É um poderoso estimulante, afeta o humor e a sensibilidade. Produz impressões, emoções e reflexos sensoriais, e pode até perturbar o estado de consciência, impulsionar um desejo, ativar a imaginação ou produzir simpatia ou repulsa, atuando como uma energia estimulante ou tranquilizante. Frias ou quentes, as cores condicionam-nos a gostar ou não de algo, a abstermo-nos ou a agirmos. Saber como nos influencíam ajuda-nos a ler melhor o mundo e a, nele, encontrar maior harmonia.
Porque adoramos esta cor mas aquela está fora de questão? Porque esta preferência hoje parece ser absoluta mas, na verdade, pode mudar? E porque não gostamos todos das mesmas cores? Há quase tantas respostas para estas questões quanto o número de cores primárias (azul, vermelho e amarelo) e secundárias (laranja, verde e violeta) em conjunto. Mesmo que a nossa reação à cor seja instintiva, o primeiro fator que nos influencia são associações que fazemos a cada uma delas.
Associações que resultam de experiências do passado e de condicionantes sociais que vamos acumulando na memória. São estas que nos definem e que nos fazem agir de determinada maneira. Por exemplo, se no ocidente o branco significa vida e bem, no oriente é símbolo de morte, do fim, do nada. Por cá, as nossas memórias (individual e coletiva) associam ao branco conceitos como neve, casamento, lírio, baptismo ou ainda areia.
Ao fazê-lo, estabelecem com esta cor uma associação afetiva de limpeza, de paz, de pureza, de alma, de divindade, de ordem e de infância. Os hábitos sociais que vamos replicando durante a nossa vida acabam por atribuir significados às sensações visuais e é assim que expressões que vamos apreendendo, como é o caso de «Ficou verde de inveja», também contribuem para a nossa predileção e seleção de cores. Para saber como o cérebro lê cada um dos diferentes tons, clique aqui.
O fator idade e a componente estética
A conotação das cores (frias e quentes) tem tanto a ver com fatores emocionais como com o processo de reflexão de energia, luz e calor, como explica Welton Valdir no seu estudo «Psicodinâmica das cores como ferramenta de marketing». As superfícies claras refletem a luz enquanto as escuras absorvem-na. Os comprimentos de onda das cores quentes, especialmente o vermelho, são muito próximos do infravermelho que transmite calor.
As cores quentes atraem a visão e excitam as emoções, elevam a temperatura corporal por estimularem a circulação sanguínea, ao contrário do que acontece com as cores frias, que diminuem o metabolismo e tranquilizam, baixando a temperatura do corpo. O envelhecimento do organismo também condiciona a nossa relação com as cores. O cristalino do olho humano vai gradativamente tornando-se amarelo com o passar dos anos e se, por exemplo, uma criança absorve 10 por cento da luz azul, um idoso absorve cerca de 57 por cento.
Não será por acaso que os mais velhos dão preferência a produtos em cujas embalagens prevalece a cor azul. Uma cor que ativa o córtex pré-frontal, área do cérebro ligado às decisões, pensamento abstrato e criativo, respostas afetivas e julgamento social. A componente física e estética é outra dimensão que contribui para preferirmos umas cores em detrimento de outras.
Em consultoria de imagem, por exemplo, é feito um teste de cores que permite apurar a cor mais favorável ao tom de pele, cor de olhos e cabelo, bem como quais as conjugações de cores ideais para projetar uma imagem pessoal e profissional adequada. Graças, também, aos fenómenos da moda e tendências, acabamos por experimentar cores e combinações com as quais, à partida, não sentíamos uma ligação imediata.
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A cor e a personalidade individual de cada um
Há teorias no universo da psicologia que associam características da personalidade a preferências de cor. Se gosta muito de vestir vermelho, possivelmente, é uma pessoa extrovertida, corajosa, dada à acção. Se prefere usar cores em contraste com o preto, tende a ser do tipo dramático. Algumas pesquisas apontam que os amantes de amarelo são mais intelectuais e idealistas e que quem gosta de verde tende a ser compreensivo e a ter uma visão universal, tolerante, liberal, alguém habituado a compreender a perspetiva do outro.
Mas a cor que usamos não se limita a traduzir, em parte, quem somos ou a ter influência na forma como nos sentimos, nos nossos níveis de energia e no nosso estado emocional em geral. As cores das roupas e acessórios também acabam por influenciar a forma como os outros se relacionam connosco e como nos percecionam, uma vez que cada cor tem um significado e é capaz de criar uma sensação diferente tanto na pessoa que a usa como nas que a rodeiam.
A escolha de uma peça de roupa ou a compilação de um coordenado terá sempre impacto, mesmo que não seja propositado, pois projeta uma imagem sobre quem somos. Em consultoria de imagem (através do tal teste de cores) é possível, por exemplo, através da escolha das cores certas para cada pessoa, criar a ilusão ótica de uma imagem mais saudável, de uma tez mais uniforme e luminosa, de olhos mais brilhantes, lábios mais coloridos e de uma pele com menos imperfeições.
O que ajuda a perceber a análise cromática
Um dos métodos usados é a análise cromática sazonal expandida que ajuda a encontrar as tonalidades certas para cada pessoa, tendo por base as quatro estações do ano e a temperatura da pele. Por exemplo, se a pessoa se integrar na estação outono deverá recorrer a cores terra, quentes e profundas e, como tem uma tonalidade dourada, usar um blush e batom com tonalidades rosa e pêssego, laranja, vermelho e marrom dourado.
É também atribuída uma palete de cores (ajuda, por exemplo, nas idas às compras). Depois, dentro dessa palete cromática selecionada, escolhem-se as tonalidades que conferem um look mais descontraído, formal ou requintado, em função do contexto e objetivos (madrinha de casamento, diretora, jantar de negócios). De realçar que todas as pessoas podem usar todas as cores, o que muda é o tom de cada cor (de acordo com a pele quente/fria ou neutra).
Texto: Helena Marques (psicóloga clínica e consultora de imagem)
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