Tosse, dor de garganta, pingo no nariz, febre... Não é por acaso que estas queixas nos remetem, por norma, para a estação mais fria do ano. O risco de infeções respiratórias, que se manifestam através destes e de outros sintomas, aumenta consideravelmente nesta época do ano. Tal como os pólenes são responsáveis por um pico de incidência de doenças alérgicas nos meses de primavera, as doenças respiratórias invernais são, nesta altura, sobretudo de índole infeciosa.
Muitas têm origem em vírus e bactérias, microrganismos cujo desenvolvimento é favorecido pelo frio e pela humidade. A boa notícia é que, tanto a sua transmissão como a nossa suscetibilidade para lhes resistir, dependem, em grande medida, de um estilo de vida saudável e da adoção de comportamentos protetores. Jaime Alvarez de Pina, pneumologista, explica como evitar, identificar e atuar face aos problemas mais comuns desta altura do ano.
A importância da prevenção
Os fatores que aumentam o risco de infeções respiratórias atuam em sinergia. Além dos vírus e das bactérias se desenvolverem mais no inverno, "admite-se que ambientes frios e húmidos tornam a mucosa respiratória mais suscetível à sua penetração", refere Jaime Alvarez de Pina, vice-presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão. Porém, como acrescenta o especialista, "admite-se que a principal razão está nos modelos de vida relacionados com as estações".
"Confinamo-nos ao interior das habitações quando chega o tempo invernoso. Ora, estes espaços proporcionam ótimas condições para a transmissão das infeções respiratórias, que se realiza por via inalatória, de pessoa a pessoa ou através de gotículas transmitidas através das mãos", informa ainda o médico pneumologista. "Assim se explica a importância de medidas higiénicas que dificultam a transmissão do vírus, mas não só", acrescenta também o reputado especialista.
Prevenir a infeção passa, também, por fortalecer o sistema de defesa do organismo. Para isso, além das vacinas, consideradas armas fundamentais, são importantes os hábitos saudáveis. "Uma boa imunidade requer uma alimentação adequada, com poucas gorduras e pouco sal, além de atividade física regular e respeito pelos períodos de repouso", afirma. "É durante o repouso noturno que se dá a recuperação das células imunitárias", explica ainda o pneumologista. Por outro lado, há que saber proteger o aparelho respiratório, um comportamento inúmeras vezes desvalorizado pelos portugueses no seu quotidiano.
"Respiramos, por dia, 6.000 a 10.000 litros de ar com partículas de poluição, bactérias e vírus com capacidade para originar inflamação e infeção. A saúde do aparelho respiratório passa pela respiração de ar não poluído, tanto no interior como no exterior. Do mesmo modo, condições climáticas mais agressivas e persistentes, como o frio, a chuva, a humidade e o vento, podem originar condições facilitadoras de infeções, que há que evitar", avisa Jaime Alvarez de Pina.
O que fazer para travar a rinosite
É um dos problemas que afetam anualmente milhares de pessoas em todo o mundo nas alturas de maior frio e Portugal não é exceção. A palavra, desconhecida de muitos portugueses, resulta da associação entre os termos rinite (uma inflamação aguda ou crónica da membrana que reveste as fossas nasais e a mucosa nasal) e sinusite (uma inflamação dos seios perinasais, geralmente associada a um processo infecioso originado por vírus, bactérias ou fungos).
"Enquanto que, na primavera, um doente com alergia a pólen pode ter só uma inflamação no nariz [no caso da rinite], no inverno, na grande maioria das vezes, a infeção do nariz está associada a infeção dos seios perinasais [no caso da sinusite], que são cavidades nos ossos da cara que comunicam com o nariz", diz. Os sintomas mais comuns são o nariz entupido e as secreções nasais espessas e com pus, que é amarelo, verde ou até castanho, habitualmente.
A lista de manifestações inclui ainda dores de cabeça e/ou nos ossos da face, que, tal como a febre, são os mais frequentes. Também é habitual diminuição ou perda do olfato, mau hálito, tosse reflexa à escorrência das secreções nasais pela faringe, dor nos ouvidos e nos dentes do maxilar superior, mal-estar e cansaço. Para se defender, deve reduzir a inflamação, promover uma drenagem adequada das secreções nasais e tratar a infeção são os objetivos. Para isso:
- Beba líquidos, para manter as secreções o mais fluidas possível.
- Lave as fossas nasais com solutos salinos, como é o caso do soro fisiológico esterilizado e da água do mar.
- Vá ao médico se essas medidas não forem suficientes. Poderá ter de tomar um fluidificante do muco nasal, um descongestionante ou um antibiótico. Este fármaco pode ser usado para tratar a infeção durante 7 a 14 dias nas sinusites agudas ou até quatro semanas nas crónicas.
Como combater faringites, laringites, amigdalites e otites
Afetam estruturas anatómicas diferentes, mas todas pertencentes à chamada via aérea superior. "Como estão em contacto com o exterior, são as primeiras a sofrer os impactos das agressões por microrganismos, daí a sua inflamação ou infeção ser tão frequente, sobretudo nas crianças", explica Jaime Alvarez de Pina. Embora a origem viral seja a mais frequente, muitas das vezes através de rinovírus, também podem ser provocadas por bactérias, em particular estreptococos.
