Em Portugal existem cerca de 50.000 pessoas com epilepsia, predominantemente crianças e adultos maiores de 65 anos. A grande maioria, cerca de 75%, têm a epilepsia bem controlada, isto é, não têm qualquer crise há muito tempo, ou apenas episodicamente. Se a grande maioria tem de fazer medicamentos para evitar as crises, alguns há que já não precisam de os tomar.

E porquê mais nos adultos idosos? A razão é simples. São estes que sofrem mais frequentemente de doenças que posteriormente podem originar epilepsia. Refiro-me, por exemplo, a AVCs (vulgo “tromboses”), traumatismos crânio-encefálicos de natureza variada, e tumores cerebrais (embora muito raros).

Poderão perguntar: Será que o covid-19 atinge mais frequentemente, ou predispõe mais para isso, as pessoas com epilepsia, nomeadamente os idosos? A resposta é não, não há qualquer evidência disso, principalmente para todos aqueles que têm a epilepsia bem controlada, isto é, sem crises habituais. Excepção para aqueles que sofram também de outras doenças debilitantes, como seja a diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas, pulmonares ou renais ou que estejam a fazer qualquer tipo de medicação que interfira negativamente com as “defesas” naturais da pessoa. No caso das pessoas com epilepsias pior ou não controladas, principalmente naquelas em que as crises possam ser desencadeadas por febre (muito raro), pode haver algum risco, embora pequeno.

Outra dúvida poderá ser: e o covid-19, se eu o apanhar, fará com que a minha epilepsia piore?  Não há qualquer razão conhecida para que isso possa acontecer. No entanto, as consequências da infeção, tal como ter de tomar medicação que potencialmente possa causar crises tem de ser considerado.

Justifica-se que a pessoa idosa com epilepsia tenha de ter cuidados redobrados de confinamento social, maior distanciamento das outras pessoas e mais frequentes medidas de higiene das mãos? A resposta é não, é igual para todos, epilépticos ou saudáveis, salvo, como foi referido atrás, se à epilepsia se juntar uma doença debilitante, caso em que devem ser seguidas cuidadosamente as normas da Direção Geral de Saúde.

Outra questão que pode ser colocada pelos idosos com epilepsia é se podem ir, de uma maneira segura, às consultas hospitalares que têm marcadas durante a pandemia?

Os hospitais implementaram, da forma mais conveniente possível,  medidas de segurança para proteger quem se desloca às consultas. Mesmo o risco não sendo nulo, como em qualquer outra deslocação que façamos hoje em dia, a margem de segurança nas unidades de saúde é grande e a resposta a esta questão é afirmativa, nomeadamente para todos aqueles que têm crises de epilepsia frequentes.

Contudo, principalmente para aquelas pessoas cuja epilepsia está bem controlada, recordo que continuam disponíveis as teleconsultas e que esta é uma opção viável, desde que não haja necessidade de uma observação presencial.

Esta solução, para além de permitir que possa permanecer na segurança do seu lar, irá evitar deslocações por vezes longas e desnecessárias, caso o intuito seja, por exemplo, o de solicitar renovação de medicação.

Quero frisar que defendo as consultas presenciais, sempre melhores para o médico e para o doente, mas considero que haverá casos que não se justificam nos tempos conturbados que vivemos.

E quanto aos exames que eventualmente tenham de ser realizado no hospital para investigação da epilepsia? Os exames, por si, não têm qualquer perigo (electroencefalogramas, análises, radiografias) e o benefício de realizar esses exames em tempo oportuno será, certamente, maior do que o risco de contágio durante a deslocação.

Então, e se a minha epilepsia se agravar muito de repente e eu tiver de ir ao serviço de urgência, é perigoso? Devo ir? Claro que deve ir. O risco da sua epilepsia piorar muito e poder ter constantemente crises (chamado “estado de mal epiléptico”) é muito maior do que poder ser contagiado pelo covid-19.

Finalmente, uns conselhos:

- Peça, e tenha sempre “à mão”, um contacto “fácil” do seu médico assistente. Desta maneira, pode falar com ele e tirar as dúvidas que possa eventualmente ter sobre a gestão da doença e, assim, evitar procedimentos desajustados ou decisões que podem ser prejudiciais para sua epilepsia.

- Não descure o tratamento da sua epilepsia,  e se sentir que algo não está bem não adie consultar o seu médico.

E ainda uma “dica”: o site da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia tem alguma informação útil sobre este e outros assuntos que pode valer a pena consultar.

Um artigo do médico José Pimentel, especialista em Neurologia do Hospital CUF Descobertas e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.