Lídia Muñoz partiu de 'armas e bagagens' para o Alentejo, mais precisamente para a freguesia da Amareleja - terra da avó Eunice Muñoz - com o companheiro, Tiago Durão. O casal comprou uma habitação no município de Moura - precisamente "duas ruas atrás" da casa em que a falecida atriz nasceu.
Este novo lar de Lídia Muñoz e Tiago Durão é uma casa de 1937 que "estava praticamente como tinha sido construída" e o casal manteve a "traça rústica e alentejana". No entanto, precisou de uma remodelação, levando-os a meter as 'mãos na massa'.
Partindo de uma ideia mais sustentável, ambos optaram, por exemplo, por dar uma nova vida a móveis usados em vez da compra de novas peças.
Este foi o início de uma 'experiência' a dois que se destina a muito mais do que uma nova vida familiar. Isto porque a propriedade vai também servir para acolher os convidados que vêm de outros cantos do país para fazer parte desta nova caminhada.
A atriz e o realizador decidiram avançar com um projeto no local, Troupe Carmo - o mesmo nome do teatro desmontável da família de Eunice e no qual a atriz se estreou.
A Troupe Carmo "volta a existir mas numa outra lógica", trazendo à localidade quatro espetáculos, um documentário, um levantamento etnográfico - sobre a itinerância e o teatro e a cultura do Baixo Alentejo - e ações de formação. Além de levarem o teatro e a cultura ao Baixo Alentejo, querem formar as pessoas do local para colaborarem e assim, também, criarem postos de trabalho (mesmo que temporários).
"Havia necessidade de filmar e fotografar os espetáculos e as ações. Por isso, em vez de trazer um fotógrafo, vamos formar aqui", explicou Tiago Durão, detalhando que vai contar com o apoio de profissionais para estas formações.
Este é um projeto em que um dos desafios é "fidelizar o público nestas regiões em que não há hábito de ir ao teatro". "Há pessoas de 40 ou 50 anos que nunca foram a um teatro", comentou Tiago Durão.
E qual a melhor 'arma' para conseguir este objetivo? "A primeira coisa é a acessibilidade social. Quando tiras a barreira do custo do bilhete, a pessoa vai porque não paga. Os espetáculos vão ser gratuitos, assim como todas as ações. As formações gratuitas também".
A esta iniciativa vão juntar-se nomes muito conhecidos pelos portugueses, como os atores José Raposo e Dalila Carmo, que são convidados no âmbito do ateliê de teatro para uma participação especial. A formadora desta ação é Lídia Muñoz.
Para a atriz, este é um projeto particularmente especial porque a leva a sentir-se "cada vez mais perto da avó", Eunice Muñoz, que morreu em abril de 2022.
Este projeto acaba por ser também um bocadinho esse voltar a tê-la aqui ao pé de mim
"Ao mesmo tempo que é muito duro pensar que me vou mudar sem saber bem o que é que vai acontecer, por outro lado sinto-me cada vez mais perto da minha avó. Isto pode parecer muito romântico, mas é o que sinto porque cada pessoa aqui na Amareleja tem coisas para dizer sobre a minha avó, conhece pessoas da família que estiveram com a minha avó quando ela era pequenina… Acho que me aproxima e tudo o que preciso é de me aproximar da minha avó neste momento, porque tem sido muito duro desde que ela partiu. Este projeto acaba por ser também um bocadinho, para mim, esse voltar a tê-la aqui ao pé de mim", partilhou Lídia.
Não quero vir para o Alentejo montar uma embaixada lisboeta, essa não é a premissa
Já Tiago Durão explicou que um dos "sonhos" que Eunice nunca realizou era "ter uma casa no Alentejo". Mas esse não foi o único motivo para darem seguimento a esta iniciativa.
Quando levaram o filme 'Eunice Muñoz: A Carta a uma Jovem Atriz', de Tiago Durão, à terra da falecida atriz, estavam na dúvida se iria ou não "ser bem aceite, porque as pessoas [na região] não têm o hábito de ir ao cinema". Mas o que é certo é que "a casa encheu".
"É um sítio com pessoas, mas que está abandonado, falo culturalmente. E o que nos chocou quando cá viemos foi que as crianças vão ao teatro uma vez por ano quando há dinheiro. Uma ida a Lisboa custa 600 euros. É incomportável que estas crianças não tenham contacto constante com as artes, com exposições, e com aquilo que para nós é normal em Lisboa. Portanto, é um país a duas velocidades e isso chocou-me imenso. O projeto nasce daqui, da vontade da Eunice e da circunstância da oportunidade", frisou o realizador, não deixando de lado os importantes apoios que recebeu, da DGARTES, da Junta de Freguesia da Amareleja, da Câmara Municipal de Barrancos e da Barbot.
"Não quero vir para o Alentejo montar uma embaixada lisboeta, essa não é a premissa. Não venho aqui ensinar nada, tenho muito mais a aprender aqui do que vir cá ensinar. Trago é outra realidade e levo aqui com outra realidade. E essa é a verdadeira riqueza deste projeto", realçou ainda Tiago Durão.
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