Nasceu em Beringel, uma pequena aldeia do Alentejo no distrito de Beja, mas foi em Paris, para onde emigrou em 1970, depois de ter pedido para cantar no restaurante Chez Louisette, que ganhou fama. Um dos clientes, André Pascal, encantado com a sua voz, levou-a até Claude Carrère, o produtor musical que viria a produzir "Un portugais" e "Um português", a canção que rapidamente se tornaria no hino dos emigrantes nacionais.

Agora, aos 71 anos, a cantora portuguesa, que já vendeu mais de 20 milhões de discos e quase 5 milhões de livros, está em digressão em França com o espetáculo "Carte postale du Portugal", um espetáculo onde revisita alguns dos êxitos da carreira e apresenta composições originais, ao lado do cantor Pedro Alves e da fadista Mara Pedro. Numa entrevista radiofónica para o promover, a artista recordou a infância e fez revelações.

"Nunca soube o que foi um beijo da minha mãe. Ela não me criou. Eu fui criada num orfanato, o asilo D. Pedro V, dos 5 aos 11 anos", lamentou Linda de Suza, que em 1983, quando atuou pela primeira vez no Olympia de Paris, fez questão de convidar a progenitora a vê-la ao vivo. "Não tive um sentimento de vingança. Tive orgulho que ela tivesse vindo ver-me", desabafa a intérprete de êxitos como "Uma moça chorava" e "Lisboa".

Antes de emigrar para França com a mala de cartão que acabaria por dar nome aos seus livros e a um dos seus espetáculos, trabalhou numa fábrica têxtil e como empregada de servir, nos arredores de Lisboa. "Vivi na Amadora numa casa pré-fabricada em madeira que foi construída pelo meu pai. Fazíamos as nossas necessidades num balde. Passava lá perto uma pequena ribeira e era lá que, depois as íamos deitar", desabafa ainda.

Apesar dos luxos e da riqueza no auge da fama, Linda de Suza não renega as origens. "Não devemos ter vergonha do nosso passado", defende. "Tive de me adaptar. Eu sei o que é a vida e as pessoas identificam-se com as palavras que saem de dentro de mim", prossegue. "Fiz a minha carreira com o meu coração. Não com o meu corpo", assegura. "41 anos depois [da estreia], ainda vivo um sonho", garante. "Fui salva pela minha fé", desabafa.