Criar fantasias eróticas num encontro sexual é essencial para estimular o desejo. Quebram a rotina, fazem-nos sonhar e abrem novos caminhos aos sentidos, proporcionando mais e melhor prazer. Maria Lopes (nome fictício) é uma das muitas portuguesas que podem comprovar essa teoria. Tinha 25 anos e pouca experiência sexual mas, secretamente, desejava poder fazer sexo num local público, onde pudesse sentir a adrenalina que o risco de ser apanhada lhe provocava.
Ter relações sexuais ao ar livre era algo que, no seu íntimo, a excitava muito. Nunca se atreveu a falar disso ao namorado, mas, um dia, ganhou coragem e preparou-lhe uma surpresa. Uma noite de verão em que ele a foi buscar passear junto ao rio Tejo, em Lisboa, saiu de saia, sem roupa interior. E, num banco de jardim, discretamente, deu asas ao seu desejo. Praticamente todas as mulheres, tal como os homens, fantasiam de alguma forma com sexo fora dos padrões.
Enquanto crianças, o mundo da fantasia dominava as nossas vidas e procurávamos através do faz-de-conta, alegria e felicidade. Depois crescemos e, já adultos, o stresse diário, a correria, as responsabilidades e as preocupações quebram a magia infantil, a capacidade de fantasiar. As fantasias eróticas são, segundo inúmeros especialistas, importantes para melhorar as nossas relações amorosas e até para garantir a nossa saúde mental, uma vez que quebram a rotina, fazem-nos esquecer as dificuldades e abrem-nos novos caminhos para os sentidos, proporcionam mais e melhor prazer sexual. Fantasiar é, na realidade, deixar o papel de esposa e de mãe por umas horas e viver outra vida.
Uma vida com menos responsabilidades, construindo assim uma relação mais sólida e satisfatória com o parceiro. "É preciso clarificar que há uma grande imprecisão e confusão acerca do que são fantasias sexuais. Muitas vezes, usa-se este termo para falar do desejo de praticar atividades menos normativas ou para falar de ideias que as pessoas têm acerca de contextos e narrativas sexuais onde se imaginam envolvidas", refere a sexóloga Patrícia Pascoal.
"Ainda que possam ser irrealistas ou de fácil execução. E, neste sentido, falamos do gosto de evasão e visita ao improvável através da imaginação", referiu, em declarações à edição impressa da Saber Viver na condição de presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica e de coordenadora do Mestrado em Sexologia da Universidade Lusófona. Segundo esta especialista, as pessoas imaginam-se a assumir papéis diferentes em contextos muitas vezes impossíveis.
Essa situação pode funcionar como um estímulo sexual, aumentando a vontade de ter atividade sexual e até a excitação durante a sua prática. E isto, muitas vezes, confunde-se com o planeamento de diversificação de locais e diferentes formas de praticar sexo. "E, aqui, falamos de programar, planear e imaginar algo que se pretende concretizar", sublinha Patrícia Pascoal, uma das (muitas) sexólogas que defende a importância do sexo e da sexualidade para a saúde.
"As fantasias podem ser imagens, histórias, pensamentos ou até ideias que se têm acerca da prática sexual. Há, contudo, uma série de pensamentos e ideias sexuais que são inesperadas, invasivas e que assumem conteúdos desagradáveis", alerta a especialista. "Por exemplo, imaginar que está com outra pessoa e não com a pessoa com quem está. Nestas situações, as fantasias podem associar-se a sofrimento, culpa e mal-estar", sublinha Patrícia Pascoal.
Culpa e medo podem diminuir o prazer
É precisamente a culpa e o medo que podem provocar barreiras ao prazer. Culturalmente, as mulheres ainda se encontram limitadas por uma sociedade que as considera mais passivas, permissivas e dependentes, o que prejudica vários aspetos da sua vida, nomeadamente a sexual. Muitas das vezes, os limites às fantasias são os nossos valores, que, por motivos meramente culturais, não nos deixam ir mais longe. Muitos nem sequer as partilham com os parceiros.
Contudo, Joana Almeida, psicóloga clínica e terapeuta sexual, refere que, "num casal heterossexual, pode ser o homem a ter a iniciativa de falar sobre sexualidade e mostrar os seus desejos, mas acredito que muitas mulheres também o façam. Não sei se terão menos propensão para demonstrar os seus desejos e fantasias do que os homens ou se eles serão mais visíveis a fazê-lo", diz. Para ela, a dimensão da imaginação na sexualidade, seja em mulheres ou em homens, pode ser explorada para se procurar novos prazeres, cuja satisfação, mais ou menos realista e encenada, traz sentimentos positivos de felicidade, alegria e calma.
