Ser-se quieto e reservado é um grande desafio social no sentido em que limita a comunicação com os outros. Pode ser incapacitante ao ponto de, por exemplo, impossibilitar alguém de falar em público ou dizer a alguém que se ama. Quem é mais fechado, em termos sociais, tem mais dificuldade em demonstrar emoções e sentimentos e pode também ser mais permeável à crítica do outro e à sua incompreensão.
Não raras vezes, os tímidos e introvertidos perdem oportunidades com receio do palco, da exposição. Também podem sentir-se frustrados pelo que fica por dizer ou pelas reações físicas que não controlam, como corar ou transpirar em público. Encontram na não exposição o seu bem-estar. Não querem visibilidade, mas, embora não o saibam, estão à frente dos extrovertidos em muitos aspetos.
Os tímidos e os introvertidos
Muitas vezes confunde-se timidez com introversão. Não são a mesma coisa. A timidez é situacional. Perante algo que nos está a acontecer em determinado momento, fechamo-nos. Nesta perspetiva, todos nós podemos, em determinadas situações, ser tímidos. Por seu lado, a introversão, em oposição à extroversão, como definiu o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, diz respeito a uma característica estrutural da personalidade.
Uma faceta distintiva que caracteriza a pessoa, independentemente de uma situação concreta. O introvertido é assim na maior parte do tempo. Trata-se de uma característica pessoal contínua. Enquanto o tímido até gostaria de ser de outro modo, mas na maioria das vezes não consegue, o introvertido escolhe viver dentro de si mesmo.
As vantagens da timidez
A principal vantagem da timidez é o seu poder de regulação ao nível da interação social. Bem usada, a timidez pode até ser uma vantagem competitiva, já que, dizer abertamente tudo o que se pensa e sente pode ser desadequado nalgumas situações sociais. Por outro lado, a timidez pode ser atraente na relação homem-mulher. Pode ter vantagens em termos de sedução, sobretudo numa sociedade em que tudo se diz e mostra.
Ser mais ouvinte é outra das vantagens do tímido. Afinal ninguém suporta desabafar com alguém que tem sempre mais uma opinião a expressar e que nem nos dá tempo para respirar. Os tímidos também costumam pensar melhor antes de agir, o que pode gerar uma vida com menos equívocos e mais serenidade. Por vezes é mais fácil sentir conforto emocional ao lado de um tímido.
Habitualmente, é alguém que não nos faz sentir ameaçados. Já alguma vez lhe tinha ocorrido? Faça esse esforço. Se reparar, os tímidos costumam ter um efeito calmante em discussões e nas relações onde é necessário alguém que neutralize o excesso de interação. Ao contrário de pessoas mais efusivas e agitadas, chegam a exercer um efeito quase calmante em muitas situações.
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O profissionalismo dos introvertidos
Organização, capacidade de síntese, concentração e autorreflexão são algumas das qualidades características dos introvertidos. Dão muita atenção aos detalhes, têm uma elevada autodisciplina e trabalham com resultados muito acima da média na interação de um para um. Tendem também a ser muito leais, companheiros e pacientes. Não criam conflitos desnecessários, procuram os consensos e não perdem tempo com questões inúteis.
A solidão é criativa para eles e não sentem o vazio quando estão sós. São muito responsáveis no que toca à tomada de decisões, pesam muito bem os prós e os contras, mas não pensam apenas em si próprios. Tomam decisões a pensar no bem comum. São intelectualmente muito inteligentes e capazes de reflexões que os levam a reconhecer padrões e a construir modelos de análise.
Não é raro encontrarmos cientistas entre os introvertidos. É curioso que no marketing, nomeadamente na atividade comercial e vendas, os introvertidos costumam brilhar nas reuniões porque primeiro analisam todos os dados e depois conseguem fazer excelentes sínteses e conclusões. De igual modo, os introvertidos são bons vendedores e podem conseguir superar os extrovertidos no processo de vendas porque ouvem melhor o que o cliente quer e conseguem ser mais empáticos.
Como os vemos
Aos olhos de um extrovertido, porém, os introvertidos são vistos como antissociais, por vezes apelidados de bichos-do-mato. Achamos que para eles tanto faz e que são acomodados. Em termos profissionais, são vistos como pessoas com dificuldade em expressar ideias e pensamentos de forma adequada, sendo frequente serem excluídos de grupos de projeto onde têm de liderar pessoas ou processos ou sendo-lhes atribuídas funções de back office pelas chefias.
São ainda vistos como pessoas que guardam as coisas para si e aparentam ser enigmáticos, surgindo na ideia algo como «Nunca sabemos bem o que lhe está a passar pela cabeça». São vistos como pessoas pouco abertas, desconfiadas, controladoras e com pouca apetência para a inclusão dos outros ou de si mesmas, com contactos preferencialmente superficiais.
Assim, não raras vezes são tidos, erradamente, como arrogantes, devido ao afastamento que criam nos outros. Se experimentarmos ver o mundo com os seus olhos, porém, podemos aprender a lidar com esta maneira de ser e, quem sabe, até, melhor, a nossa própria atitude em relação aos outros.
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Os trunfos dos tímidos:
- São mais confiáveis.
- São melhores ouvintes.
- São genuinamente interessados pelos outros.
- Têm um maior nível de respeito pelo compromisso.
- Promovem amizades mais duradouras.
- Têm uma vida social moderada e respeitam horas e regras.
- Evitam corrigir os outros ou sair por cima.
- São mais flexíveis com as opiniões contrárias às suas.
- Têm uma grande força interior (necessidade de superar a timidez).
- São melhores em tarefas de foco e concentração.
- São menos despistados e menos esquecidos.
- São mais empáticos e esforçam-se mais para entender os problemas dos outros.
Texto: Vanda Oliveira com Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)
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