Depois de uma versão exclusivamente digital, a Web Summit 2021 regressou a Lisboa. A edição deste ano deste evento internacional, que se mantém na capital portuguesa até 2028, voltou a ser presencial e acolheu 42.751 participantes, oriundos de 128 países. Pela primeira vez, mais de metade, 50,5%, eram mulheres. Embora os negócios tecnológicos e a proteção de dados fossem dos temas mais abordados pelos conferencistas, a saúde global também esteve em cima da mesa. A par de outras frases proferidas, estas foram algumas das afirmações que mais dão que pensar.

1. "Se toda a gente se vacinasse e usasse máscara durante um mês, a pandemia acabava"

Dorry Segev, professor de epidemiologia na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos EUA, é perentório ao defender a importância dos testes, das vacinas e das máscaras faciais de proteção social. "São as três formas de nos protegermos da COVID-19. Adote, pelo menos, duas delas", aconselhou durante a intervenção que fez em Lisboa.

"As máscaras dão-nos liberdade, não nos tiram a liberdade. Temos aqui uma conferência com 40.000 pessoas. Esta é a prova. Se usarmos máscara, podemos fazer muitas coisas. Se não usarmos, ficamos limitados nas opções", adverte o docente, um dos epidemiologistas presentes no evento. "Se está farto de fazer testes, use máscara e vacine-se", recomenda.

2. "A obesidade é a maior ameaça à vida humana que alguma vez enfrentámos"

O surto viral de COVID-19 não foi o único problema de saúde global abordado durante o encontro. O empreendedor indiano Tushar Vashisht apresentou na Web Summit 2021 a aplicação móvel HealthifyMe. Esta app já ajudou 25 milhões de pessoas em todo o mundo a tornarem-se mais saudáveis e em forma. O objetivo deste executivo tecnológico é chegar aos mil milhões de utilizadores nos próximos anos.

3. "Antigamente, voltar a andar após uma paralisia era um milagre. Agora é neurociência"

Mary-Ann Russon, jornalista da BBC, moderou uma conversa que juntou no palco HealthConf da Web Summit 2021 o professor de neurociência Gregoire Courtine, a neurocirurgiã Jocelyne Bloch e o atleta paralímpico David Mzee. Foi graças aos dois especialistas que o desportista voltou a andar após um grave acidente que o deixou tetraplégico há nove anos.

4. "A pandemia mudou para sempre a forma como nos exercitamos. O confinamento acabou e as pessoas não voltaram ao ginásio"

Daniel Sobhani é diretor-executivo da Freeletics, a empresa de fitness digital com o crescimento mais rápido do mundo. À frente deste serviço de acompanhamento que define planos de treino personalizados e adaptados aos objetivos do utilizador, conta com 50 milhões de utilizadores em todo o mundo. "Antigamente, gostava mais do que o exercício físico fazia por mim e pela minha saúde do que propriamente do treino em si. Mas o exercício físico pode ser divertido. Para tal, precisamos de o reinventar", defendeu em Lisboa.

5. "Muitas pessoas não sabem que prejudicariam menos o planeta se não consumissem uma peça de fruta vinda do outro lado do globo"

Vladimir Mićković, empresário esloveno, cofundador da Juicy Marbles, empresa responsável pelo desenvolvimento e pela comercialização do primeiro filet mignon vegano do mundo, falou de alimentação e sustentabilidade. "As pessoas darão sempre uma nova oportunidade à carne e isso é normal, tendo em conta que o ser humano come carne há milhões de anos", considera.

"Alguns vão argumentar que apenas comem a carne produzida localmente, mas não sabem que prejudicariam menos o planeta se consumissem uma peça de fruta vinda do outro lado do globo", critica o empreendedor, que aproveitou a presença na capital portuguesa para apresentar publicamente um produto que tem a mesma forma, a mesma textura e o mesmo aroma da carne.

6. "A pandemia não vai terminar em lugar nenhum enquanto não acabar em todo o lado"

Curtis Brainard, editor da revista de divulgação científica Scientific American, moderou a conversa que reuniu no palco HealthConf da Web Summit 2021 a ministra da saúde portuguesa, Marta Temido, e, ainda, o diretor-executivo da empresa portuguesa de prestação de cuidados de saúde CUF, Rui Diniz. "O sucesso da vacinação em Portugal não é um resultado do Ministério da Saúde ou de uma pessoa, é da sociedade", defendeu ainda a governante.

7. "Precisamos de medicamentos melhores, mais baratos e que sejam produzidos mais rapidamente"

O mundo mudou com a pandemia viral de COVID-19 e, na opinião de Tina Larson, engenheira bioquímica com mais de 20 anos de experiência na indústria biofarmacêutica, os desafios globais para o setor da saúde são, hoje, exigentes. A investigadora e empreendedora fundou, há oito anos, a Recursion, uma empresa que se dedica à descoberta e à produção de novos fármacos.

8. "Quando os médicos virem a transformação que os psicadélicos produziram nos seus pacientes, vão querer prescrevê-los"

Ekaterina Malievskaia, cofundadora da empresa Compass Pathways, não tem dúvidas. Depois de ter observado de perto os efeitos num familiar próximo, esta médica, nascida na Rússia, acredita que, daqui a cinco anos, em 2026, a terapia com substâncias psicadélicas será largamente usada no tratamento da depressão resistente, uma variante desta patologia que não responde aos tratamentos atualmente existentes.

9. "Existem efeitos secundários inesperados nos medicamentos por não terem sido estudados em mulheres"

Georgie Bruinvels, cientista, alertou para um problema que raramente é falado. Segundo a especialista, os fármacos são largamente estudados em homens brancos jovens. "Mas as mulheres são muito diferentes e não apenas por terem um sistema reprodutivo. Também o sistema cardiovascular e o sistema imunitário feminino respondem de maneira diferente", defende a investigadora, uma das funcionárias da empresa Orreco, que desenvolve soluções personalizadas que melhoram a performance de atletas de alta competição.

10. "A desinformação está a tornar-se epidémica"

Apesar de estar em Glasglow, na Escócia, a participar numa importante cimeira sobre as alterações climáticas, António Guterres, secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU), deixou uma mensagem em vídeo que foi exibida no palco central da Web Summit 2021. O ex-primeiro-ministro português condenou publicamente a utilização de dados obtidos online para "influenciar opiniões, manipular comportamentos e violar os direitos humanos", criticou.