Vinda de uma família de surfistas, a campeã nacional de juniores em 2013 considera-se, neste momento, uma semi-atleta no universo do surf.
Aos 21 anos, Ana Sarmento é estudante de psicologia do desporto e do exercício na Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
Ribeira d'Ilhas e Coxos são as suas praias favoritas.
Tiago 'Saca' Pires, Carissa Moore e Kelly Slater os seus surfistas prediletos. «Além das praias da Ericeira e de Peniche, gosto de ir a Santa Cruz, no verão. Gosto daqueles beach breakes, com menos pessoas e muitas ondas, para não surfar com muito crowd», confidencia a universitária.
Porquê o surf?
Lembro-me de ver o meu pai a entrar e a sair de casa com a prancha na mão, desde sempre. Na altura, vivíamos em Lisboa. Quando nos mudámos para a Ericeira, comecei a entrar nuns eventos, como o Billabong Girls... Fui para uma escola de surf na Ericeira e, a partir dai, comecei a surfar. Isto foi há nove anos, em 2005…
Em que onda iniciou esta aventura?
Foi em Ribeira d'Ilhas, à porta de casa, no surf camp. É a onda da qual mais gosto. Agora, que estou em Rio Maior, sempre que posso, nos fins de semana, vou surfar em Ribeira d'Ilhas. E ainda dá para ir a Peniche nas tardes livres. Os treinos requerem uma predisposição diária.
É exigente?
Agora que estou mais velha, estou mais calma. Quando somos mais novos queremos apanhar todas as ondas, estamos sempre a competir uns com os outros… Os meus treinos agora consistem em ir para a água e aplicar o que já fiz com o meu treinador, gosto de ir surfar com a minha irmã e com o meu pai e puxarmos uns pelos outros. Se não apanho uma onda, já não é o fim do mundo. Se a surfada corre bem, adoro! Mas já não tenho a pressão dos campeonatos. Gosto de surfar com calma. Tem mais a ver comigo…
Complementa o surf com exercício?
Como estou em psiologia do desporto e do exercício e como não conseguia surfar todos os dias no inverno, porque anoitece mais cedo, inscrevi-me no ginásio. Não gosto de ficar parada. Nem gostava de ginásios, mas agora estou viciada.
Que momentos especiais guarda na memória?
Quando saía da água, depois de surfar e o meu treinador dizia que tinha evoluído numa coisa que estava a trabalhar há um ano ou quando eu sentia que evoluía. Esses eram os meus triunfos. Claro que ficava feliz quando tinha um bom resultado, mas passa tudo muito depressa. Além disso, nunca conquistei um título enquanto competia à séria.
Quando deixei de treinar, fiquei mais leve e acabei por conquistar um título, o de campeã nacional junior 2013. Por isso, não eram os campeonatos que me davam energia. A maneira como levo as coisas agora tem mais a ver comigo.
Qual é a sua onda?
Além das praias da Ericeira e de Peniche, gosto de ir a Santa Cruz, no verão. Gosto daqueles beach breakes, com menos pessoas e muitas ondas, para não surfar com muito crowd. Adoro o Algarve, antes do verão ou no fim. A praia da Arrifana é uma das minhas preferidas.
E fora de portas?
Gosto muito das ondas da costa espanhola e da costa francesa. Fui para Marrocos com a minha família, porque o meu pai e a minha irmã surfam e a minha mãe também já fez surf. Somos uma família de surfistas. Adoro Taghazout e Essaouira.
Em que competições de surf já entrou?
Fiz alguns WQS [World Qualifying Series] na Europa. Gostava muito dos da seleção, porque o surf deixava de ser tão individual e passava a ser um desporto de grupo. Fiz três juniores, no Peru, na Nova Zelândia e no Equador. Adorei! O último, de que gostei muito, e nem estava à espera de ser convocada, foi para um [campeonato] da seleção nos Açores, um europeu [Eurosurf 2013] quando tinha 20 anos, o qual correu super bem. Fiquei em quinto lugar. Tinha estado com o meu treinador uns dias antes para receber dicas e, por isso, fui super bem preparada para o campeonato.
Apesar de competirem, existe uma grande cumplicidade entre vós…
Como somos poucas em Portugal, damo-nos bem e aproveitamos viajar juntas. Além disso, gostamos muito umas das outras, sabemos as dificuldades de cada uma, quer na escola, quer em fazer amizades, a dificuldade com os patrocínios e a forma como vêem o desporto feminino em Portugal. Ainda é mais bem visto um homem atleta do que uma mulher, porque esta tem de estar com a família… Está errado, na minha opinião.
O que planeou para 2014?
Vou continuar a disputar os campeonatos nacionais e gostava que a seleção me convocasse para alguns.
A onda do surf também traz sonhos. Quais são os seus?
Quero continuar a surfar e a viajar. Quero acabar a minha licenciatura e começar um projeto meu ligado ao desporto e hábitos de vida saudáveis.
Há pouco referiu o preconceito em relação às surfistas. É possível dar outro rumo ao surf feminino?
Temos um país muito agressivo e frio no inverno, por isso há muitas miúdas a surfarem no verão, mas que param no inverno, por causa do mar. A entrada de miúdas como a Teresa Bonvalot, que está a surfar muito, pode ser uma boa influência, porque é um modelo a seguir. Penso que a Carina Duarte e a Teresa vão fazer com que outras raparigas vejam que é possível começar aos nove anos. Lá fora começam aos cinco, mas a água é quente. Por isso, surfam o ano inteiro.
Até onde a leva o surf?
A tudo. A qualquer lado.
Texto: Patrícia Serrado
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