Embora as aves consigam encontrar na natureza toda a comida que necessitam, a disponibilização de alimentos suplementares nos jardins pode ajudar algumas espécies a sobreviver, particularmente em períodos de escassez de alimento ou de condições meteorológicas adversas. Criar uns alimentadores para as aves no seu jardim é, pois, uma óptima forma de ajudar a natureza e de apreciar as aves em todo o seu esplendor.
Mas é preciso saber que se deve obedecer a algumas regras e cuidados básicos para não prejudicar as aves nem lhes causar doenças ou ainda para não atrair visitantes indesejados. Para as alimentar deve usar sementes, sobretudo. Pode recorrer a farelo de milho e a sementes de girassol, muito apreciadas pelas aves devido ao seu alto conteúdo energético, sobretudo a variedade preta, não riscada.
Pode também dar-lhes milho painço ou milhete, como também lhe chamam muitos. Os amendoins não torrados ou salgados são também muito apreciados pelas aves, pelo que são outra das hipóteses que pode considerar para este fim.
Em lojas especializadas, há misturas de sementes à venda especificamente para alimentadores de aves. Para ter uma ideia do desenvolvimento do mercado inglês nesta área, bem como das várias possibilidades disponíveis, verifique o catálogo disponível em www.birdfood.co.uk.
Os restos da sua comida que pode dar às aves mais comuns
As sementes maiores, como o trigo ou a cevada, o arroz cozido, as ervilhas e/ou os feijões são apenas consumidas por aves maiores, como as rolas-turcas e os melros, que podem atrair pombos domésticos, pelo que são de evitar. As bolas de gordura também são uma boa opção, sobretudo nas áreas do país com invernos mais rigorosos. Pode fazer uma bola de gordura com nozes e sementes derretendo um pedaço de banha de porco.
Despeje-a depois sobre algumas sementes, frutos secos, pedaços de queijo, nozes e por aí fora... Depois, é uma questão de pendurar essa bola numa qualquer árvore ou colocá-la presa à mesa de alimentação de aves, nos dias mais frios do inverno. Larvas de inseto também são boas. Se tiver tempo, disponibilidade e dinheiro, para atrair as aves insetívoras para o seu alimentador, também pode recorrer a elas.
Pode disponibilizar larvas de inseto, que se compram em algumas casas da especialidade, vivas. Existem ainda muitos restos da nossa cozinha que podem ser dados às aves, nomeadamente pão. Todas as aves comem migalhas de pão mas este tem um baixíssimo conteúdo proteico e, por isso, não é um tipo de alimento importante. Também pode recorrer à gordura da carne não salgada.
Corte-a em pedaços muito pequenos e coloque-os na mesa de alimentação. Tenha em atenção que grandes quantidades de gordura podem atrair gatos ou aves maiores, que assustam os pássaros do jardim. A fruta, sobretudo maçãs, peras, bananas e uvas, cortadas em pequenos quadrados, são muito apreciadas por melros, por exemplo. Pode também recorrer a pequenos pedaços de queijo ou a queijo gratinado.
As opções não se esgotam, contudo, aqui, como pode perceber de seguida. Para alimentar as aves do seu jardim, pode ainda dar-lhes pequenas porções de batata assada ou até puré de batata, também muito apreciados pelo nossos amigos alados. Mas não recorra a batatas fritas de pacote! O excesso de sal é nocivo para a maioria das aves, pelo que este tipo de snack, tal como outros do mesmo género, é de evitar a todo o custo.
Os alimentos proibidos
Esta lista inclui alimentos como o leite (o trato intestinal das aves não consegue digerir convenientemente esta bebida), os biscoitos para cães, os amendoins torrados ou salgados, os restos de comida bolorentos (alguns fungos são tóxicos) e ainda qualquer comida salgada, tal como as batatas fritas de pacote e outros snacks, como os frutos secos salgados, uma vez que as aves não são capazes de processar o metabolismo do sal.