Para a psicóloga, algumas pessoas têm mais facilidade em fantasiar do que outras, pois têm uma vida mental e cognitiva mais fértil. A educação e a nossa socialização alimentam e estimulam ou reprimem e criam obstáculos, consoante os casos, a que se tenha uma imaginação livre e não demasiado condicionada por ideias pré-formatadas e até estereotipadas. Na relação sexual, o mais importante, como defende, é que cada pessoa se respeite a si mesma e ao seu parceiro.
A comunicação entre o casal deve ser honesta e sem preconceitos, o que nem sempre sucede, como lamentam inúmeros especialistas. É importante que consigam encontrar um espaço para conversar e para explorar em conjunto aquilo de que gostam e o que o gostariam de experimentar na sua vida sexual, seja em práticas, em encenações ou até em simples ideias, explorando sexualmente as diferentes divisões da habitação, como pode (re)ver de seguida.
Vera Ribeiro não tem dúvidas. "O culto da sexualidade e do prazer foi sempre mais associado ao universo masculino mas, hoje, já começamos a observar uma viragem, com a emancipação da mulher no prazer e na demonstração das suas fantasias e com uma maior abertura para falar sobre o que gosta e não gosta", refere a autora do livro "Manual de sedução - Jogos sensuais, técnicas e tudo o que precisa para ter mais prazer", publicado pela Manuscrito Editora.
Para esta sexóloga, as mulheres são mais complexas nas suas fantasias, necessitam de mais informação e de sensibilidade do que o homem. "Ele precisa de informação auditiva ou visual para que a sua fantasia se desenvolva, enquanto que a mulher tem maior necessidade de uma envolvente mais química. E o enredo, que vai para além do auditivo ou visual, carece de componente emocional e de uma entrega absolutamente completa", sublinha Vera Ribeiro.
Como aumentar o desejo e o prazer
Dada a sua maior complexidade, a condição feminina torna a fantasia mais difícil de acontecer. "Todas as mulheres têm a capacidade de fantasiar, mas a forma como exercitam e cultivam essa fantasia é que vai ditar o produto final", diz a sexóloga portuguesa. David Barlow, diretor do Departamento de Investigação em Sexualidade da State University of New York, nos Estados Unidos da América, realizou um estudo sobre o que as fantasias sexuais dizem das mulheres.
O especialista concluiu que a maioria das pessoas tem, em média, cerca de sete a oito fantasias sexuais por dia e que, entre os heterossexuais, cerca de três quartos são sobre sexo dito normal, enquanto 25% são sobre variações como sadomasoquismo, homossexualidade ou sexo em grupo. E este comportamento é absolutamente normal, desde que não dependa das fantasias para conseguir excitar-se, senão estaremos perante um problema psicológico mais profundo.
Importante é também não deixar que as fantasias sejam apenas uma forma para ultrapassar o mau sexo mas, sim, para potenciar e apimentar uma relação saudável. Para conseguir intensificar o seu prazer e o do seu companheiro entrando no mundo da fantasia, deve abrir a mente e deixar-se levar. E para isso não pode haver autocensura mas, sim, autoconhecimento. É preciso saber o que se quer, o que se gosta, onde gosta de ser tocada e onde gosta de tocar.
Sem medos e sem tabus. Para a imaginação, não há limites! Quando fantasiamos, abrimos os canais de expressão da sensualidade e surge o desejo, muitas vezes escondido na rotina. Na prática, colocamos a imaginação ao serviço do sexo. As fantasias podem ser planeadas a dois ou realizadas de surpresa, mas deverão ser sempre satisfatórias para ambos os parceiros, sendo que os homens são mais visuais. Um filme pornográfico é o suficiente para se excitarem.
As mulheres precisam que todos os sentidos entrem na equação, já que o cérebro também é um importante órgão sexual. Porém, as suas fantasias sexuais não diferem muito das dos homens, envolvendo encontros a três, sexo em grupo e sexo em locais públicos. Observar os parceiros a terem relações sexuais com outras pessoas também está no topo da lista, conforme revela o investigador americano Justin Lehmiller, autor da popular obra "Tell me what you want".
Vera Ribeiro dá, no seu livro, sugestões para que possa tomar a iniciativa num encontro sexual e apimentar assim a sua relação, começando com os preliminares. Fazer uma refeição afrodisíaca, com alho e ginseng, por exemplo, é uma hipótese. Usar um topping corporal, que pode ser caseiro, feito com polpa de frutos e açúcar, que será depois espalhado pelo corpo e com a língua, é outra. Dê asas à imaginação e, desde que seja consensual, não se arrependerá, certamente.
Texto: Helena C. Peralta
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