Foi em 1829 que o empresário Manuel Francisco de Araújo fundou a Araújo & Sobrinho, uma sociedade constituída para gerir um armazém de papel no número 55 do largo de São Domingos, no Porto. Rapidamente, o negócio evolui, com a abertura de uma tipografia, de uma oficina de encadernação e de uma papelaria, que é hoje uma das mais antigas da Europa ainda em funcionamento. Em 2015, a quinta geração da família decide renovar o edifício principal para investir numa nova área de negócio, a hotelaria.
É assim que surge o Porto A.S. 1829 Hotel, uma unidade hoteleira de quatro estrelas, que atualmente integra o grupo empresarial Lux Hotels, com 41 quartos, um restaurante e uma papelaria repleta de preciosidades. Muitos dos vestígios das atividades que foram desenvolvidas naquele prédio e nos espaços contíguos que ainda o integram estão hoje espalhados ao longo da requintada unidade hoteleira. Para além de maquinaria de impressão, há almanaques (muito) raros, mobiliário original e fotografias antigas.
Na posse da mesma família há seis gerações, o edifício que acolhe o Porto A.S. 1829 Hotel foi, no século XIX, muito visitado pela comunidade britânica que se instalou para região para explorar o negócio do vinho. Alguns frequentavam-no para encomendar a impressão de rótulos e/ou para adquirir material de escritório ou móveis. Os artistas iam lá comprar pincéis e aguarelas. As encadernações também tinham muita procura. A maioria das peças que, hoje, decoram a unidade hoteleira datam desses tempos.
É também o caso das máquinas de escrever. Na Papelaria Araújo & Sobrinho, localizada na extremidade oposta à da receção, ainda estão expostas algumas. Na década de 1990, o desenvolvimento tecnológico leva a uma mudança de paradigma. Nessa altura, são muitos os arquitetos que a procuram. Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura são clientes regulares. Anos antes, nunca fase mais complicada do país, a papelaria chega a vender sabonetes e até quadros deixados à consignação por pintores em dificuldade.
Com a abertura do Porto A.S. 1829 Hotel em 2015, o edifício volta a assistir a um corropio de gente. Tal como sucede com os pisos, todos eles com temáticas diferentes, todos os 41 quartos, que se distribuem por cinco tipologias, são também eles distintos. Apesar de terem traços comuns, variam nos tamanhos, na decoração, no mobiliário e até nas casas de banho. Uns (só) têm banheira, outros cabines de duche e há (poucas) habitações que contam com os dois. Em comum, além do conforto, têm outra coisa.
De qualidade superior, os colchões são (muito) elogiados pelos hóspedes que neles pernoitam. A decoração, sóbria com um toque de modernidade, privilegia os tons claros. Parte das madeiras dos rodapés e dos frisos foi recuperada e a esmagadora maioria do material usado na reconversão do edifício é de fabrico nacional. Uma das exceções foi o mosaico hidráulico utilizado, apenas por uma questão de custos. Os produtos de higiene disponibilizados também são portugueses e nortenhos, produzidos pela Castelbel.
Outrora uma galeria de arte, ainda que durante um período muito limitado, o espaço agora ocupado pelo restaurante Galeria do Largo é, nos dias de hoje, uma montra de sabores da cozinha tradicional portuguesa, feita agora com métodos de confeção (mais) modernos e com uma apresentação também ela contemporânea. Para surpreender os hóspedes, Manuel Ferreira, chef executivo do grupo Lux Hotels, um cozinheiro com uma predileção pela comida de conforto, desenvolveu uma ementa variada e cosmopolita.
Além de petiscos convencionais com novos ingredientes, formatos e/ou empratamentos, não faltam propostas que satisfazem os paladares mais exigentes, cozinha de autor para partilhar ou para saborear sem sequer dar a provar. É também neste espaço, onde antigamente alguns artistas da terra chegaram a expor os seus trabalhos, que é servido o pequeno-almoço. Depois de o tomar, dirija-se à papelaria e procure a antiga fonte que decorava uma das fachadas exteriores do edifício. É outro dos segredos do hotel.
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