Embora partilhem alguns sintomas e a sua forma de transmissão seja semelhante, a constipação e a gripe são duas doenças distintas que exigem precauções e tratamentos diferentes. Estar atento à sua manifestação poderá ser o suficiente para percebermos os sintomas, o que nos vai ajudar a tomar as medidas certas. «A constipação é uma doença mais limitada às vias respiratórias, apresentando-se, principalmente, com congestão nasal, secreção nasal abundante, dor de garganta e cabeça, lacrimejo e tosse», descreve Maria Luísa Carvalho.
«Se houver febre, esta é baixa», esclarece a especialista em medicina geral e familiar. Já a gripe aparece com outros sintomas mais generalizados, além das secreções nasais, lacrimejo, dores de garganta, expetoração e tosse. «A gripe surge com mal-estar geral, dores de cabeça, dores musculares e articulares generalizadas, e calafrios acompanhados de febre alta (de 39º C a 40º C)», sublinha a médica. Ambas são doenças virais.
No entanto, os vírus que estão na sua origem são diferentes. Existem mais de 200 vírus e sabe-se que aqueles que causam as constipações não provocam a gripe, nem vice-versa. A evolução e a duração de cada uma das situações clínicas também difere. No caso da constipação, «os sintomas podem começar pelo nariz e olhos e depois descer até aos brônquios e, embora muito variável, geralmente dura três a quatro dias (a tosse pode persistir várias semanas)», diz.
«Já a gripe aparece de forma brusca e pode durar até cinco ou oito dias», refere Maria Luísa Carvalho. A forma de transmissão e, por consequência, os cuidados preventivos são, contudo, semelhantes. «Quer a gripe quer a constipação transmitem-se através do contacto com secreções ou aerossois (o ar expirado) de pessoas infetadas», alerta Inês Gama, interna de medicina geral e familiar.
As semelhanças não se ficam, contudo, por aqui. «Ambas são especialmente contagiáveis em ambientes fechados e com muitas pessoas (escolas, infantários, lares e salas de espera de serviços de saúde são alguns exemplos), e em ambientes com fumadores, principalmente em casa de fumadores», acrescenta a especialista.
Como prevenir o contágio
A melhor forma de se manter a salvo de constipações e gripes é assegurar os cuidados certos, especialmente durante os meses epidémicos (de novembro a março). «A principal forma de evitar o contágio é lavar as mãos várias vezes ao dia e, quando doente, usar lenços descartáveis, não os reutilizando, bem como tapar a boca e o nariz ao espirrar ou tossir», recomenda Inês Gama.
No que toca ao estilo de vida, a evicção tabágica e alcóolica é uma das estratégias de prevenção mais importantes. Mas existem outras. «A adoção de um estilo de vida saudável, do qual faça parte uma alimentação variada, rica em frutas e vegetais, e a prática regular de exercício físico, são fatores que tornam o nosso sistema imunitário mais forte e, por isso, não evitanto completamente estas doenças, poderão reduzir a sua incidência e a sua gravidade», sublinha Inês Gama.
Na prevenção da gripe pode ainda efetuar a vacina. «Está indicada, sobretudo, em grupos de risco, nomeadamente pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, doentes institucionalizados, doentes crónicos (imunodeprimidos, pessoas com doenças respiratórias crónicas, asma e doença pulmonar obstrutiva crónica, insuficiência cardíaca, diabetes e doenças hepáticas)», refere a médica.
«As grávidas e os profissionais de saúde são, ainda, outros grupos que deverão ser vacinados», sublinha ainda Inês Gama. A vacinação deverá ser anual, pois a composição da vacina é alterada todos os anos, de modo a cobrir as estirpes de vírus mais prevalentes no ano corrente.
Veja na página seguinte: O que deve fazer se já estiver doente
O que fazer se já estiver doente?
O primeiro passo e o mais importante é tentar diminuir o contágio a outras pessoas. «Este é um cuidado de primordial importância em caso de convivência com crianças ou idosos», alerta Maria Luísa Carvalho. O tratamento de ambas as situações passa, sobretudo, pelo alívio dos sintomas. A especialista recomenda, nesses casos, a lavagem nasal com soro fisiológico e, se necessário, um descongestionante nasal tópico.
«Não existe evidência que a utilização de aerossois, corticoides nasais, antibióticos ou antihistamínicos orais seja vantajoso, podendo mesmo ser prejudicial, pelo que não devem ser utilizados. Só no caso da gripe, devido à febre, ao mal-estar geral e às dores, poderá ser utilizado o paracetamol. As grávidas não deverão tomar nenhum medicamento sem indicação médica», adverte Maria Luísa Carvalho.
Reforçar a ingestão de líquidos e aumentar o período de repouso são outras estratégias importantes para um tratamento mais rápido e eficaz. Em situações em que o período de doença se prolonga, sem melhoria ou com agravamento, por mais de uma semana, deverá consultar o seu médico assistente.
Prevenir e tratar na infância
As crianças são mais suscetíveis ao contágio. Não só porque o seu sistema imunitário é ainda imaturo, mas porque estão mais expostas aos vírus que se propagam rapidamente em ambiente escolar. No que toca à prevenção, todas as recomendações gerais se aplicam às crianças. A evicção do fumo de tabaco no ambiente em que as crianças vivem é, no entanto, um cuidado acrescido que não deve ser descurado, segundo a especialista.
«Este é um dos principais facilitadores da infeção viral respiratória na criança, incluindo as constipações, a gripe e a bronquiolite», explica. O aleitamento materno é outra medida de proteção. No caso de crianças que têm várias infeções respiratórias por ano, poderá fazer sentido a toma de vacinas orais com probióticos. Em crianças saudáveis, sem doenças crónicas, as estratégias a usar são as mesmas.
A lista inclui «tratamento sintomático, aumento da ingestão de líquidos, lavagem nasal, repouso e paracetamol como fármaco preferencial no tratamento da dor e febre», sintetiza Inês Gama. Há apenas dois cuidados excecionais a ter. «Os pais deverão ter uma atenção especial na administração dos fármacos. As doses utilizadas deverão ser inferiores e a medicação de crianças pequenas sem indicação médica deverá ser evitada», conclui Maria Luísa Carvalho.
Texto: Sofia Santos Cardoso
Comentários