Tenho o hábito de antes de me deitar (seja qual for a hora) de ir ver os meus filhos, ver se estão a dormir bem, aconchegar os cobertores, no caso do Tomás vira-lo para o lado da almofada, ver se os quartos não estão quentes nem frios de mais, enfim, olhar para eles, admirá-los no seu sono tranquilo.
Acho que tudo começou quando o mais velho nasceu, e eu sentia a tremenda responsabilidade de ter que o manter bem e acima de tudo vivo. Lá ia eu espreitar, verificar se respirava, e por vezes quando não se mexia, e aqueles micro instantes pareciam eternidades e já o meu coração estava acelerado, colocava a mão no seu peito para sentir a sua respiração. Mas quando estava de barriga para baixo, e eu não ouvia o seu respirar nem o via a mexer, então recorria ao toque. Tocava-lhe uma vez, duas vezes, e até cheguei a abaná-lo suavemente para provocar uma reação. Lá se mexia, eu ficava bem mais calma e ia para a cama.
Agora, com os dois, e talvez com a sabedoria sensata que os bebés conseguem dormir tranquilamente sem que nada lhes aconteça, sinto-me mais descansada. No entanto continuo a ir todas as noites fazer a ronda aos quartos, encostar portas, encontrar chupetas, puxar os cobertores, ou retirar os brinquedos que foram fazer companhia.
Tudo até poderia correr bem, fosse eu um pouco mais silenciosa e caso não apontasse a luz do telemóvel diretamente para a carinha deles.
Com o mais novo, seja qual for a hora, sejam dez da noite, meia noite, ou três da manhã, não sei como ou porquê, já está ele acordado e fica a olhar para mim muito espantado e com os olhos bem abertos. Claro que já apanhei muitos sustos por não estar a contar em apanha-lo acordado, especialmente quando vou a inclinar-me na cama e o vejo a olhar fixamente para mim, mas felizmente ele volta a adormecer e fica bem.
Já com o mais velho, as coisas não são tão pacíficas.
Estava eu já deitada na cama, após a minha "ronda" e pronta para dormir, quando me lembrei que ele tinha o aquecedor ligado no máximo no quarto e que poderia ficar muito quente. Então, lá fui eu, silenciosamente ao seu quarto novamente, e até tive o cuidado de não levar o telemóvel para não o acordar. Abri a porta devagar, passei pela cama dele, voltei a verificar que estava tudo bem (como aliás estava há dez minutos atrás), e dirigi-me ao aquecedor, encostado à parede no fundo no quarto. Pisei num brinquedo que não me lembrava de lá estar, e fez um barulho. Ele mexeu-se. Tropecei num dinossauro que apareceu sorrateiramente, e bati com o pé nos legos (que devo dizer magoam bastante quando estamos descalços). Devo ter soltado um gemido pois ouço um "quem é?". Respondo em voz muito baixinha com um suave e disfarçado "ssshhhhssshhh".
"Ohhh mamã, eu estava a dormir!!!"
Marta Andrade Maia
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