O novo rei é conhecido pelas suas opiniões apaixonadas a favor do ambiente e já se tinha comprometido a participar na designada Conferência das Nações Unidas sobre as alterações Climáticas (COP27), em novembro, no Egito.
O atual monarca esteve presente na COP26, em Glasgow, no ano passado, mas agora, em seu lugar, irá o filho e herdeiro Guilherme, uma vez que Carlos terá “outras prioridades”, segundo foi anunciado.
A notícia, confirmada depois de uma supostamente autorizada fuga de imprensa, pode dar um indício em relação ao comportamento do novo rei, cuja biografia é sobretudo conhecida pelo desassossego da sua vida amorosa, o casamento com a falecida princesa Diana e posterior casamento com a futura rainha consorte Camila.
Tal circunstância fica patente no recente livro sobre a mais conhecida família britânica, “A Viúva de Windsor” (Oficina do Livro), do embaixador José Bouza Serrano.
O livro baseia-se não só em múltiplas obras sobre os membros e a história da família real, como em depoimentos de conhecidos e parentes próximos (da família e do autor) e testemunhos do próprio embaixador e seus conhecidos.
De acordo com o parecer do autor, Carlos começou a emitir opiniões no espaço público para contrabalançar “as atenções que se concentravam na sua cara-metade”, no tempo em que se encontrava casado com Diana, conhecida postumamente como “princesa do povo”.
Até à sua ascensão à coroa, o novo rei chegou a interferir na política, com cartas escritas a ministros a tentar alterar legislação, que foram divulgadas na imprensa.
Uma atitude muito diferente de Isabel II de Inglaterra, mais discreta na sua interferência e mais respeitadora dos protocolos constitucionais, que impedem a casa real de participar no debate político.
Mas Carlos, no seu primeiro discurso enquanto rei, prometeu seguir o exemplo da mãe.
Entre outros exemplos, Bouza Serrano recorda que o então príncipe se pronunciou “sobre ‘a fealdade da arquitetura moderna’, as divisões ‘entre as minorias étnicas e o resto da população’ ou as condições de trabalho dos ‘deserdados de East End’, ao mesmo tempo que concordou pagar 25% de imposto sobre os seus rendimentos”.
O livro do embaixador, lançado no 'timing' certo da inesperada morte da rainha Isabel II, lança alguma luz sobre o perfil deste novo rei que, de acordo com as suas próprias palavras, aprendeu as suas funções conscienciosamente “como os macacos, olhando para os meus pais”.
Carlos foi o primeiro filho de um casal apaixonado, cuja escolha do apelido – apenas Windsor - criou todavia uma desavença entre a futura rainha e o duque de Edimburgo, seu marido, Mountbatten de nome de família, uma adaptação do original germânico Battenberg.
É assim que ficamos a saber que o novo rei foi um jovem tímido, sensível e complexado devido às suas enormes orelhas, que os pais sempre se teriam recusado a mandar corrigir cirurgicamente, e que tinha medo do pai.
A etiqueta em que foi criado também terá contribuído para o tornar pouco espontâneo, segundo escreve Bouza Serrano.
Carlos foi todavia o primeiro herdeiro do trono a frequentar uma escola - “espartana” e ao gosto do pai –, na qual era alvo “de muitas chacotas e partidas”, agredido deliberadamente nos jogos de râguebi (“a diversão de bater no futuro rei de Inglaterra”).
O livro relata em pormenor a história recente da linhagem real britânica, cujo nome atual foi adotado há apenas um século, pelo então rei Jorge V (bisavô de Carlos), para tentar mascarar a ascendência alemã Saxe-Coburgo e Gotha da Casa Real.
O nome foi criado a partir da designação de um antigo castelo na posse da família, Windsor, no Berkshire.
Carlos é a quarta geração de uma “inventada Casa de Windsor, nascida da decisão patriótica do rei Jorge V, que sofria os bombardeamentos dos seus primos alemães durante a Guerra Mundial”, escreve o embaixador.
A família real, designada como “A Firma”, não parece ser um modelo de virtudes, segundo conta Bouza Serrano, que ilustra os leitores com muitos pormenores sobre a vida pessoal e íntima de alguns dos antepassados diretos do novo rei, alguns dos quais colocam a léguas os múltiplos casos de amores, desamores e adultérios da geração de Carlos III.
Seja como for, ainda é cedo para analisar o novo padrão de comportamento da casa real britânica. O novo rei só será coroado no próximo ano, pelo que tudo o que acontecer daqui para a frente será visto à lupa.
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