As estatísticas não mentem e, apesar dos avanços médicos, a prevenção do cancro depende (e muito) de si. Minimize o risco!
Como em tudo na vida, quando o assunto é saúde há boas e más notícias.
Começamospela má. Infelizmente, não existem medidas que evitem o aparecimento do cancro da
mama.
No entanto, e esta é a boa notícia, «se o pudermos diagnosticar precocemente, as
opções terapêuticas e o prognóstico serão radicalmente diferentes», sublinha aconselha Luís Mestre, cirurgião geral. «Assim, há que efetuar a
observação e a palpação da mama, sempre na semana seguinte ao período menstrual ou
uma vez por mês nas mulheres pós menopausa, para podermos detetar alguma alteração», refere o especialista.
A principal forma de vigilância é a realização
periódica de uma mamografia, eventualmente complementada por uma ecografia
mamária. «Ambas permitem que se faça o diagnóstico de cancro da mama antes que seja
dado um sinal clínico», adianta o especialista.
O plano a seguir
Surgem cerca de 6 000 novos casos de cancro
da mama por ano, uma patologia que
afeta sobretudo o sexo feminino. «Setenta
a 80 por cento dos cancros são provocados
pelo nosso estilo de vida», adianta Vítor
Veloso, cirurgião geral e oncológico.
«O
aumento da esperança de vida, o tabaco, o
álcool, a luz solar, as radiações ionizantes,
determinados químicos e substâncias, uma
dieta pobre, a falta de exercício físico, a
obesidade são alguns dos fatores de risco do
cancro da mama», revela a Liga Portuguesa
Contra o Cancro.
Regra geral, uma mulher sem antecedentes
familiares de cancro da mama deverá
iniciar a sua vigilância imagiológica (que
inclui a mamografia e pode eventualmente
ser complementada pela ecografia mamária
consoante os casos) aos 40 anos e realizar
os exames de dois em dois anos até aos 50
anos. A partir dessa altura deverá realizá-los anualmente até aos 65 anos, idade após
a qual deverão ser feitos novamente de dois
em dois anos.
«No caso de haver familiares diretos
com cancro de mama antes dos 50 anos, os
exames deverão ser iniciados dez anos antes
da idade em que foi diagnosticado esse
cancro da mama», adianta Luís Mestre. Se
a mulher tiver uma mama muito densa, «os
cuidados também devem ser redobrados,
uma vez que é mais difícil realizar o exame
clínico e a palpação e de detetar precocemente
uma alteração», acrescenta Vítor
Veloso.
Do medo aos mitos
Risco de radiação e dor ao realizar uma
mamografia são as principais preocupações
das mulheres que se submetem a esse exame.
No que se refere à radiação, trata-se de
um receio infundado, como esclarece Luís
Mestre. «Tem-se notado um decréscimo
da radiação com o avanço da tecnologia e,
atualmente, num aparelho de digitalização
direta a radiação utilizada é muito reduzida», destaca.
Quanto ao mal-estar sentido por
algumas mulheres durante o exame, devido
à compressão exercida sobre a mama,
é possível minimizá-lo. Para tal, «deverão
procurar realizá-lo na semana seguinte ao
período menstrual, quando a mama está
menos tensa», acrescenta o especialista.
Existe, ainda, quem associe o aparecimento
do cancro a uma lesão ou traumatismo
prévio da mama.
Luís Mestre sublinha que «não existe qualquer relação». O que acontece, «muitas vezes, é que a mulher não vigia a mama e que, após um traumatismo, passa a palpá-la e deteta um nódulo, que se vem a provar ser cancro. Esse nódulo já lá estava há muito tempo, a mulher é que não observava convenientemente a sua mama».
Veja na página seguinte: Os avanços terapêuticos que dão nova esperança
A investigação científica não para. Todos os anos são conhecidos novos tratamentos mais dirigidos para o cancro da mama. «[Os mais recentes] têm menos efeitos colaterais», sublinha Vítor Veloso. Para o cirurgião oncológico, «as terapêuticas têm evoluído de forma positiva permitindo que as mulheres vivam mais tempo, mesmo as que estão com casos avançados de cancro de mama». Luís Mestre acrescenta que «a classificação de tumores de acordo com as suas características permitiu compreender melhor o seu comportamento e estabelecer protocolos terapêuticos mais específicos, onde novos fármacos vão aparecendo com regularidade». A radioterapia evoluiu com o surgimento de aparelhos «que permitem delimitar completamente os tecidos que vão irradiar, evitando destruir tecidos bons, com uma grande rapidez e eficácia», esclarece Vítor Veloso. A nível cirúrgico, existe a possibilidade, num cada vez maior número de casos, «de preservar a mama realizando uma cirurgia oncologicamente correta», defende Luís Mestre. Por último e não menos importante, «a introdução da técnica do gânglio sentinela permitiu que, em cerca de 80 por cento dos casos, as doentes não necessitem de efetuar a remoção de todos os gânglios axilares (esvaziamento axilar) e, como tal, preservem toda a funcionalidade do membro superior sem o perigo de aparecimento do linfedema», conclui o especialista. O número de casos de cancro de mama está a aumentar, mas a taxa de mortalidade tem estabilizado. É o que nos diz Vítor Veloso. «Espero que a cobertura do rastreio do cancro da mama seja uma realidade e que o atual Governo não se esqueça que a prevenção é fundamental, independentemente das restrições», comenta. Neste momento, o rastreio do cancro da mama permite a realização de uma mamografia gratuita a todas as mulheres a partir dos 45 anos, de dois em dois anos, em unidades móveis. «Neste momento, temos oito unidades móveis a funcionar», alerta Vítor Veloso. Se um rastreio estiver implementado, ao fim de cinco ou de dez anos, «vai contribuir para uma diminuição da mortalidade de cerca de 30 por cento dos casos e para detetar casos iniciais, o que permite curar completamente a mulher e diminuir os gastos do Estado», adianta o especialista. Para saber onde poderá realizar o rastreio gratuito ao cancro da mama, consulte www.ligacontracancro.pt ou contacte a liga pelo número Estes são alguns dos sintomas a que deve estar atenta:Avanços terapêuticos
Prevenir não custa nada
217 221 810.Sinais de alerta
- O aparecimento de um nódulo
ou caroço
no peito
- Corrimento mamilar, sobretudo se for sanguíneo
- Retração do mamilo ou qualquer outra alteração visível
- Invaginação
do mamilo (mamilo invertido)
- Pele em
casca de laranja na mama
- Gânglios
salientes
ao nível da axila
Texto: Cláudia Pinto com Luís Mestre (cirurgião geral) e Vítor Veloso (cirurgião geral e oncológico)
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