O Streptococcus pyogenes está associado a uma grande variedade de infeções com um amplo espectro de gravidade. Algumas pessoas podem estar colonizadas sem que haja sintomas ou sinais da doença. A grande maioria das infeções causadas por esta bactéria são pouco graves e de curta duração, sendo a causa mais frequente de faringite bacteriana nas crianças e nos adolescentes, com picos de incidência no inverno e início da primavera.
A faringite por Streptococcus do grupo A caracteriza-se pelo início súbito de dor de garganta, febre, dores de cabeça, dores abdominais, náuseas e vómitos. Orofaringe hiperemiada com ou sem exsudado amigdalino e adenopatia cervical anterior dolorosa. Outra manifestação menos frequente é a escarlatina.
A maioria dos casos de infeções por Streptococcus pyogenes ocorre sem complicações, no entanto e numa pequena percentagem, estas podem ter uma apresentação clínica mais grave, com bacteriemia, pneumonia, síndrome do choque tóxico, ou levar a complicações imunológicas (após uma infeção aguda) como a febre reumática aguda e glomerulonefrite aguda tendo como possível sequela a insuficiência renal crónica.
Em situações severas, as infeções por Streptococcus pyogenes, podem ser mortais, sobretudo na doença invasiva (ex. fasceíte necrosante) ou como consequência de doença reumática cardíaca, sequela da febre reumática aguda.
A sua transmissão é feita de pessoa para pessoa através de partículas respiratórias, pela dispersão de gotículas geradas durante a fala ou tosse ou através do contacto direto da pele. Têm sido descritos casos de intoxicação alimentar.
O Streptococcus pyogenes é a causa mais frequente de faringite aguda bacteriana na criança. Um diagnóstico rápido permite a instituição de antibioterapia adequada, com alívio dos sintomas, redução das complicações e sequelas e diminuição da sua transmissão.
A confirmação laboratorial no diagnóstico da faringite aguda por Streptococcus do Grupo A é recomendada na idade pediátrica.
Diagnóstico laboratorial
1. Teste de diagnóstico antigénico rápido (TDAR)
Consiste na deteção direta do antigénio específico para Streptococcus do Grupo A, a partir de amostras do exsudado da orofaringe, colhidas por profissionais de saúde experientes.
Este teste permite um resultado rápido com instituição de terapêutica adequada, contudo o exame cultural permanece o método de referência recomendado.
Um resultado negativo no TDAR deve ser confirmado pelo exame cultural da orofaringe, em crianças e adolescentes com sinais e sintomas muito sugestivos de infeção por Streptococcus do Grupo A.
Um resultado positivo no TDAR não necessita de confirmação pelo exame cultural. Um resultado positivo é considerado diagnóstico de faringite aguda pelo Streptococcus do Grupo A.
2. Cultura microbiológica
A cultura da zaragatoa da orofaringe permanece o método de referência para o diagnóstico de faringite aguda por Streptococcus pyogenes.
Uma amostra colhida de forma adequada apresenta uma sensibilidade de 90-95% e uma especificidade de 99%.
A cultura é o único teste que permite a realização de antibiograma, o que permite monitorizar a evolução das resistências antimicrobianas.
O Streptococcus pyogenes permanece sensível à penicilina.
No caso de hipersensibilidade aos β-lactâmicos, a cultura deve ser efetuada de forma a permitir o estudo da resistência aos macrólidos e clindamicina.
A principal limitação da cultura é o tempo de resposta (mínimo 24 a 48horas).
3. Testes moleculares
Os testes moleculares (testes de amplificação de ácidos nucleicos ou testes de PCR-Polymerase Chain Reaction) têm sido cada vez mais utilizados na rotina, para deteção de Streptococcus pyogenes em amostras da orofaringe.
Podem ser utilizados como teste primário de diagnóstico de infeção aguda ou no caso do teste de diagnóstico antigénico rápido ser negativo.
As principais limitações são a complexidade deste tipo de método e o custo associado.
4. Testes serológicos
No diagnóstico da infeção por Streptococcus os testes serológicos são indicados no diagnóstico da doença pós-estreptocócica, tal como na evolução da febre reumática aguda e na glomerulonefrite.
Os títulos de anticorpos antiestreptocócicos aumentam 7 a 14 dias após o início da infeção e atingem um pico sérico às 3 a 6 semanas. Podendo manter-se altos durante meses.
Estes testes não são indicados para o diagnóstico agudo de faringite.
Um aumento de 4 vezes o título de anticorpos é considerado diagnóstico de uma infeção estreptocócica prévia.
Os níveis de anticorpos podem ser influenciados por várias condições: o local da infeção, o tempo decorrido desde o início da infeção, prevalência de antecedentes de infeção a Streptococcus, idade e antibioterapia.
Os testes serológicos mais amplamente usados são o antiestreptolisina O (Anti-ASO), e anti-DNase B (anti-desoxirribonuclease B).
Os anticorpos anti-ASO atingem um pico entre as 3 - 6 semanas após a infeção e são mais elevados após uma infeção do aparelho respiratório superior do que nas infeções da pele, em que a elevação destes anticorpos não é tão acentuada.
O aumento dos níveis serológicos do anti-ASO não é específico para o Streptococcus pyogenes.
Os títulos de anti-DNase B mantém-se elevados durante mais tempo do que os títulos de anti-ASO, e são mais indicados no diagnóstico de infeções passadas da pele.
No diagnóstico da febre reumática devem ser solicitados os dois testes serológicos, uma vez que os títulos de anti-ASO estão apenas elevados em 80 a 85% dos casos.
Um artigo do médico Germano de Sousa, especialista em Patologia Clínica.
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