Ao contrário do que sucede por cá hoje, em Portugal, ainda há menos de um século, as mulheres portuguesas não podiam trabalhar nem viajar sozinhas sem o consentimento do pai ou do marido, que também tinham o direito de abrir a correspondência que lhes era dirigida. Em 1925, a escritora norte-americana Doris E. Fleischman tornou-se na primeira mulher casada a conseguir o passaporte com o seu nome de solteira, com a ajuda da jornalista Ruth Hale, que tinha fundado a Lucy Stone League em 1921.

Lutar pela igualdade feminina era uma das principais pretensões da organização, numa altura em que as assimetrias entre géneros eram vincadas. Ruth Hale está, todavia, longe de ter sido a única mulher inconformada a lutar pelos direitos femininos. Muito antes dela, Olympe de Gouges, uma das heroínas da revolução francesa, que sofreu nas mãos de um homem rude e inculto, publicou, em 1791, uma declaração pública a favor dos direitos civis e políticos das mulheres. Mas só o fez após a morte do conjuge.

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Olympe de Gouges ficou viúva um ano depois de ter casado. Depois do afogamento do marido, rumou a Paris com o filho e abraçou esta causa. A sua grande vitória foi ter conseguido que as mulheres começassem a poder participar nas cerimónias nacionais logo no ano seguinte, ainda que em lugares menos privilegiados. "A mulher deve ter o direito de subir à tribuna", defendeu publicamente. A ousadia sair-lhe-ia cara. Em julho de 1793, seria detida e condenada à morte. Seria assassinada quatro meses depois. Nessa altura, a britânica Elizabeth Fry, o anjo das prisões, como então lhe chamava, batia-se pela melhoria das condições de vida nas prisões.

Alertada por um amigo da família, visitou a prisão de Newgate e rapidamente constatou que a ala feminina do estabelecimeno prisional, que também acolhia as crianças, era pior do que a dos homens. Viria a estar na origem do British Ladies' Society for Promoting the Reformation of Female Prisoners, em 1821, um movimento cívico que melhorou as condições de encarceramento e de reabilitação social de mulheres e crianças.

As causas que elas abraçaram

Nascida em 1944, a ativista norte-americana Angela Davis também fez o que pôde. Filha de professores, cresceu no Alabama e, desde muito cedo, percebeu o que era o racismo e a discriminação. Depois de estudar em França e na Alemanha, junta-se ao movimento Black Panthers e passa também a militar contra o sexismo. "Já não aceito as coisas que não posso mudar, por isso mudo as coisas que não posso aceitar", justificou. Essa tinha sido também uma luta da baronesa Amantine Dupin uns bons anos antes.

Destemida e independente, adotou o nome masculino George Sand como seu e começou a vestir-se com roupas masculinas. Para além de fumar em público, o que era um escândalo no século XIX, condenou publicamente o ideal de submissão feminina que os homens impunham às mulheres, o casamento e a religião. Nessa altura, nos EUA, Sojourner Truth vivia dias difíceis. Filha de escravos, foi vendida com 11 anos.

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Pouco depois, é obrigada a casar com um homem mais velho. Como o seu terceiro dono se recusava a dar-lhe a liberdade, fugiu. Durante três décadas, apoiada por comunidades religiosas, andou escondida. É nessa altura que se torna militante. Em 1851, faz um discurso em defesa dos direitos civis que fica para a história. Por essa altura, já a francesa Hubertine Auclert milita na mesma causa. Aos 18 anos, depois da morte da mãe, é enviada para um convento. As freiras lidam mal com o seu espírito rebelde e com a sua defesa de causas fraturantes e expulsam-na. Inconformada, luta pelo direito de voto feminino e funda, em 1900, o jornal La Citoyenne.

É graças a ela que as mulheres francesas casadas obtêm a permissão de poder gerir o seu próprio salário, um direito que não tinham até então. Para Mary Wollstonecraft, mãe da escritora Mary Shelley, autora de "Frankenstein", a prioridade era, uns anos antes, o acesso das mulheres à edução. Em 1972, a filósofa, poeta e ativista publica um panfleto feminista que denuncia a sociedade patriarcal da época e defende os direitos das mulheres, tal como a francesa Louise Weiss viria a fazer no início do século XX.

A feminista portuguesa que fintou a justiça

Tal como Hubertine Auclert, Maud Wood Park e Eva Péron, também a médica e feminista Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher portuguesa a votar, também lutou pelo sufrágio feminino. O facto de ser viúva e de ter de trabalhar para sustentar a sua filha, Emília Barreto Ângelo, permitiu-lhe invocar em tribunal o direito de ser considerada chefe de família, podendo votar nas eleições constituintes de 1911. Até essa data, só os chefes de família do sexo masculino é que o poderiam fazer.

Para evitar futuros embaraços, a legislação foi alterada logo no ano seguinte, impedindo as mulheres na condição de Carolina Beatriz Ângelo de o fazer. "Excluir a mulher (…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias ideias da democracia", lamentaria a médica. Apesar de ter sido amplamente noticiado em Portugal e de ter tido repercussões no estrangeiro, só 2o anos depois, em 1931, foi permitido às portuguesas começarem a exercer o seu direito de voto.

Apesar do (longo) caminho que ainda há para percorrer, também é preciso reconhecer que foram consideráveis os avanços conseguidos nos últimos séculos. Ainda assim, Portugal tem, hoje, uma das maiores desigualdades salariais entre géneros. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, os homens ganham, em média, mais 22,1% do que as mulheres. Para lembrar as diferenças que ainda persistem, assinala-se anualmente, a 26 de agosto, o Dia Internacional da Igualdade Feminina.