As melhores alturas do ano para alimentar as aves
Pode alimentar as aves todo o ano, mas a atividade é mais relevante e útil durante o inverno e a transição inicial para a primavera, quando a quantidade de comida na natureza é menor, sobretudo nos climas mais frios, uma altura em que as aves precisam de mais gorduras para sobreviver às noites frias. Se quiser continuar a alimentar as aves durante a primavera e o verão, tem de evitar dar as comidas mais duras ou os pedaços maiores.
Amendoins inteiros podem, todavia, asfixiar uma cria de chapim ou de um pintassilgo, pelo que na primavera tente esmagar mais a comida e/ou as sementes que põe à disposição das aves. Nesta altura do ano, tal como nos meses de verão e no início do outono, as aves precisam mais de proteína do que de gordura, pelo que procure recorrer mais a frutos secos, a queijos, a sementes de girassol e a frutas, evitando os amendoins ou o pão.
Como disponibilizar o alimento
Uma das duas formas principais de dar comida às aves é através de uma pequena plataforma horizontal ou de uma mesa própria. E inglês, estas designam-se por bird tables. Geralmente, colocam-se em cima de um suporte, com ou sem telhado. A outra é através de alimentadores (de rede ou plástico) verticais para sementes. A mesa precisa de um bordo elevado para não deixar a comida rolar para o chão.
Tem também de ter aberturas nos cantos deste bordo para deixar escoar a água da chuva. Não se tente por designs elaborados. Por vezes, o mais eficaz é mesmo o mais simples. Coloque a mesa num local arejado, com boa visibilidade, longe de árvores ou ramos que podem ser utilizados por gatos e outros predadores. E, claro está, perto da sua janela, para poder apreciar a passarada de dentro de casa.
Os melhores locais para colocar a comida
Os alimentadores para sementes são, na maioria dos casos, pequenos tubos de rede de aço que se penduram nas árvores ou em estendais e postes, em locais com boa visibilidade em todas as direções, para a segurança das aves. Nos alimentadores de rede, é essencial estes terem uma malha nem demasiado pequena, o que poderia provocar lesões no bico das aves, uma situação que obviamente não deseja.
Essa malha também não pode ser demasiado grande, o que permitiria que as aves conseguissem levar sementes grandes, que poderão asfixiá-las. O ideal é uma rede com uma malha de cerca de 6 milímetros. Uma variedade destes alimentadores, especialmente produzida para pequenas sementes como as de girassol (tão apreciadas pela passarada) são tubos de plástico com algumas aberturas de onde as aves podem retirar as sementes.
Todos estes alimentadores podem encontrar-se à venda nas lojas da especialidade. Mas, atenção, nunca utilize redes de nylon como alimentador de aves. Estas são verdadeiras armadilhas para as patas dos pássaros. É muito frequente, sobretudo em climas mais amenos como o nosso, verificar que as aves ignoram os alimentadores meses a fio. Há duas explicações muito simples para isso.
A primeira é que, quanto mais benigno for o clima, mais comida natural existe e menos necessidade têm as aves de explorar estas novas fontes de alimento. Mas há outra. Comer de um alimentador é um salto comportamental que, por vezes, demora bastante tempo até que o primeiro chapim decida experimentar. Depois, a evolução é espetacular, por aprendizagem social e, em breve, terá várias aves penduradas em frente a sua janela, para seu deleite.
6 cuidados a ter com a manutenção dos alimentadores
1. Se a comida no alimentador começar a ganhar bolores, substitua-a logo.
2. Limpe regularmente a zona debaixo dos seus alimentadores e evite pôr a comida no chão do seu jardim.
3. Coloque sempre uma quantidade de comida adequada à procura. Não coloque nem comida a mais nem a menos.
4. Tente estabelecer uma rotina, fazendo a colocação de comida mais ou menos sempre na mesma altura da semana.
5. Evite colocar alimentadores onde há gatos. A sua presença assusta as aves.
6. Evite que os excrementos das aves se misturem com a comida e utilize luvas.
Texto: José Pedro Tavares (biólogo da Royal Society for the Protection of Birds, BirdLife, no Reino Unido, organização parceira da SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves)
Comentários