De causas ainda desconhecidas, o cancro do rim pode desenvolver-se silenciosamente, sem revelar qualquer sintoma. Trata-se de uma doença pouco frequente, «mas habitualmente agressiva e pode ser fatal, se não for detectada precocemente», afirma José Santos Dias, médico urologista.

Cinquenta por cento dos tumores são detectados por acaso, na sequência de exames de rotina como a ecografia ou a TAC. Falamos do carcinoma das células renais, o tipo de tumor do rim mais frequente. Afecta duas vezes mais homens que mulheres e manifesta-se geralmente a partir dos 50 ou 60 anos. No homem, é o oitavo tumor mais comum.

Graças à evolução dos meios de diagnóstico de imagem, o tumor do rim passou a ser diagnosticado em fases mais precoces e as taxas de cura subiram para cerca de 90 por cento. Mesmo no caso dos tumores localmente agressivos, esta ronda os 60 a 70 por cento.

Actualmente, apenas 10 por cento dos tumores atingem a fase mais avançada da doença. «Sempre que há queixas não esclarecidas, como por exemplo,de uma dor ou desconforto, mesmo que seja abdominal e não na região do rim, é muito frequente a realização de uma ecografia e, cada vez mais, diagnosticam-se estes tumores incidentalmente», refere o especialista.

Os factores de risco

O que provoca o cancro do rim é algo que os cientistas ainda não conseguiram apurar. No entanto, há factores de risco que estão associados à doença. Sabe-se, por exemplo, que além do factor da hereditariedade, o tabagismo e a exposição a determinadas substâncias tóxicas em determinados ambientes profissionais, como por exemplo o amianto, o cádmio, alguns herbicidas, benzeno e certos solventes orgânicos, são factores importantes que aumentam a probabilidade de desenvolver cancro do rim.

A American Cancer Society aponta ainda outros factores como a obesidade, a hipertensão arterial e a doença renal. «Pessoas com doença renal avançada que precisam de ser submetidas a diálise [tratamento que remove as toxinas do corpo quando os rins não desempenham essa função], têm um risco maior de contrair cancro do rim», refere a entidade norte-americana.

Para o especialista José Santos Dias, «os factores genéticos são os mais
importantes. «Muitos doentes têm uma pré-disposição genética para
desenvolver este tipo de tumor que resulta, na maioria dos casos, de
mutações a nível genético. Algumas dessas mutações são hereditárias,
outras ocorrem por motivos ainda indefinidos», refere o urologista,
recomendando que «as pessoas com casos de cancro de rim ou de doenças
poliquísticas do rim na família devem fazer o exame de diagnóstico».

A
maioria das massas renais detectadas nas ecografias são benignas.
Tratam-se de quistos renais e encontram-se em 50 por cento da população
acima dos 50 anos. «Estes quistos requerem uma monitorização regular,
para vigiar a sua dimensão e a função renal», alerta José Santos Dias.
No entanto, ressalva que «a maior parte dos casos de cancro do rim não
tem outro tipo de doenças renais associadas». «Os contactos ambientais e
as mutações genéticas são os principais factores de risco», frisa o
especialista.

Sinais de alarme e prevenção

Actualmente,
os tumores do rim são normalmente assintomáticos e são detectados ainda
na fase inicial da doença. Uma minoria dos casos corresponde a estádios
mais avançados da doença e podem manifestar-se por presença de sangue
na urina, dor abdominal ou lombar, massa palpável, febre, anemia,
emagrecimento e falta de apetite.

A American Cancer Society recomenda  algumas medidas preventivas que pode adoptar no dia-a-dia:

  • O tabagismo é, segundo a American Cancer Society, uma das
    principais causas do cancro do rim. Parar de fumar pode reduzir o seu
    risco.

  • A obesidade e a hipertensão são outros factores de risco para o
    cancro de células renais. Mantenha um peso saudável, praticando
    exercício físico e escolhendo uma dieta rica em frutas e legumes.
  • Evite a exposição a substâncias tóxicas no local de trabalho.

