Esta semana, num dia, numa hora e num local encontrei uma amiga. Obviamente falamos dos filhos, os meus e os seus, que estão a desafiar o tempo e a crescer mais rápido do que deviam. Falamos do colégio, da minha vida e da sua. Falamos rápido, no vão das escadas, de fugida, mas que deu para falar do que queríamos. Falamos também de uma amiga, que espera pela altura certa.
Eu também quis esperar pela altura certa, também tive dificuldade em fazer parar a minha vida, especialmente a minha vida profissional, e pensar em ter um filho.
Eu queria esperar pela altura certa, aquela altura em que pensava que a minha vida ia-se alinhar num plano paralelo, que tudo o que queria já tinha alcançado, cheia de estabilidade e um vencimento muito generosidade, e que então o universo dava-me luz verde para avançar.
Esperei.
Na verdade pensei mais do que propriamente esperei. Os meses iam passando e havia sempre uma novidade, um objetivo novo que queria alcançar, um desafio novo que queria superar. E foi aí que tive a luz verde do universo. Não necessariamente para ter um filho, mas que me deu lucidez para saber que a altura certa nunca (mas nunca) iria chegar.
Nunca vai chegar porque vai haver sempre coisas novas que queremos fazer, novas propostas, novas responsabilidades, novas montanhas para mover. Nunca vai chegar porque nós, mulheres, temos sempre um sentimento (inválido) de culpa e de ter que provar que fazemos mais e melhor do que os outros. Nunca vai chegar porque sentimos uma pressão (mais uma vez invalida) para fazer tudo enquanto abundamos energia e não temos rugas, e deixar os filhos para quando estivermos mais flácidas e cansadas.
Temos de ser nós a decidir quando é a altura certa.
E nunca será muito certa, pois nunca teremos aquilo que achamos que queremos, aquilo que achamos que iremos precisar e de que o bebé vai precisar, mas será sem dúvida a melhor altura, a altura perfeita. E quando tal acontecer, o universo alinha-se, as prioridades são (re)definidas, e a vida ajeita-se. Encontramos facilidade onde sempre pensamos que seriam dificuldades, encontramos certezas quando tínhamos receio, e encontramos forças nos nossos mais queridos. E acima de tudo olhamos para trás e pensamos como fomos capazes em esperar tanto tempo.
Marta Andrade Maia
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