Cheguei a Casablanca por volta do meio dia. Estava avisada de que a cidade não merecia a visita, mas quis comprovar por mim mesma, talvez devido a alguma esperança vinda do romântico peso do nome. Infelizmente a geral opinião estava certa por isso, após uma visita à imponente mesquita, convenci o Ricardo a fugirmos dali depressa.
Apanhámos o comboio no derradeiro segundo e rumámos a Rabat. Assim que saí da estacão senti-me imediatamente bem na cidade. Bonita, minimamente cuidada e, claro, cheia de obras, como Marrocos inteiro. Com as nossas passadas determinadas e velozes (resquícios genéticos de conquistadores antepassados?) em pouco tempo estávamos na Medina, nos fantásticos cemitérios sobranceiros ao mar e no Kasbah dos Oudaias, uma preciosidade a não perder. Uns petisquitos de rua, um barzinho a dar para o mar, os jardins andaluzes, e então:
- Ricardo?-
- Hum?-
- Já estou farta de Rabat, vamos para Meknés? -
- Mas tu hoje estás armada em heroína de Júlio Verne, é?!?-
- Vá lá! Se corrermos ainda apanhamos o comboio das seis e doze!-
- Impossível! Vamos apanhar um táxi!-
- Com este trânsito? De taxi é que era impossível! Vamos!-
E mais uma vez foi à justa. Chegámos à linha ao mesmo tempo que o trem. E, enquanto a noite escurecia e eu viajava para Este, lembrei-me do que diria o meu pai...
- Mas o que é que tu consegues conhecer a esse ritmo alucinante? Não é assim que se viaja, filha! Há que saborear!-
E depois lembrei-me do seu pai, que nunca conheci, mas que também gostava de estar sempre de partida e cuja frase mais célebre era o "vamos embora?". Fiquei a matutar... Talvez haja algo mais profundo em cada um de nós que nos ritma o compasso dos dias, das viagens e da vida. Talvez o ritmo alucinante potencie, por si só, uma intensidade que compensa esta espécie de bulimia incontrolável. Sim, deve ser isso.
- Não percebes, pai? Só estou a ir ao meu ritmo. Talvez um dia volte aos sítios que mais gostei ... e me saiba bem abrandar.
Ana Amorim Dias
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