Carlos Lopes, ex-atleta e campeão olímpico, foi o protagonista do programa 'Alta Definição', apresentado por Daniel Oliveira, na SIC. Durante a conversa, este falou da dura batalha que travou contra um cancro na boca, deixando Daniel surpreendido pela forma com que lidou com o diagnóstico.

"Porque é que hei de ter medo? Já passei por tanta coisa. Vou ter medo do quê?", começou por questionar.

"A minha mulher dizia: 'não sei que cabeça tu tens, continuas, não há dores, não há nada, para ti é tudo normal'. Eu não complico a vida, nós é que a complicamos", realçou.

Foi de forma muito positiva que Carlos Lopes lidou com o diagnóstico que recebeu. "Quando tive o cancro da boca, fui ao médico e acha que fiquei muito preocupado? Não fiquei! Se é para tirar, é para tirar e acabou. No dia em que fui fazer a operação, disse ao médico: 'Vamos lá tratar desta coisa. Quanto mais depressa, melhor'", lembra.

"Havia uma enfermeira que dizia: 'este gajo vai fazer uma operação tremenda e parece que vai para uma festa'. Para mim a vida é uma festa, nós às vezes é que a complicamos", realçou uma vez mais.

Questionado por Daniel Oliveira se o cancro não o tinha assustado, Carlos Lopes respondeu de imediato: "nada!" O mesmo já não se aplicou à família, sobretudo à mulher e aos filhos.

"A minha mulher já se assustou e muito! Meio ano depois ela sofreu [um cancro] e teve de tirar um peito. Ela sofreu muito, muito", conta.

O antigo atleta confessou que ficou chateado com a mulher por ter sido ela a contar aos filhos que este tinha um cancro. "Até me chateia um bocado, porque ela vive muito as coisas. Não quero [preocupar os outros], nunca preocupei. Vivo os meus problemas sozinho. Às vezes não conto muita coisa para não fazer alarmes, nem coisa nenhuma", faz saber.

"Se eu tinha os melhores médicos, enfermeiros, se tenho boa assistência, vou ter medo porquê? A primeira coisa que perguntei foi: 'doutor, o que é que vai acontecer a seguir? Vai acontecer isto, isto e isto'. 'E o que vai acontecer com a radio[terapia]? Vai acontecer isto'. E eu disse: 'está bem, vamos a isso'", relata.

Apesar da perspetiva positiva com que encarou o problema, o processo dos tratamentos não foi fácil. "Foi muito duro, porque me disseram que estava sujeito a ter de comer com tubos, com isto e aquilo. Foi aquilo que fiz, com muito custo", afirmou, notando que o pior de tudo era "quando tinha de pôr a máscara" para os tratamentos.

Este ainda falou das sequelas com que ficou: "Ainda tenho dificuldades em dobrar a língua, porque o céu da boca foi todo à vida e ainda não tenho dentes da parte de cima. São coisas que a gente tem de saber gerir com paciência. Tenho de andar mais dois anos e meio à espera para pôr dentes como deve ser".

Apesar de tudo, e após ser elogiado por Daniel devido à sua força, Carlos Lopes concluiu: "É uma questão de mentalidade, de aceitar as regras do jogo".