Essa situação verifica-se "de forma autónoma ou de forma secundária à infeção viral", esclarece. A inflamação é denunciada por uma dor que é predominante nas otites, nas amigdalites e nas faringites. Neste caso, ocorre sobretudo na deglutição. Vermelhidão, inchaço e alterações da função são outros sinais. Nas laringites, o sintoma mais típico é a rouquidão. Nas amigdalites, a infeção é visível através dos pontos ou das placas esbranquiçadas que revestem as amígdalas.
Perante a febre e os sintomas locais severos que muitas das vezes surgem, nomeadamente dor intensa, dificuldades na deglutição e/ou rouquidão, deve procurar apoio médico. "Até porque estas situações, por vezes, estão associadas a complicações que podem ser perigosas para a vida dos doentes", sublinha mesmo Jaime Alvarez de Pina. Se for uma infeção bacteriana, ser-lhe-à prescrito um antibiótico. Se for viral, na maioria dos casos o tratamento será só sintomático.
As medidas a tomar em caso de constipação
Nariz entupido, espirros, olhos húmidos, irritação da garganta e dor de cabeça são os sintomas mais comuns da gripe. Por norma, surgem de forma gradual. Raramente pode ocorrer febre alta ou dores no corpo. "É uma situação incómoda mas pouco grave e que, na maioria dos casos, se resolve espontaneamente", assegura o médico. "Na maioria das vezes, é provocada por um vírus de baixa virulência, em que predominam os rinovírus", refere mesmo Jaime Alvarez de Pina.
A constipação, um problema de saúde muito comum nesta altura do ano, afeta exclusivamente a parte alta do aparelho respiratório, nomeadamente o nariz, os seios perinasais, a faringe e a laringe. Para se livrar dela, repouse e ingira muitos líquidos. Para além de água e de sumos naturais sem açúcar, use e abuse de chás e infusões. E evite o fumo e o frio. Os sintomas tendem a desaparecer espontaneamente, mas poderá ter de recorrer a medicação sintomática.
O que fazer para travar a gripe
Provocada pelo vírus influenza, esta doença sistémica infeciosa é altamente contagiosa e pode ser fatal. "Todos os anos morrem, em média, 1.200 a 1.800 pessoas em Portugal devido à gripe", relembra Jaime Alvarez de Pina. Esta patologia contrai-se por inalação de partículas que contêm o vírus, eliminadas através da tosse, espirros, respiração e fala de pessoas doentes. Essas partículas podem permanecer no ar, com capacidade infetante, durante cerca de 34 horas.
O contacto direto das mãos com gotículas de material infetado também transmite o vírus. Após um período de incubação do vírus de um a cinco dias, os sinais e os sintomas surgem abruptamente. Um deles é a febre elevada, que pode chegar a oscilar entre 38º C a 40º C. A lista inclui ainda arrepios, calafrios, nariz e garganta inflamados, dores de cabeça, nos músculos e nas articulações, mal-estar geral, prostração e tosse, que pode ser seca ou com expetoração.
"Para além das medidas gerais como repouso, beber muitos líquidos, não ingerir álcool e não fumar, há que tratar a febre quando é elevada", aconselha. "Deve dar-se preferência ao paracetamol, pois estão descritos casos de síndroma de Reye [inflamação no cérebro] em crianças em que se utilizaram derivados do ácido acetilsalicílico. Podemos, também, utilizar antivíricos eficazes [ozeltamivir e zanamivir] desde as primeiras horas da infeção", esclarece.
Se os sintomas tradicionalmente associados à gripe persistirem, se tiver uma doença pré-existente, como a diabetes ou doença pulmonar obstrutiva crónica, também conhecida pela sigla DPOC, que ficou descompensada ou se surgir uma complicação, nomeadamente a pneumonia, uma das mais temíveis e que pode exigir internamento, deve procurar urgentemente ajuda especializada, recorrendo a um hospital, para evitar o agravamento do seu estado de saúde.
Os sintomas que indiciam pneumonia
É uma infeção do pulmão que pode ser provocada por bactérias, vírus ou fungos, o que determina a sua gravidade. As mais comuns são adquiridas na comunidade e causadas uma bactéria denominada pneumococo. O risco é maior para pessoas com as defesas diminuídas. É o caso dos idosos, sobretudo dos institucionalizados. Os fumadores, as pessoas mal nutridas e os doentes imunocomprometidos, sobretudo com VIH/SIDA, também devem ser vigilantes.
Às pessoas sem baço, com doenças crónicas ou com outras doenças respiratórias, exige-se o mesmo cuidado. Os sintomas clássicos são "a febre elevada [39º C a 40º C] que sobe bruscamente, a pontada [dor no tórax que se agrava com os movimentos respiratórios] e a tosse e expetoração de cor amarela, verde, castanha ou ferruginosa", esclarece Jaime Alvarez de Pina. "As pneumonias têm uma expressão clínica muito polifacetada", avisa, contudo, o médico.
A sua ação "depende da sua extensão e do tipo de agente" e, "nos idosos, podem manifestar-se de forma menos típica, por exemplo, apenas por alterações do comportamento ou por uma febrícula", acrescenta. Para a combater, consulte um médico, que deverá pedir uma radiografia do tórax para confirmar a doença, prescrever antibióticos e decidir, depois de conhecer todos os resultados, se o tratamento deverá realizar-se em regime de internamento ou ambulatório.
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