"Qual a sua opinião sobre o termo influenciador?" foi a primeira pergunta lançada por José Eduardo Moniz a Simon Cowell. O empresário britânico, que veio até Portugal para falar sobre o tema influência, admite que não é muito fã desta nova profissão da era moderna. “Eu não compreendo aquilo que um influenciador faz. Oiço falar deles, acho que sou um influenciador porque faço televisão, mas não percebo esta nova geração de pessoas que o são.”

Aos 65 anos, Simon Cowell é um dos nomes mais incontornáveis da indústria musical do século XXI. Começou a sua carreira na EMI Music Publishing antes de fundar a gravadora Syco Music - hoje Syco Entertainment. Há 25 anos, quando foi desafiado a assumir o papel de jurado num programa de televisão, o executivo da indústria musical recusou – uma decisão que hoje admite ter sido um erro. Quando a oportunidade voltou a surgir, primeiro com o programa Pop Idol (2001) e depois com o American Idol (2001), não pensou duas vezes.

Estes dois formatos televisivos foram a rampa de lançamento para a criação dos concursos de talentos de sucesso da sua autoria The X Factor (2004) e Got Talent (2006) que já tiveram vários spin-offs e foram adaptados em 57 países, como Estados Unidos, Itália ou Austrália. “Acho que as coisas não mudaram assim tanto. O meu trabalho é fazer com que as pessoas sejam bem-sucedidas”, afirma sobre a evolução deste tipo de programas que têm conquistado as audiências ao longos dos últimos 25 anos. O objetivo de cada um deles passa por oferecer uma mentoria musical, ajudando os participantes a construir uma carreira de sucesso. “Todos os países têm talento à espera de ser descoberto. Eu acredito sinceramente nisso. Se não acreditasse não estaria a fazer isto.”

Um bom exemplo é o caso de Susan Boyle, que participou na edição de 2009 do Britain's Got Talent onde se consagrou vencedora. “Quando vi o clip da sua primeira audição pensei que ia ser algo gigantesco”, recorda, dizendo que no espaço de uma semana a sua interpretação do tema "I Dreamed a Dream" do musical Les Misérables foi vista por 300 milhões de pessoas em todo o mundo. “O vídeo foi bem-sucedido devido ao contexto”, explicando que, mesmo numa era cada vez mais digital, a televisão continua a ter um grande poder de alcance e que, inevitavelmente, fez com que a cantora se transformasse numa sensação a nível mundial.

Em termos de conceção, todos os seus programas começam com uma ideia inicial que, por norma, demora cerca de um ano e meio até ser desenvolvida. A partir do momento em que estreia em televisão, a sua preocupação número um é olhar para as audiências. “Os números não mentem”, afirma. Aliás isso é a única coisa que o faz pegar no telefone que, tal como as redes sociais, foi algo baniu há muitos anos da sua vida. “E como vive com isso?”, pergunta José Eduardo Moniz? “Vivo muito bem”, responde.

Simon Cowell ICON
Simon Cowell ICON Mafalda Cruz

Para Simon Cowell, aquilo que determina o sucesso – ou fracasso – de um programa de televisão são as pessoas. “O casting é tudo num programa”, refere, sem esquecer todas as pessoas que, ao longo dos anos, acreditaram nas suas ideias e contribuiram para o sucesso dos seus programas. “Eu acredito em boas parcerias. Quando comecei a fazer televisão precisei de encontrar uma pessoa que conseguisse fazer isso da melhor forma possível”. Edição após edição, o desafio passa por superar a anterior com algo que consiga acrescentar valor ao que já existe e surpreender o público. “Todos os anos falo com os produtores para mostrarmos o processo natural [de seleção dos concorrentes]. Acho que a audiência devia ver tudo”, frisa.

Graças ao seu olho para o talento, os seus programas transformaram jovens desconhecidos em verdadeiras estrelas da música pop. One Direction, Leona Lewis, Little Mix e James Arthur são alguns dos exemplos que saltaram do anonimato para o estrelato mundial. Tendo em conta que primeiros anos de fama e sucesso podem ser desafiantes, o ícone de entretenimento global sempre procurou transmitir  aos novos artistas que estão a dar os primeiros passos na indústria musical o mesmo conselho que adotou para si: que a atenção mediática faz parte das regras do jogo.

“Quando decidi colocar-me à frente das câmaras, sabia que haveria altos e baixos, mas há muitos momentos altos e temos de nos lembrar que estamos aqui por causa do público. Temos de aceitar tirar fotografias, termos um sorriso no rosto… E todas as pessoas que conheci foram sempre simpáticas para mim. É algo muito positivo”, refere.

Questionado sobre o que procura em alguém quando está em busca de novos talentos, o executivo da indústria musical refere que isso nem sempre se traduz em algo evidente ou facilmente identificável. “É um brilho. Temos de procurar o seu potencial.” E dá o exemplo do cantor britânico Harry Styles que, incentivado pela mãe, participou na edição de 2010 do The X Factor e acabou por integrar a banda One Direction que o catapultou para o topo das tabelas mundiais. “Não sabia se ia ter sucesso, mas tive um pressentimento em relação a ele.”

No que diz respeito às audições para os seus programas, considera que os participantes nunca devem ter medo de arriscar ou de fazer algo diferente. Surpresa e originalidade são elementos que devem levar consigo no momento de subirem ao palco. “Não correr riscos é um erro” , salienta.

Conhecido pela sua frontalidade e por dizer exatamente aquilo que pensa na altura de avaliar o desempenho dos concorrentes que tentam um lugar ao sol, Simon Cowell desvaloriza as críticas e a reputação que o persegue desde que começou em televisão. “Não podemos dizer a alguém que não sabe cantar que tem talento. O meu trabalho é ser honesto com eles e, se tiverem talento, ajudá-los a melhorar”, explica.

Questionado sobre que projetos lhe faltam realizar no âmbito televisivo, o empresário responde com um sorriso no rosto. “Tenho a ambição de fazer algo onde podemos ter uma competição global, como se fosse uma espécie de Mundial de Futebol... Isso seria um sonho para mim.” Aliás, para si é impensável estar envolvido num projeto que não seja do seu agrado. “Eu faço programas que gosto de ver. Se eu gostar deles acho que os outros também vão gostar.”

Simon Cowell, que é diariamente abordado por pessoas em busca de conselhos sobre como ter uma carreira de sucesso, deixa dois antes de deixar o palco da ICON: “Se temos uma boa ideia devemos acreditar nela” e “seguir os nossos instintos em tudo o que fazemos”, conclui.