece a 40 por cento dos homens a partir dos 30 anos e a 30 por cento das mulheres após a menopausa. Ter excesso de peso, tomar medicação para dormir, dormir de barriga para cima, respirar pela boca e consumir álcool podem agravar o problema. "Impossibilidade de conciliar o sono, péssima qualidade do mesmo e irritação são impactos habituais na pessoa que não ressona. Um incómodo que atinge até quem dorme em quartos contíguos", refere a psiquiatra.

Existem muitas soluções, na maioria simples, que pode adotar para contrariar esta situação. A especialista aconselha que lhe "demonstre que a procura de uma solução será um bem comum". "Refira um caso conhecido em que o sucesso foi conseguido e ponha o seu marido a falar com essa pessoa", avança ainda.

Para Maria Antónia Frasquilho, a melhor estratégia é só uma. "Como muitos homens duvidam que ressonam faça uma gravação e confronte-o com a evidência. Não critique, mas incentive o comprometimento com a ida ao médico", sugere a especialista.

3. Não partilhar sentimentos

"Os homens não gostam de partilhar as suas ideias, nem os seus pensamentos ou emoções. Quando são incomodados com perguntas metem-se na sua concha e, quanto mais insistirem com eles, menos falarão", comenta Nuno Monteiro Pereira. "Quando a comunicação não é fluida, quando só se fala das funcionalidades do dia a dia e a partilha emocional é suprimida instala-se a frustração, o stresse, o desencanto e até a depressão", afirma a psiquiatra.

"Seja compreensiva. neste caso, o peso da biologia é forte", aconselha a especialista. "Não desista de conversar, mas sem pressionar demasiado. Seja agradável e exprima de forma adequada as suas emoções e necessidades. Isto motiva a proximidade e a partilha emocional", sugere ainda.

"Mudar comportamentos arreigados é um processo de longa duração e pode ser necessária a intervenção de um perito. Os especialistas de saúde mental [psiquiatras e psicólogos] são a escolha acertada", refere também a especialista.

4. Comer muita gordura

"A maioria dos homens não se preocupa muito com o aspeto ou a saúde do próprio corpo e deixa-se engordar até apanhar um susto a nível cardíaco e passar a ser mais disciplinado", reconhece Nuno Monteiro Pereira. Uma barriga proeminente "não é nada atraente e representa um risco sério de doenças fatais ou muito incapacitantes que preocupam toda a família", refere, no entanto, a médica.

"Converse sobre mudanças de estilo de vida [dieta, exercício físico e menos álcool] e incentive-as em família. Disponibilize-se a marcar uma consulta e de o acompanhar ao médico", sugere ainda a especialista Maria Antónia Frasquilho. Não assuma, contudo, o papel de mãe do seu parceiro. "Numa relação entre adultos, as escolhas são individuais. Quando se transforma o outro em infantil e dependente, ele não leva nenhuma mudança a sério", alerta a psiquiatra.

5. Fumar

"O fumador viciado fuma em qualquer lado, no carro, em casa... Normalmente, há dois momentos em que os homens deixam de fumar, quando nascem os filhos e quando começam a surgir problemas de saúde em que o tabaco constitui um fator agravante", esclarece o urologista. "O tabaco é fonte de múltiplas doenças, mas o fumo passivo encurta ainda a vida dos que partilham o mesmo espaço", refere Maria Antónia Frasquilho.

"Acresce o odor a tabaco, que entranha tudo e todos", refere ainda a psiquiatra. A especialista aconselha que "utilize todos os argumentos quanto aos perigos diretos e indiretos do fumar, inclusive para a família". "Seja afirmativa e não permita que se fume em sua casa e muito menos no carro", recomenda ainda. "Arranje um mealheiro e desafie-o a depositar o dinheiro que gastaria com o tabaco", propõe Maria Antónia Frasquilho.

6. Não beber água

"O facto de 20 por cento da população feminina sofrer de infeções urinárias recorrentes faz com que as mulheres bebam mais água. por outro lado, o facto de eles não usarem mala, impede-os de andarem sempre com uma garrafa por perto", justifica Nuno Monteiro Pereira.

Para os convencer utilize argumentos como "a á água é fonte de saúde e de bem-estar. Até a pele fica mais tonificada". À refeição, coloque sempre um jarro com água na mesa e sirva de modelo. Prepare uma infusão para si e ofereça-lhe uma chávena.

7. Recusar o protetor solar

Conceitos enraizados associados à masculinidade podem levá-lo a não aplicar cosméticos. Esta é, contudo, a melhor forma de prevenir um melanoma quando há exposição solar. Dê o exemplo. Proteja-se e proteja os seus filhos e responsabilize também o seu companheiro pelo exemplo que dá aos filhos.

Nuno Monteiro Pereira reconhece que "não é fácil convencer um homem a mudar, mas todas as mulheres sabem que o conseguem por via de dois mecanismos, o massacre ou a sedução". O massacre pode durar meses ou anos e cria mais malestar, embora eles possam até fazer o que elas querem só para não as ouvirem. A sedução é mais eficaz porque a resposta é imediata.

Texto: Leonor Macedo com Nuno Monteiro Pereira (urologista) e Maria Antónia Frasquilho (psiquiatra)