O cenário é paradisíaco e muito convidativo. No arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, que integra a lista de reservas da biosfera do planeta da UNESCO devido ao seu ecossistema excecional, vivem apenas 30.000 pessoas, às quais se juntam anualmente alguns (poucos) milhares de turistas. Muitos deles são praticantes de pesca desportiva e vão atrás de águas cristalinas que deixam antever uma quantidade enorme de peixes.
O mesmo sucede com os (muitos) golfinhos que podem ser vistos naquela zona. Apesar de serem menos, as serpentes são, no entanto, o animal mais mediático da região. "As Bijagós são conhecidas pelas suas serpentes. Todas as espécies mais venenosas e mortais que existem vivem aqui", afirma Aissata Regolla, um dos especialistas do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP), criado em 2004 em Bissau.
As florestas do perigo
Nas praias (quase) desertas de areias brancas e nos mangais não é raro encontrar hipopótamos, peixes-boi e tartarugas verdes mas as florestas, locais onde os turistas são desaconselhados a ir sozinhos, são um verdadeiro viveiro de serpentes e nem os habitantes locais, conhecedores de histórias dramáticas, estão a salvo. Em todo o mundo, morrem anualmente, em média, 125.000 pessoas mordidas por uma cobra.
Dessas mortes, 30.000 registam-se na África subsahariana. E basta, muitas vezes, uma pequena distração para acontecer o pior, como foi o caso de Gina, moradora da ilha de Sogá, uma das 88 que integram este arquipélago do oeste africano. "Pensava que era um pedaço de madeira", referiu a uma agência internacional. Três meses depois do incidente, a cicatriz ainda apresenta uma cor avermelhada.
O veneno das cacubas
Apesar de estar feliz por ter sobrevivido, Gina continua a sofrer com dores, porque em Eticoba, onde vive, à semelhança de muitas outras aldeias, os medicamentos que podia tomar esgotaram. "As cacubas [nome dado localmente às mambas-negras] são as mais venenosas. Geralmente, quando mordem, não se sobrevive. Estão muitas vezes [escondidas] nas árvores e nas folhas das palmeiras", avisa Cacutu Avis, um habitante local.
Apesar de existirem turistas que se aventuram, apenas a meia hora de piroga motorizada, na ilha de Bubaque, a cinco horas de Bissau, a capital, existe um hospital. "Muitas pessoas morrem mas algumas sobrevivem", avançou à Agência France-Press (AFP) Jean-Philippe Chippaux, investigador do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD). Apesar das recomendações preventivas, o turismo no arquipélago, fonte de receitas, não é desaconselhado.
A atração que o arquipélago exerce nos intrépidos e nos aventureiros
Embora esteja longe de ser um destino do turismo de massas, o arquipélago dos Bijagós continua a atrair visitantes, sobretudo amantes da natureza. A maioria deles, intrépidos e aventureiros, nem sequer tem noção da falta de medicamentos e de antídotos que afeta a região. "Não dispomos de séruns [anti-veneno] adaptados às diferentes espécies e temos imensas dificuldades para identificar as serpentes", acrescenta Jean-Philippe Chippaux.
"Era preciso que os diferentes estados, as coletividades locais e as empresas contribuíssem. Hoje, nenhum ministério é capaz de dizer quantas mordeduras acontecem e onde têm lugar", critica. Em junho de 2016, a validade dos últimos antídotos produzidos pela farmacêutica Sanofi Pasteur em 2010 acabou e, devido aos custos elevados e a uma quebra na procura, a empresa deixou de os fabricar.
A solução a que muitos turistas e habitantes locais recorrem em situação de emergência é bater à porta dos curandeiros tradicionais mas, por muito que estes se esforcem, o desfecho é, muitas das vezes, o mais dramático. "Era preciso que houvesse um produto suficientemente bom e com um preço acessível para conseguir mudar as coisas", defende o investigador do IRD. Macacos, crocodilos, aves pernaltas e lontras são outros dos animais mais comuns no arquipélago.
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