Já todos nós tivemos uma caixa de lápis no jardim de infância com a qual descobrimos as cores do mundo e demos largas à nossa imaginação. É esta uma das máximas de Hugh MacLeod, publicitário e cartunista norte-americano, que, no seu manifesto, "Como ser criativo", revela 26 fórmulas para se ultrapassarem alguns medos e dar voz à criatividade com que todos nós nascemos. Leia com atenção as nossas dicas, os testemunhos de alguns cérebros criativos e arrisque mudar a sua vida. Não é difícil!

A arte de criar por si só é um desafio que pode ser ganho. "Estou sempre a fazer algo que não consigo, com vista a aprender como fazê-lo", desabafou, um dia, o prestigiado artista plástico espanhol Pablo Picasso, que viveu entre 1881 e 1973. Essa é, também, uma ideia partilhada por Manuel Domingos, neuropsicólogo. Segundo o especialista, a criatividade é inerente a qualquer ser humano. No entanto, a sua manifestação exterior é mais ou menos visível consoante a atitude de cada pessoa.

A criatividade revela-se nas brincadeiras dos mais novos mas precisa de ser estimulada
A criatividade revela-se nas brincadeiras dos mais novos mas precisa de ser estimulada
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Na opinião de Manuel Domingos, "vamos comparando aquilo que fazemos com o que os outros fazem, colhendo lições. Isso pode ajudar a que a nossa criatividade seja cada vez mais apurada, mas não nos podemos demitir daquilo que nós somos", defende o especialista. "Caso contrário, não seremos criativos mas meramente reprodutores", acrescenta ainda o neuropsicólogo. É por isso fulcral que cada pessoa desenvolva a sua própria capacidade criativa. "Isso não depende somente das aprendizagens que vêm desde a infância mas também de estruturas cerebrais que estão diretamente implicadas na nossa criatividade", explica.

"Mesmo um analfabeto, pode ser criativo e temos várias provas disso, como o caso de Mozart, que foi um grande compositor", refere ainda. "Todos somos criativos à nossa maneira", defende Manuel Domingos. A exploração das nossas capacidades torna-se, assim, essencial à evolução do nosso processo criativo. Mas o que é, no fundo, a criatividade? Este especialista é perentório. "Há coisas que têm de ser aceites como eminentemente especulativas", defende. Não é, todavia, o único.

O problema da rotulagem

Tal como defendeu um dos grandes filósofos que refletiu sobre esta matéria, Henri Bergson, "definir uma coisa é acabar com ela". Porém, já muitos tentaram colocar-lhe um rótulo, descrevê-la, torná-la real. Sabia que este foi já um tema discutido na Grécia Antiga? Nessa época remota, a inspiração e originalidade seriam criadas pelos deuses, aos quais se chamavam supervisores da criatividade humana. Também no tempo moderno, na fase romântica do século XIX, muitos se questionaram.

Indagaram frequentemente de onde viria a criatividade de poetas, músicos e bailarinos. Esse rasgo de originalidade era explicado, não através do lado racional, mas através das emoções. Seriam elas a possibilitar a inspiração e a imaginação. No entanto, existem, hoje em dia, muitas formas de explorá-la e de desenvolvê-la, como se pode ver em muitos dos projetos criativos que a internet e as redes sociais vieram dar a conhecer, como é o caso de Charlotte Roberts e Abby Roberts, duas artistas.

No humor, também há criativos que, com um olhar, um gesto ou uma subtil piada nos fazem dar uma boa gargalhada. Miguel Góis, um dos fundadores dos Gato Fedorento, é prova viva de que o seu trabalho não é simples nem imediato. "Parece que um criativo nunca descansa. Estamos sempre a observar tudo o que se passa à nossa volta e a apontar pequenas ideias. Parece que nos períodos de descanso me surgem ainda mais ideias, porque é nessa altura que estou a ser mais estimulado", explica.

Miguel Góis sentiu, ainda criança, que o seu futuro estaria ligado às letras, devorando muitos livros e filmes e, mais tarde, quando saiu da universidade, realizou um curso de escrita para cinema e televisão. Porém, não esquece que outros fatores são essenciais para estimular a sua criatividade. "Não tenho dúvidas de que aquilo que mais promove o nosso lado criativo é ver o resultado da criatividade dos outros, nomeadamente ler livros, ver filmes e televisão, ir ao teatro, exposições e viajar", refere.

"Como não há cursos de humor, pelo menos no nosso país, só se aprende vendo como os outros fazem", sublinha Miguel Góis. Para o humorista, existem, porém, alguns fatores que inibem a sua criatividade. "Se não houvesse prazos de entrega nem obrigações contratuais, seria um trabalho muito mais leve. Mas como há todas essas contingências, pode correr-se o risco de haver uma sobrecarga criativa e aquilo que é um prazer transforma-se numa obrigação", acrescenta ainda Miguel Góis.

O imperativo de expandir horizontes

O bom, o mau e o vilão. Serão apenas estes os ingredientes necessários para agarrar o público a uma boa novela? E será assim tão simples criar uma história durante meses e meses? Rui Vilhena, guionista de telenovelas como "Tempo de viver", "Na corda bamba" e "Ninguém como tu", responde às perguntas que intrigam centenas. "Uma novela é algo muito complicado de se fazer, pois temos calendário de entrega de episódios e temos de elaborar um por dia", esclarece o brasileiro.

"Ficcionar a história exige uma grande capacidade criativa e há momentos em que o cansaço surge", sublinha. "É necessário expandir horizontes, conhecer outros tipos de cultura, outros sabores, outras cores e outras paisagens, pois só isso faz com que evolua o nosso intelecto e o nosso processo criativo. Toda a nossa energia criativa é fruto do que nos rodeia. Absorvemos, todos os dias, coisas do nosso quotidiano. Por isso, acho muito importante ler e viajar para a criatividade não se restringir ao nosso conhecimento", diz.

A importância de ser irreverente

Just do it! Fá-lo e pronto. Este continua a ser um dos slogans publicitários mais famosos do mundo. Conciso, apelativo, persuasivo, moderno e irreverente. São palavras que marcam o trabalho de um publicitário, "uma atividade exigente, onde normalmente trabalhamos mais horas do que a maioria das outras pessoas", revela Sérgio Alves. Publicitário, sabe que os seus ritmos são diferentes, até porque "não há uma fórmula para se ser criativo, existe apenas um processo", considera o criativo.

"No caso dos publicitários, temos de conhecer bem o produto, ter um conhecimento geral muito bom e, depois, é só estabelecer relações entre esses fatores distintos e tentar gerar uma ideia", explica. Mas ter boas e novas ideias todos os dias é bem difícil, garante, até porque, "para além de isso, temos prazos para cumprir. Então, por vezes, estamos mais pressionados e menos criativos. Já me aconteceu estar dois dias a pensar no problema e só nos últimos cinco minutos surgir alguma coisa", refere.

Nos dias que correm, o seu dia a dia é passado a persuadir e a conquistar, a trabalhar permanentemente com a criatividade... Como afirmou uma das grandes lendas da publicidade, William Bernbach, "não é o que dizes que mexe com as pessoas, mas a forma como o dizes". Para o argumentista Rui Vilhena, expandir horizontes, conhecer outras culturas e paisagens, ler, ver e viajar, é importante. "Só isso faz com que o nosso intelecto e processo criativo evoluam", defende o criativo brasileiro.

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