A construção do aqueduto Acqua Paola, que ficou completo em 1612, no tempo do Papa Paulo V, recuperando em parte o antigo aqueduto de Trajano que abastecia Roma, possibilitou a existência de jardins com fontes, tanques, lagos e jogos de água. Um desses monumentos é a Fonte da Águia, uma das atrações turísticas menos conhecidas do Vaticano, mais associado à Basílica de São Pedro, à Capela Sistina, ao Castel Sant'Angelo e aos seus museus.

Junto ao mosteiro Mater Ecclesiae e à Pontifícia Academia das Ciências, localizada na Villa Pio IV ou Casa do Bosque, localiza-se a célebre Fonte da Águia, comemorativa do Concílio Ecuménico Vaticano I. O seu nome deriva da majestosa águia em mármore, que ocupa o topo desta fonte-cascata, constituída por rochas, revestida com musgos, que formam nichos e cavernas, com dragões e outras estátuas.

Outra das atrações menos mediáticas é a Fonte da Galera. O seu nome deriva da peça em metal, uma galera, que se localiza no centro de um grande tanque em pedra que, por sua vez, está adoçado à fachada do edifício do Belvedere, a norte dos jardins. É a fonte mais original e complexa, pois deste navio jorram inúmeros jatos e jogos de água, de grande efeito decorativo e simbólico.

Esta obra revela também um grande conhecimento de hidráulica à época, assim como a Fonte da Concha. Em pedra, como o nome indica, tem a forma de uma concha e das suas cascatas e emana uma impressiva música aquática. Localiza-se junto à estação ferroviária. Segundo as crónicas, o Papa Pio XI afirmava que esta era a mais bela do mundo, não pelo edifício em si, mas pelo som das suas cascatas de água.

As atrações menos óbvias a não perder no Vaticano
As atrações menos óbvias a não perder no Vaticano

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Monumentos, grutas e estátuas a incluir no seu roteiro

A Torre de São João, localizada num ponto alto, junto ao heliporto, está inserida na primitiva muralha leonina. Foi residência de verão do Papa João XXIII e é outro dos pontos de passagem a incluir no seu roteiro, tal como a Gruta da Nossa Senhora de Lourdes. Esta gruta artificial, réplica da gruta de Lourdes, em França, apresenta a imagem da virgem e localiza-se na praça do mesmo nome.

Situada perto do jardim francês, é um local de oração e de grande simbologia para os católicos franceses. A presença mariana é uma constante nestes jardins. A estátua de São Pedro, sobre uma colossal coluna monolítica de mármore africano, eleva-se a figura em bronze do apóstolo São Pedro, a abençoar os visitantes. Muitos deles, esmagados pelo resto, acabam por não se aperceber da sua presença.

O Palácio do Governo é outra dos atrações. Na proximidade da Basílica de São Pedro, surge este imponente edifício, que alberga o poder executivo da cidade-estado do Vaticano. No jardim fronteiro à escadaria, surge o brasão vegetal do Papa Francisco, as chaves de São Pedro (na imagem inferior), além dos símbolos de Jesus, Maria e São José, desenhados com flores, Helicrysum, Iresine rosa e Viola sp.

Os jardins imperdíveis

O jardim à italiana é um bom local para uma pausa depois de uma deambulação por esta cidade-estado localizada às portas de Roma. Localiza-se num terraço junto à Rádio do Vaticano e adota o traçado regular e simétrico dos jardins romanos. Possui dois corpos iguais e simétricos, com uma composição à base de sebes de buxo e canteiros. O centro é ocupado por fontes sedutoras e originais.

O Edifício Pio IV, na Villa Pia ou Casa do Bosque, é sede da Academia Pontifícia das Ciências. Este conjunto é referido como a joia dos jardins do Vaticano. Uma obra do Papa Pio IV, embora tenha sido iniciado pelo Papa Paulo IV. Possui uma arquitetura renascentista, inspirada nas antigas villas romanas. Compõe-se de um edifício principal e de uma galeria coberta (loggia) em frente.

Estão separados por um pátio de forma elíptica, enriquecido por uma fonte com golfinhos. À simplicidade que a arquitetura evidencia contrapõe-se uma riqueza de esculturas e ornamentação das fachadas, com mármores coloridos, estuques e revestimentos mosaicos. Estão aqui profusamente representadas cena da mitologia clássica. O jardim francês também merece um desvio.

As atrações menos óbvias a não perder no Vaticano
As atrações menos óbvias a não perder no Vaticano

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Jardins com influências francesas e inglesas

O jardim francês inclui a Fonte dos Tritões no centro de um jardim formal, com sebes em buxo, delimitando canteiro de flores ou relva. Não muito longe dali, o mosteiro Mater Ecclesiae localiza-se na proximidade da Fonte da Águia e na sequência do conjunto edificado da administração da Rádio Vaticano. É um edifício em tijolo, de quatro andares, no qual viveram irmãs de várias ordens religiosas.

No seu interior tem 12 células monásticas. Nas proximidades deste espaço, temos uma horta biológica, que abastece os residentes deste convento. Este foi o local escolhido para a residência oficial do Papa Emérito Bento XVI após a sua renúncia em 2013, oito anos após a sua eleição no conclave que se seguiu à morte do Papa João Paulo II. Não deixe também de visitar o jardim à inglesa.

Delimitado pela Avenida do Bosque, pela Avenida do Jardim Quadrado e, mais a sul, pela Fonte da Águia, este jardim de cariz naturalista, com caminhos de traçado irregular, serpenteando a colina, possui uma composição só aparentemente desordenada, como parece à primeira vista, com árvores, falsas ruínas, estátuas e fontes. Um espaço de (re)descoberta que vai seguramente agora ver com outros olhos.

Texto: Elsa Severino (arquiteta paisagista)