O tratamento

«Inicialmente o tumor do rim era
diagnosticado numa fase muito avançada e havia pouco para oferecer»,
recorda o especialista José Santos Dias, referindo que «actualmente já é
possível realizar cirurgias mais conservadoras com taxas elevadas de
eficácia».

Além da cirurgia tradicional, chamada de nefrectomia
radical, em que se retira o rim afectado e todas as estruturas que o
envolvem, cirurgia a que ainda se recorre no tratamento de casos mais 
avançados, existem outras técnicas cirúrgicas como a nefrectomia
parcial, em que se retira a parte do rim afectada, e a tumorectomia, em
que se retira apenas o tumor. Estas técnicas são utilizadas em tumores
localizados e de pequena dimensão, que permitem manter o rim afectado e
assim conservar a sua função renal.

Outra das técnicas
disponíveis é a laparoscopia. «Esta é uma cirurgia aplicada em doentes
com tumores até uma determinada dimensão e que, por ser menos agressiva,
permite uma melhor recuperação dos doentes», explica José Santos Dias,
frisando que «actualmente a maior parte dos doentes já é operado com
esta técnica».

As técnicas «minimamente invasivas»

Outra
das evoluções foi o aparecimento de «técnicas minimamente invasivas»
como a crioterapia e a radiofrequência. Enquanto que a crioterapia
destrói o tumor através de um processo de congelação e descongelação, a
radiofrequência consiste na destruição das células tumorais através de
um aparelho que emite ondas de radiofrequência.

São técnicas
menos agressivas, no entanto, as taxas de eficácia são menores e «os
doentes têm que ser muito bem seleccionados», alerta o especialista,
explicando que «os tumores muito volumosos ou aqueles que estão situados
nas zonas mais internas do rim são dificilmente tratáveis por estas
técnicas».

Nas situações mais graves (por exemplo, no caso de
doentes com tumores metastizados, ou seja que invadiram outras zonas do
corpo), por vezes, a cirurgia não é suficiente sendo necessário recorrer
à terapêutica farmacológica complementar. Mas também esta evoluiu
significativamente nos últimos anos.

Neste quadros muito graves, segundo o especialista,  «graças a
estes novos medicamentos a sobrevida dos doentes aumentou
significativamente. Em alguns casos, mais avançados, mais graves, a
sobrevida passou de  um ano  para até dois anos». Com tumores
localizados, tratáveis, o prognóstico é muito favorável, em média 80 a
90 por cento.

Qual a melhor opção de cirurgia?

O
especialista José Santos Dias recomenda, sempre que for possível, optar
por uma cirurgia conservadora em que se retira apenas uma parte do rim
ou somente o tumor para conservar os nefrónios [estruturas do rim que
asseguram a função renal].

Sempre que possível deve ser
feita a cirurgia laparoscópica em vez da cirurgia clássica. O
especialista frisa ainda que «não compensa sair do país para se ser
operado» que «actualmente todas as técnicas cirúrgicas para tratar o
cancro do rim estão disponíveis em Portugal».

Outros tipos de cancro do rim

O
carcinoma das células renais, como já foi referido, é o tipo de cancro
do rim mais comum, sendo responsável por mais de 9 em cada 10 casos,
segundo a American Cancer Society. Existem, contudo, outros:

Carcinoma de células transicionais  Representam cerca de cinco a dez por cento dos cancros do rim. Desenvolvem-se na zona de ligação do rim com o uréter.

Tumor de Wilms
Este tipo de cancro é quase sempre detectado em crianças e é muito raro
em adultos. Corresponde a cinco por cento dos casos de cancro do rim.

Sarcoma renal Tipo de cancro do rim que se inicia no tecido conjuntivo do rim ou nos vasos sanguíneos.

Texto: Sofia Cardoso com José Santos Dias (médico urologista no Hospital da Luz e na Clínica do Homem e da Mulher).