No ano em que celebra 30 anos de carreira, Fátima Lopes abraça o desafio de dar voz a mestres de ofícios ancestrais, ao lado de uma geração que está a reinventar essas práticas com uma visão contemporânea e sustentável. Afirma que esta experiência, retratada em 10 episódios, não só enriqueceu a sua visão sobre o artesanato, mas também sobre a identidade cultural que ele representa para o país e para as gerações futuras.
Em entrevista ao SAPO Lifestyle, Fátima partilha algumas das experiências mais marcantes do seu percurso por este Portugal artesanal, revelando momentos e figuras que deixaram uma impressão duradoura.
O 'Aqui Há Mão' celebra a fusão entre tradição e inovação. Como foi testemunhar esta mistura entre o artesanato tradicional e as novas abordagens criativas dos jovens artistas?
Foi um verdadeiro privilégio. Entrevistar os mestres, aqueles que executam as suas artes de forma tradicional e, ao mesmo tempo, ouvir os jovens que recriaram essas mesmas artes com novos caminhos, conseguindo ampliar ainda mais o valor daquilo que já achávamos extraordinário, é realmente um privilégio. Acresce a isto um pormenor que faz toda a diferença: estes artesãos tradicionais respeitam e admiram os mais jovens. Sentem que eles os conseguem surpreender e isso é muito bonito.
A série percorre diversas regiões do país, como Loulé, Vila Real e Arraiolos. Qual das localidades a surpreendeu mais e por que razão?
Não consigo escolher uma localidade, porque cada uma delas tem as suas particularidades. Para perceberem a riqueza deste projeto, dou um exemplo: visitei Beiriz para conhecer os tapetes tradicionais da terra e para o mesmo episódio, fui até Albufeira conhecer Vanessa Barragão, uma artista têxtil com reconhecimento mundial.
Conhecer estes artesãos e artistas foi uma experiência transformadora? Houve algum momento ou pessoa que a tenha marcado especialmente durante as gravações?
Foi uma experiência altamente enriquecedora porque atrás de cada artesão/artista, está uma história de vida diferente. Recordo muitos momentos e, na verdade, todos eles me tocaram de alguma forma. Por isso não é fácil. O mestre Isidoro, que trabalha a arte do esparto, tocou-me muito pela forma carinhosa com que falou do seu processo de aprendizagem, inspirado nas pessoas que mais amava. A Susana Cereja, artista plástica, fez-me sentir a imensa felicidade que está por trás de um processo criativo e do nascimento de uma nova peça.
O convite para o 'Aqui Há Mão' é a cereja no topo do bolo porque corresponde à comunicação que me faz sentido fazer agora. Próxima, rica, positiva, com esperança e que ensine alguma coisa ao espetador.
O artesanato tradicional é uma herança rica em Portugal. Qual é a importância deste tipo de conteúdo para os espetadores portugueses?
Acho que este conteúdo vai acima de tudo surpreender os espetadores, por lhes permitir perceber que o que é mais tradicional encerra em si mesmo um gigante potencial que os jovens estão a descobrir e a explorar. No final, acho que quem vê o programa vai passar a olhar para as peças de artesanato e para as peças de arte, de outra maneira.
Ao celebrar 30 anos de carreira, como o ‘Aqui Há Mão’ se encaixa nesta trajetória e na sua evolução como apresentadora?
Encaixa na perfeição. Nos últimos 3 anos, o meu caminho como comunicadora alterou-se. Estreei a série documental “Mudar para melhor” no canal YouTube, “Brands Chanel” e na SIC comecei a fazer reportagens mais próximas daquilo que são as nossas gentes e as nossas tradições. O convite para o 'Aqui Há Mão' é a cereja no topo do bolo porque corresponde à comunicação que me faz sentido fazer agora. Próxima, rica, positiva, com esperança e que ensine alguma coisa ao espetador.
O canal Casa e Cozinha tem feito um trabalho extraordinário de promoção simultaneamente, da cultura e tradição e da modernidade.
A sustentabilidade e o combate ao consumo em massa são temas muito presentes no artesanato moderno. Como estes valores ressoam consigo, tanto a nível profissional como pessoal?
Ainda bem que os novos artistas têm uma gigante preocupação ambiental. Eles são uma referência. São pessoas que vão influenciar as novas gerações com as suas mensagens poderosas. A Vanessa Barragão, por exemplo, só trabalha com desperdício de lãs que lhe são enviadas por fábricas. A Maria e o João da marca So So, entregam todos os desperdícios das aparas de madeira para as hortas comunitárias da zona onde vivem, para serem utilizadas nos solos, de forma a reterem humidade. Há muito que tenho preocupação com o tema da sustentabilidade. Se visitarem o simply.flow.pt, a minha plataforma digital ligada à saúde e bem-estar das pessoas e do planeta, vem que uma das temáticas é a sustentabilidade.
A série promove uma ligação entre o passado e o presente. Como vê a importância de preservar estas tradições para as gerações futuras?
Uma pessoa sem memória é, irremediavelmente, uma pessoa mais pobre. Preservar as tradições é manter o nosso ADN, consciente de que quem chega pode acrescentar conhecimento e enriquecer o que já conhecemos.
O canal Casa e Cozinha tem apostado cada vez mais em conteúdos nacionais. Como vê o papel deste canal na promoção da cultura e tradição portuguesas?
O canal Casa e Cozinha tem feito um trabalho extraordinário de promoção simultaneamente, da cultura e tradição e da modernidade. Na cozinha, nas viagens, no “faça você mesmo”. Percebe-se que há uma noção clara dos gostos e interesses daqueles que veem canais cabo e procura-se ir ao encontro do espetador, desafiando-o sempre um bocadinho. E isso é muito estimulante.
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