Segundo o investigador, as amostras que levaram à identificação da espécie foram recolhidas há 10 anos na ria de Alvor, em Portimão, e estiveram guardadas na Universidade Complutense de Madrid, até que, recentemente, um aluno de mestrado daquela academia se interessou por elas.
“As amostras foram ficando por ver, um aluno de mestrado recuperou-as e fez a descrição desta nova espécie, designada Setaphyes algarvensis por referência à região do Algarve, e o artigo científico foi finalmente publicado este ano”, explicou à Lusa o biólogo, primeiro autor de um estudo de 2016 sobre outras espécies identificadas na costa portuguesa.
No artigo publicado este ano no Jornal Europeu de Taxonomia, os investigadores descrevem a nova espécie de quinorrinco, animal que atua como uma “espécie de sentinela” dos ecossistemas, referiu Ricardo Neves, que participou no primeiro estudo quando estava ligado à Universidade de Copenhaga, na Dinamarca.
“Os estudos indicam que os quinorrincos, estando presentes, indicam que o nível de poluição desse ecossistema é baixo, sendo que estes animais são fundamentais para o bom funcionamento de um ecossistema e também uma peça fundamental na cadeia alimentar”, frisou o investigador.
Vulgarmente designados por “dragões do lodo”, os quinorrincos são animais invertebrados microscópicos, com menos de um milímetro de comprimento, pertencentes ao pouco conhecido filo Kinorhyncha e que vivem na camada superficial do lodo ou entre grãos de areia.
Estes animais vivem na chamada meia fauna que, segundo Ricardo Neves, é “importantíssima para o estudo da biodiversidade dos ecossistemas marinhos e, também, para a tomada de decisões políticas em prol de um desenvolvimento ambiental sustentado”.
“A biodiversidade não é só macro fauna ou macro flora, há todo um mundo que está escondido, mas que é fundamental para um bom funcionamento do ecossistema”, sublinhou.
O nome Kinorhyncha provém da junção das palavras gregas “kineo” - que se movimenta - e “rhynchos” - focinho –, designação atribuída devido aos movimentos de retração e alongamento da região anterior do corpo deste animal.
O artigo publicado este ano resulta da investigação realizada para a tese de mestrado de Alberto González-Casarrubios, primeiro autor e aluno da Universidade Complutense de Madrid.
Estão descritas cerca de 150 espécies de quinorrincos em todo o mundo.
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