Transversal a todas as faixas etárias e até aos dois sexos, a depilação genital é, nos dias que correm, uma prática sem tabus, regida por fatores culturais e estéticos que aumentam a autoestima feminina e masculina. Mas, simultaneamente, do ponto de vista ginecológico, podem existir alguns problemas associados. Maria do Céu Santo, ginecologista, explica que a função principal dos pelos púbicos é "a proteção dos órgãos sexuais".

"O hímen também serve de barreira protetora de infeções mas, quando desaparece o pelo, assume um papel protetor não só da vagina como da uretra", sublinha. Não é por acaso que é nas zonas de atrito, nas axilas e nas virilhas, que existem mais pelos. Estas têm também a função de "diminuir o atrito" nestas zonas, protegendo-as de "algumas lesões cutâneas, nomeadamente dermatite de contacto, conhecida por assado", refere.

A ginecologista recorda ainda que o principal mecanismo de limpeza da vagina é o corrimento. "Funciona como um duche vaginal e, desde que não tenha odor nem prurido, é saudável", assegura. Para Maria do Céu Santo, os métodos depilatórios "devem ser adequados ao estilo de vida e às necessidades de cada mulher". É importante, ainda, estar atento se existem problemas que se repetem na sequência da depilação.

Como existe a possibilidade de surgirem infeções urinárias e vaginais, prurido ou comichão, exigem-se cuidados acrescidos no que se refere à remoção total ou parcial desses pelos. "Nesse caso, deve-se ponderar a hipótese de deixar de depilar essa zona", aconselha mesmo a especialista em ginecologista. Uma opinião que muitos médicos, nacionais e internacionais, também partilham, recomendando prudência aos pacientes.

As vantagens da depilação genital

Está prática tem uma série de benefícios:

- Aumento da sensibilidade

"Ao eliminar pelos da zona genital, o contacto com a pele durante o ato sexual torna-se mais intenso", explica a ginecologista.

- Controlo do odor

"Nas mulheres que têm muito corrimento ou que não se limpam adequadamente quando urinam, a presença de pelos pode potenciar o aparecimento de um odor desagradável", assegura a especialista.

- Questão estética e visual

Para além de conceder uma maior sensualidade às mulheres jovens, nas faixas etárias após a menopausa, a depilação genital pode ter um aspeto positivo. A ginecologista explica que, com o avançar da idade, "os pelos púbicos ficam brancos e mais rarefeitos. Nestes casos, as mulheres sentem uma certa inibição perante os companheiros e muitas optam por pintar, o que causa, por vezes, algumas alergias, encontrando na depilação uma solução para o problema".

As desvantagens da depilação genital

Nem tudo são benefícios. Também existem fatores que a obrigam a estar alerta:

- Aparecimento de infeções

"Os pelos protegem a uretra e a vulva e, por isso, previnem infeções urinárias e vaginais", sublinha Maria do Céu Santo.

- Diminuição da sensibilidade

"Se inicialmente a ausência de pelos aumenta a sensibilidade da pele, com o passar do tempo e a habituação, essa sensibilidade diminui. No entanto, sabe-se também que a tração do pelo púbico durante as relações sexuais pode estimular as terminações nervosas nesta zona", refere.

- Dermatite de contacto

"Desde que se começam a depilar, várias mulheres recorrem às consultas de ginecologia porque sentem prurido e a pele irritada devido à depilação", alerta Maria do Céu Santo.

Os perigos da depilação integral

Segundo Maria do Céu Santo, "os pelos na zona do períneo, que são eliminados na depilação integral, deveriam idealmente ser mantidos de forma a evitar a passagem do colibacilo para a vagina e uretra", uma bactéria existente nas fezes que está frequentemente associada ao aparecimento de infeções urinárias. Caso faça este tipo de depilação, nunca deve esquecer um cuidado básico da higiene íntima feminina, após a evacuação. "Deve limpar-se de frente para trás", aconselha a especialista.

Depilação genital + pensos higiénicos = inflamação da pele

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Os pelos isolam o contacto da zona da vulva com o penso higiénico. Quando a pele deixa de ter esse fator de proteção, muitas vezes, segundo Maria do Céu Santo, "o contacto direto com os pensos higiénicos pode levar à dermatite de contacto na pele da vulva e, nalgumas situações, favorecer o aparecimento de fungos".

Caso essa situação ocorra, o que pode acontecer, aplique um creme protetor hidratante, como os que se utilizam normalmente para atenuar as assaduras que ocorrem na pele do bebé, na região da vulva para evitar o contacto direto da pele desta zona com o penso ou utilize tampões.

Os cuidados essenciais a ter quando se depilar genitalmente

Estes são alguns dos pormenores a ter em conta no que se refere a este tipo de depilação:

- Lâminas

Deve ter atenção aos golpes e ao estado das lâminas. É aconselhável limpar e substituir regularmente. Nunca use lâminas com ferrugem. Por vezes, o crescimento do pelo provoca uma sensação desagradável ao picar e, algumas vezes, até prurido.

- Cera

Nunca use cera reciclada e certifique-se que a espátula usada é nova, descartável. Caso contrário, corre o risco de se infetar. Garanta também uma aplicação correta. Se for mal aplicada, ou se estiver muito quente, a cera pode provocar lesões na pele, como queimaduras.

- Máquinas depilatórias

Atenção aos pelos encravados, pois podem resultar numa foliculite, uma inflamação na base do pelo. Nalguns casos, por vezes, é necessário recorrer ao médico para fazer um tratamento adequado. Deve ainda usar, durante o duche, uma luva de crina para esfoliar e impedir a obstrução do pelo. A lâmina também deve ter uma manutenção regular e cuidada.

- Laser

Antes da depilação não deve expor a sua pele ao sol nem usar descolorantes. Não deve depilar a zona pretendida com cera ou pinça até um mês antes das sessões. Após a depilação deve ter igualmente cuidados com a radiação solar e não utilizar quaisquer objetos para arrancar os pelos.

Texto: Cláudia Vale da Silva com Maria do Céu Santo (ginecologista e obstetra)