Naturalmente, todas as estrelas são bolas grandes e redondas de gás quente, mas também giram em redor do seu próprio eixo e dessa forma gera‐se uma força centrífuga que comprime um pouco a estrela. A distância existente entre o ponto médio do Sol e o seu equador, por exemplo, ultrapassa em 10 quilómetros aquela que existe desde o ponto médio até um dos seus polos. Isto não é muito, mas a KIC 11145123 é muito mais redonda. Apesar do seu enorme tamanho, esta diferença é de apenas 3 quilómetros.
Esta situação suscita duas perguntas: porque é que isso é assim? E como se pode medir uma coisa como esta? As respostas são: ainda não sabemos bem e com a asterosismologia. Esta última é uma ciência muito surpreendente, que nos permite estudar o interior das estrelas de longe. Funciona um pouco como a sismologia no nosso planeta. Quando os processos tectónicos fazem com que a Terra trema, as ondas percorrem o nosso planeta e desviam‐se e refletem‐se nas diferentes camadas; dependendo da grossura da rocha ou do metal no centro da Terra, as ondas propagam‐se mais depressa ou mais devagar.
Através da análise dessas ondas temos atualmente uma ideia muito precisa de como é o interior do nosso planeta. No entanto, as estrelas não são corpos fixos e encontram‐se muito mais longe. Não podemos instalar instrumentos de medição na sua superfície, apenas observar a mesma ao longe, motivo pelo qual os métodos se devem adaptar a estas diferentes condições.
Para isso, os astrónomos aproveitam o facto de as estrelas gasosas estarem sempre em movimento. A energia gerada nas mesmas aquece as estrelas e permite que as massas de gás andem de um lado para o outro. Produzem‐se ondas de densidade que se propagam e se refletem na superfície da estrela e se redirigem para o interior. A estrela inteira oscila como um sino ao dar as badaladas.
Como é evidente, isto não se pode observar diretamente, mas o movimento oscilatório tem um efeito na forma da estrela, o que origina pequenas variações na sua luminosidade. Assim, se se observarem as variações de brilho de uma estrela o tempo suficiente e com a atenção suficiente, é possível calcular como oscila. Por sua vez, isto permite tirar conclusões sobre a densidade e a temperatura do material do seu interior e, como é lógico, também sobre características como o seu tamanho. Tal como um sino grande oscila e soa de maneira diferente, o movimento oscilatório das estrelas também é diferente dependendo do seu diâmetro.
Além disso, umas oscilações são mais fortes no equador de uma estrela e outras, pelo contrário, perto dos polos. Se compararmos a sua força, é possível determinar com grande precisão o diâmetro e o achatamento de uma estrela, e foi isso exatamente o que se conseguiu em 2016 com a KIC 11145123. O telescópio espacial Kepler observou durante mais de quatro anos as suas variações de luminosidade para poder compilar bastantes dados. Agora sabemos que esta estrela é tão redonda como nenhuma outra, embora ainda não se tenha esclarecido o motivo para isso.
Um dos motivos possíveis é que, sem dúvida, gira muito devagar, três vezes mais lentamente do que o nosso Sol, mas precisa de uns escassos 27 dias para dar uma volta em redor do seu próprio eixo. Mas, até com esta velocidade de rotação, a KIC 11145123 devia mostrar um achatamento maior do que aquele que se calculou e observou. Supõe‐se que tem alguma coisa que ver com as características do seu campo magnético. Isto fica a dever‐se ao facto de o gás de uma estrela ter carga elétrica. A sua forma é influenciada não só pela rotação, mas também pela força do campo magnético que, por sua vez, depende do modo como a matéria carregada eletricamente se move nele. E tudo isso repercute nas oscilações possíveis.
Sem a asterosismologia ser‐nos‐ia impossível investigar todos estes processos que se dão no interior das estrelas. Esta disciplina constitui um exemplo perfeito de como diferentes ramos da ciência se podem complementar e inspirar mutuamente para saírem dos caminhos trilhados e desenvolverem novos métodos.
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