Há, hoje, mais mulheres a trabalhar em Portugal do que em décadas anteriores mas continuam a ganhar menos do que os homens e cerca de um quinto vive mesmo em risco de pobreza e exclusão social. Estas são algumas das principais conclusões dos dados compilados pela Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, no âmbito de um relatório que pretende assinalar o Dia do Trabalhador e o Dia da Mãe, que hoje, dia 1, se comemoram.
"A evolução histórica é notória, mas ainda há caminho a percorrer no que respeita à situação laboral das mulheres e mães portuguesas", alerta a instituição em comunicado de imprensa. "Estes são também dados que permitem verificar as diferenças que as mulheres em Portugal apresentam face às dos restantes países da União Europeia e a sua vulnerabilidade face à pobreza e ao desemprego", refere ainda o documento. Os números recolhidos atentam-no.
Existem atualmente 2,4 milhões de mulheres trabalhadoras em Portugal. Representam metade da população empregada. Dessas, segundo o Instituto Nacional de Estatística, 88% trabalha por conta de outrem, 8% são trabalhadoras por conta própria isoladas e apenas 3% são empregadoras. 10% trabalha apenas a tempo parcial. Desses 2,4 milhões, 82,6% presta funções na área dos serviços, 15,8% trabalha na indústria e 1,6% subsiste da agricultura e das pescas. Das trabalhadoras por conta de outrem, 83% estão efetivas e 14% têm contrato a prazo.
Em termos de população empregada, a diferença numérica não é grande. Em 2021, o número oficial de homens era 2.428.600 e o de mulheres 2.383.700. Mas, ao fim do mês, eles não levam para casa o mesmo do que elas. "Elas ganham, em geral, menos 220 € por mês. Mas a diferença acentua-se nos níveis mais elevados. Nos quadros superiores, elas ganham menos 700 € que os homens e menos 326 € entre os profissionais altamente qualificados", sublinha.
"É nas atividades financeiras e nos seguros que a diferença é maior. Elas ganham menos 624 €. Segue-se o setor da saúde com uma diferença de mais de 380 € e a educação com 349 € de diferença", informa ainda a instituição. Ainda assim, as coisas têm evoluído. Hoje, elas estão mais presentes nos cargos de decisão empresariais. "Quase um terço dos cargos dos conselhos de administração das empresas cotadas em bolsa são ocupados por mulheres", constata a fundação.
"Portugal é o décimo-primeiro país da UE27 com maior peso das mulheres nos conselhos de administração das empresas. A evolução em Portugal tem sido notória. Antes de 2010, o peso das mulheres era inferior a 5%", recorda esta entidade. O peso das empregadoras também aumentou. Em 1974, eram cerca de 12.000. Hoje, rondam os 76.500. "No contexto da UE27, Portugal é o segundo país onde o peso das empregadoras é mais elevado", regozija-se esta entidade.
Na política, também há mais mulheres eleitas. A percentagem de representantes femininas nas assembleias legislativas atingiu os 40,9% em 2021. Em 2003, não ia além dos 20,5%. Apesar dos avanços positivos, mantêm-se os alertas. As mulheres continuam a ser mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social do que os homens. Uma em cada cinco corre esse risco, alerta a fundação. "A percentagem do número de adultos, mulheres a viverem sozinhos com crianças ou filhos no total das famílias monoparentais, em Portugal, em 2020,é de 85,4%", sublinha a instituição.
O desemprego também as afeta mais. Mais de metade dos desempregados inscritos no Instituto do Emprego e da Formação Profissional são mulheres, 57%. "São também elas que estão em maioria enquanto beneficiárias dos subsídios de desemprego (56%) e do subsídio social de desemprego (61%)", refere. As dificuldades sentidas acabam por levar muitas mulheres a adiar a maternidade. Em 1960, tinham o primeiro filho aos 25. Hoje aos 30,7 anos.
"As mulheres têm vindo a optar por serem mães pela primeira vez numa idade mais tardia. Portugal é o oitavo país da UE27 onde as mulheres têm o primeiro filho mais tarde. Este adiamento reduz a probabilidade de famílias numerosas. O número médio de filhos por mulher é de 1,4 crianças, o oitavo valor mais baixo da UE27. Para que a substituição de gerações seja assegurada, é preciso que cada mulher tenha em média 2,1 filhos", avisa o relatório da fundação portuguesa.
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