Desenvolve-se ao longo de meses ou anos e é irreversível. Duas características que permitem, segundo o nefrologista Jorge Dickson, «distinguir a doença renal crónica de outras doenças em que também está alterada a capacidade de funcionamento do rim».
A capacidade que os rins têm de filtrar e eliminar substâncias tóxicas pode ser afetada a diferentes níveis, o que determina as complicações de saúde associadas e as formas de tratamento.
A cada dia a ciência tenta dar novas respostas a este problema. Hipertensão e diabetes são os principais fatores de risco, a par com a hereditariedade e a idade. Como consequência, «a patologia cardiovascular é uma das marcas da doença renal crónica, mas também o risco de hemorragias e a diminuição da imunidade», diz Jorge Dickson. Anemia, desnutrição e alterações do metabolismo fósforo-cálcio integram a lista de problemas e complicam o tratamento.
«Se, por variadas razões, não podemos interferir diretamente no mecanismo que está na origem, resta controlar os fatores de risco da doença cardiovascular: hipertensão, dislipidemia, intolerância à glicose, obesidade e anemia. É preciso avaliar caso a caso», diz o especialista.
Qualidade de vida
Nos últimos anos têm sido registados avanços médicos relevantes. «Nos doentes submetidos a transplantação renal há imunossupressores que são mais eficazes e, ao mesmo tempo, têm menos efeitos secundários. A própria diálise tem aprimorado as características técnicas, o que permite que se substituam rins com maior eficácia e menor morbilidade», diz Jorge Dickson.
Uma opinião partilhada pelo nefrologista Rui Castro, segundo o qual a taxa de mortalidade de doentes em hemodiálise em Portugal em 2009 foi de 14 por cento, um número que «já foi mais alto, o que é também um índice de qualidade da diálise ao longo dos anos».
Investigação genética
O estudo dos genes tem marcado a investigação recente nesta área. No último Congresso Mundial de Nefrologia, no Canadá, foi apresentada uma substância, a metil bardoxolone que pertence a uma classe de moléculas designadas por moduladores antioxidantes de inflamação (AIMs).
«Em muitas doenças renais há agressões oxidativas que levam a processos de inflamação local
que, por sua vez, conduzem a uma proliferação rectiva e patológica de
células.
Esta substância vai atuar a nível dos genes que produzem determinadas enzimas, que têm um efeito antioxidante e protetor», explica Jorge Dickson. «Até agora as terapêuticas utilizadas pretendiam atrasar ou bloquear a progressão da doença renal crónica, mas este fármaco parece melhorar a própria função renal», diz Rui Castro, que salienta a importância da conclusão da fase de estudo em curso para determinar o sucesso da nova terapêutica.
RAIO-X DA DOENÇA
Prevenção
Faça exercício, não fume, modere o uso de sal, açúcar e gorduras. Vigie a
pressão arterial e consulte o seu médico para uma avaliação anual.
Sintomas
Falta de força, fadiga, náuseas, vómitos matinais e edema nos tornozelos são os sinais comuns, mas
variáveis, surgindo quando a doença já está numa fase avançada.
Evolução
Há cinco estádios, sendo o quinto o mais grave, quando se está a
perder a função renal ou esta já está ausente, o que implica diálise ou
transplantação renal.
Diagnóstico
As análises de rotina ao sangue (creatinina e ureia)
permitem detetar a doença em fase precoce. As análises à urina e a
ecografia renal são meios auxiliares de diagnóstico.
Texto: Rita Miguel com Jorge Dickson e Rui Castro (nefrologistas)
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