Entre proibições e permissões, a grande certeza é que o surto ainda não acabou e que todos os cuidados (ainda) são poucos. "A nossa vida não vai ser muito diferente da que temos tido até aqui, enquanto não tivermos uma de duas coisas, a imunidade de grupo e a vacina. Só nessa altura, é que a nossa vida poderá voltar lentamente a ser como era anteriormente, porque a probabilidade de termos a infeção é muito baixa", adverte Jorge Atouguia, médico especialista em infecciologia e medicina tropical.

No dia 27 de dezembro de 2020, iniciou-se o processo de vacinação contra a COVID-19 em Portugal mas, até ao início de junho de 2021, só 40% da população tinha recebido, pelo menos, uma dose, com a imunidade de grupo ainda longe de ser conseguida. Até lá, refere o também presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, "quem não contactou com o vírus tem de continuar a proteger-se, porque ainda temos taxas de transmissão relativamente elevadas", avisa o especialista.

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"Só quando chegarmos a um risco baixo de infeção é que podemos liberalizar a vida das pessoas", garante. Assim sendo, Jorge Atouguia aconselha as pessoas a ficar o mais tempo possível em casa, a lavar as mãos regularmente, a manter um distanciamento físico de dois metros, a higienização frequente dos espaços comuns e uso de máscara em locais fechados. Evitar uma nova onda, como tem sucedido noutros países, está "claramente nas nossas mãos", afirma o infeciologista. Mas também convém perceber que uma nova onda nunca será igual às anteriores, porque já existem pessoas com anticorpos e está praticamente provado que a exposição ao novo coronavírus produz imunidade.

Não sabemos ainda com clareza é durante quanto tempo. "É muito importante estarmos informados e estar conscientes que as coisas vão melhorar. Temos uma curva descendente e, a cada dia que passa, teremos menos probabilidade de encontrar pessoas infetadas, mas para isso não podemos entrar em facilitismos", avisa, contudo, Jorge Atouguia. Por esse motivo, saiba o que deve fazer para evitar ser infetado, porque a pandemia ainda não acabou e há gestos que não podem ser descurados.

Máscaras e viseiras

Numa primeira fase da pandemia viral que confinou o mundo, chegou a ser recomendada mas, um ano e meio depois, já praticamente não se vê. "A viseira não protege de qualquer tipo de infeção por via aérea, porque o espaço entre aquela e a cara é tão largo que as partículas virais que estejam no ar poderão entrar. Pode dar uma falsa sensação de proteção", esclarece o infeciologista. Portanto a viseira obriga ao uso de máscara, se as pessoas tiverem a, pelo menos, 1,5 metros de distância.

A viseira pode ser útil, sim, em situações em que as pessoas, no trabalho, possam ter contacto com áreas que poderão estar infetadas. "Protegem-nos dos automatismos que temos, como o tocar na boca, no nariz e nos olhos", refere Jorge Atouguia. Outra dúvida frequente que muitos continuam a ter é se as máscaras feitas em casa são seguras. O especialista garante que "é sempre preferível usar uma máscara do que não ter nada". No entanto, mais importante do que a máscara é saber usá-la, assegura.

"Antes de a colocar ou retirar, a higienização das mãos é importantíssima e, quando está posta, não lhe devemos mexer", avisa o infeciologista. Um gesto que muitos ainda hoje ignoram. Fundamental, também nas máscaras comunitárias, é a sua desinfeção após o uso. "Quando não estão deterioradas, podem ser usadas, depois de lavadas a temperaturas altas ou com água e sabão. Cuidado com os produtos usados, porque poderão ser tóxicos e estarão contacto com a pele", avisa Jorge Atouguia.

Luvas

Também têm vindo a ser descartadas e, nos dias que correm, nas idas às compras, já são poucos os que as usam. "As pessoas que, no seu dia a dia, saibam usar as luvas podem fazê-lo, porque acredito que dê uma sensação maior de segurança a quem recebe dinheiro, tem de fazer limpezas ou executar outras tarefas. No entanto, tem de se lembrar que as luvas são como as mãos. Se levamos a luva contaminada à cara, vamos infetar-nos", adverte o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante.

"Ela nunca pode tocar na boca nem no nariz e nos olhos e, se recebermos, por exemplo, troco de alguém com luvas, não podemos pensar que é seguro", lembra o infeciologista. "Pode ser mais seguro, apesar de mais incómodo, fazer a lavagem de mãos ou desinfetá-las com uma solução à base de álcool, depois de contactar com superfícies ou ter alguma situação de risco", refere ainda o médico especialista em infecciologia e medicina tropical. Essa opção pode ser uma explicação para o seu abandono.

Roupa

Devemos usar manga comprida quando saímos de casa como se chegou a recomendar no início da pandemia? Jorge Atouguia acha que "é um exagero". "Não é pelas mangas compridas que deixamos de ser infetados, até porque vejo algumas pessoas a usarem as mangas compridas para abrir as portas", sublinha o especialista.

