Em declarações à agência Lusa, Marcos Rubal, investigador do centro da Universidade do Porto, explicou que, inicialmente, o intuito da equipa era estudar o sargaço, compreender a sua importância ecológica e como este recurso, resultado da deposição natural de algas e ervas marinhas nas praias, podia ser valorizado.
No entanto, quando começaram a analisar este recurso natural em cinco praias da região Norte – Praia de Moledo, Vila Praia de Âncora, Praia do Cabedelo, Praia de São Pedro de Paramos e a Barrinha de Esmoriz – ficaram “chocados com a quantidade de lixo que aparecia misturado”.
“Encontrámos sempre pelo meio uma quantidade enorme de lixo, então decidimos adicionar esta componente de lixo ao estudo e, a partir daí, além de quantificarmos o sargaço e a espécie de algas que apareciam no sargaço, começámos a quantificar o lixo para poder comparar”, afirmou Marcos Rubal.
Durante o estudo, que se iniciou em 2017, a equipa de investigadores optou por escolher praias “pouco urbanizadas” e fazer a recolha de sargaço, algas e lixo em dois momentos diferentes, um durante o verão e outro durante o inverno.
“O resultado do nosso trabalho é que tanto a quantidade de sargaço como a quantidade de lixo variam muito, tanto entre praias como entre datas”, disse, acrescentando, no entanto, que a quantidade de lixo pode ser “até quatro vezes superior ao peso total do sargaço”, especialmente no inverno.
Durante essa altura do ano a deposição de lixo, como restos de cordas, redes emaranhadas, linhas de pesca, rolhas plásticas para a cultura do mexilhão e uma variedade de plásticos, era superior, sobretudo devido “aos temporais e ao aumento do nível das águas, por exemplo do rio Minho”.
“O tipo de lixo mudava muito entre o inverno e o verão”, acrescentou Marcos Rubal, afirmando que na estação mais quente o lixo encontrado assentava em beatas de cigarros, restos de comida, pequenos plásticos, garrafas de água, pacotes de sumo e outros poluentes.
À Lusa, Marcos Rubal adiantou que o próximo passo da equipa passa por perceber como é que o lixo pode alterar o papel do sargaço, que compreende importantes serviços ecológicos nas praias arenosas como a manutenção do ciclo de nutrientes ou das cadeias tróficas marinhas, no ecossistema costeiro.
“O que fizemos foi quantificar a quantidade de algas, sargaço e lixo que havia, agora sabemos que há esta quantidade de lixo e o próximo passo é estudarmos os efeitos que pode ter”, afirmou, acrescentando que investigações noutros países indicam que a ingestão de plástico não é positiva para os animais que se alimentam do sargaço e que os seus efeitos podem ser nefastos.
O estudo, intitulado “Spatio-Temporal Variability of Anthropogenic and Natural Wrack Accumulations along the Driftline: Marine Litter Overcomes Wrack in the Northern Sandy Beaches of Portugal”, foi publicado na revista internacional Journal of Marine Science and Engineering.
Comentários