A entrada de Portugal na então Comunidade Europeia (1986) contribuiu muito positivamente para o processo de consolidação do regime democrático e das suas instituições — o regime autocrático que tinha governado durante 48 anos havia cessado em 1974 e o país atravessava um duro processo de descolonização — e foi fundamental para o desenvolvimento económico e social a que assistimos nos últimos quarenta anos.
Esta evolução foi possível graças aos Fundos Estruturais e de Coesão, dos quais sempre fomos grandes beneficiários. Mas também muito se deveu ao empenho coletivo português de participar ativamente na construção do projeto europeu, o que influenciou de forma indelével o processo de transformação que se fez sentir na política, na diplomacia, na economia e nos padrões sociais. Destaca-se, naturalmente, a integração no mercado único e a coordenação de políticas económicas e orçamentais, que abriram as nossas portas à Europa e ao Mundo, traduzindo-se num forte desenvolvimento socioeconómico.
A nossa vida é alta e positivamente influenciada pelas políticas e instituições europeias. A União Europeia desempenha um papel fundamental em diversas áreas, desde a economia até ao ambiente, passando pela educação e direitos humanos, migração e, claro, a saúde. As decisões tomadas no Parlamento Europeu têm repercussões diretas nas políticas e na legislação nacional, moldando o futuro de Portugal e dos seus cidadãos.
É a legislação europeia que introduz regras rigorosas quanto à produção, fabrico e comercialização de alimentos, medicamentos e aparelhos eletrónicos, por exemplo. É graças ao princípio do mercado único e da livre circulação na UE que somos hoje livres de viajar, estudar, trabalhar e viver em toda a Europa, e vice-versa, e que temos acesso às melhores tecnologias e produtos no mundo inteiro. São pequenos detalhes da nossa vida e dia a dia que, sem Europa, seriam profundamente diferentes.
Viver a Europa significa valorizar a evolução do país e da vida dos portugueses.
Infelizmente, no panorama político português, as eleições europeias não recebem a atenção merecida. Nos últimos anos, observamos uma tendência preocupante de declínio na participação nas eleições europeias. Portugal registou uma abstenção próxima dos 70%, numa evolução contrária à tendência europeia. Estes valores colocaram Portugal, em 2019, no 5.º nível mais baixo de participação entre os 28 estados-membros e o mais baixo entre os que haviam aderido à UE antes de 2004.
Ignorar as eleições europeias é, na realidade, negligenciar uma oportunidade crucial de influenciar o curso dos acontecimentos e de garantir que os interesses do país são representados de forma eficaz a nível europeu
A problemática da participação — ou falta dela — é complexa e multifatorial. Alguma da evidência científica disponível parece apontar para algumas razões: a idade, as desigualdades de rendimentos e a relação entre os cidadãos e as instituições. No que respeita a idade, muito se tem comentado o aparente desinteresse por parte dos jovens, aliás, fenómeno comum a todos os países desenvolvidos. Este grupo populacional, apesar de representar uma parcela significativa da população, muitas vezes não sente a necessidade de participar ativamente no processo democrático, especialmente quando se trata das eleições europeias. É argumentável que essa apatia é alimentada pela falta de educação cívica adequada nas escolas e pela ausência de um debate político estimulante na esfera pública. Sem um entendimento sólido do papel da União Europeia na vida quotidiana e das consequências das decisões tomadas a nível europeu, os jovens podem facilmente sentir-se alienados e desinteressados no processo eleitoral.
Portanto, ignorar as eleições europeias é, na realidade, negligenciar uma oportunidade crucial de influenciar o curso dos acontecimentos e de garantir que os interesses do país são representados de forma eficaz a nível europeu. É crucial reconhecer a importância das eleições europeias e o impacto que estas têm nas vidas dos cidadãos portugueses.
Promover a participação nas eleições europeias é essencial para fortalecer a democracia e garantir uma representação política diversificada e inclusiva. Cada vez mais, existem projetos organizados quer pelos partidos políticos quer pela sociedade civil que promovem a literacia e a participação a nível europeu. Nós, jovens portugueses, em particular, temos um papel vital a desempenhar neste processo. A verdade é que nós representamos o presente e o futuro do país e temos o poder de moldar as políticas e as decisões que irão afetar as gerações vindouras.
Fazemos parte da primeira geração que nasceu e viveu toda a sua vida como cidadãos portugueses-europeus. Temos responsabilidades acrescidas sobre o seu sucesso e futuro
É fundamental que sejamos educados sobre a importância do voto europeu e capacitados para participar ativamente no processo político. As escolas e as organizações da sociedade civil têm um papel crucial a desempenhar neste sentido, ao proporcionarem oportunidades de aprendizagem e envolvimento cívico.
Em última análise, as eleições europeias não devem ser vistas como uma mera formalidade, mas sim como um momento crucial para exercer o nosso direito democrático e moldar o futuro de Portugal e da Europa.
Fazemos parte da primeira geração que nasceu e viveu toda a sua vida como cidadãos portugueses-europeus. Temos responsabilidades acrescidas sobre o seu sucesso e futuro, mais para mais porque beneficiamos enquanto geração de uma Europa aberta, livre, que comunga dos valores universais da solidariedade e amizade entre povos e que dá esperança num amanhã melhor. Viver a Europa é também garantir que participamos na eleição dos nossos representantes e na construção do futuro do projeto europeu.
Lucas Chambel, Presidente da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
Comentários