"O que acontece nessas situações é que, caso a maçaneta estiver infetada, a roupa pode ficar com algum componente viral ativo e se a pessoa, por sua vez, contactar com a roupa, pode ficar infetada", esclarece. "É a lavagem das zonas expostas que nos retira os riscos de podermos ter alguma forma viral ainda ativa", refere o médico.

Regresso ao trabalho

Com horários desfasados e/ou equipas em espelho, mantendo o teletrabalho em formato parcial, a realidade laboral é hoje outra mas, tal como antes, continua a ter de haver uma higienização mais frequente. "Convém perceber se somos só nós que usamos os objetos com os quais trabalhamos. Se assim for, temos o nosso espaço controlado", afirma Jorge Atouguia.

"O problema, mais uma vez, podem ser os nossos automatismos", alerta. "Temos de evitar tocar na cara e, claro, os espaços comuns têm de ser bem desinfetados. Em espaços abertos, a recomendação é que as zonas de trabalho estejam encostadas à parede ou janela para que haja espaço no meio para circular sem se romper a regra do afastamento", sugere o especialista.

Em casa

Também aqui muitos têm vindo a baixar as guardas. Jorge Atouguia aconselha os portugueses a retirarem os sapatos mal cheguem a casa e a desinfetar as solas com água e sabão ou desinfetante. "Porque podem contactar com solos contaminados", esclarece o médico. No que diz respeito à roupa, "se tivermos estado em contacto com outras pessoas ou com superfícies em que há risco de infeção, devemos ter o cuidado de tirar a roupa, mas a probabilidade de infeção é muito baixa", assegura.

Deve ainda ter algum cuidado com os sacos que leva para casa. "Quando vamos à mercearia ou ao supermercado, quase sem reparar, colocamos os sacos no chão e com esse gesto podemos estar a transportar o vírus para casa", avisa o especialista. "Convém, por isso, que os sacos sejam desinfetados ou lavados ou, pelo menos, expostos ao sol durante três a quatro dias no exterior da casa", explica o infeciologista. No início, muitos desinfetavam as compras no regresso a caso. Hoje, poucos o fazem.

Visitas às famílias

O grande problema são os grupos de risco, sobretudo no caso de pessoas que ainda não tenham sido vacinadas. Portanto, há vários fatores a ter em consideração no que se refere a visitas familiares. "Desde que, no conjunto das pessoas da família, não haja nenhuma situação de risco objetivo, as pessoas podem encontrar-se e partilhar um mesmo espaço, mas mantendo as distâncias e nada de beijos. Se necessário, devem continuar a usar máscara", esclarece, todavia, Jorge Atouguia.

Passeios ao ar livre

A regra fundamental é levar sempre uma máscara consigo. "Caso estejamos isolados, podemos dispensá-la, mas não sabemos se vamos ter percursos mistos em que vamos encontrar pessoas", sublinha o médico. Em espaços como os jardins, evite sentar-se. "Não sabemos se, antes de nós, esteve lá uma pessoa que libertou partículas virais ainda ativas", adverte o especialista.

"Por outro lado, pelo facto de estarmos no exterior e de haver vento, a probabilidade das partículas ficarem nas superfícies aumenta. Se se quiser sentar, o melhor seria colocar um elemento de proteção entre a superfície e o corpo", recomenda ainda Jorge Atouguia. Para desfrutar desses espaços em segurança, o ideal é levar uma manta ou até mesmo uma toalha de praia.

Ginásios

Muitos já regressaram aos treinos mas uma grande parte dos frequentadores habituais prefere esperar. Para o Jorge Atouguia, são dos locais é mais difícil manter distanciamento e a desinfeção. "Em esforço, a nossa respiração altera-se e a eliminação de partículas respiratórias vindas de zonas inferiores do aparelho respiratório, que é onde o vírus se encontra, é mais frequente. As autoridades de saúde e os profissionais da área têm de perceber muito bem como podem estabelecer as regras de funcionamento", avisa.

Viagens

Embora muitos nunca tenham deixado de as fazer, as novas regras têm desencorajado outros. "Há países que só permitem a entrada de pessoas vindas de fora se fizerem quarentena à chegada", sublinha o infeciologista. "Só vamos voltar a viajar normalmente quando as coisas estiverem mais calmas e, mesmo nessa altura, as pessoas que não têm anticorpos poderão ter receio de o fazer", refere.

"Há que perceber que nem todos os países estão no mesmo ponto ou têm o mesmo tipo de curva e isso faz com que estejamos mais limitados ao nosso espaço territorial e, mesmo aí, temos variações grandes do ponto de vista de regiões. Quem se aventurar deverá optar por locais com taxas de transmissão muito baixas e mantendo sempre todo o cuidado", acrescenta ainda o especialista.