Há dias em que, quando me deito e penso em tudo o que se passou durante o dia, nas asneiras do Tomás, nas brincadeiras do João, na correria que foi para dar banho a um e o jantar a outro, para dar atenção a um enquanto o outro chora, arrumar os brinquedos espalhados pela casa, fechar gavetas e portas para ninguém se entalar, contar histórias e embalar, sinto que não fui a mãe que queria ter sido.
Nem todos os dias são iguais, nem todos os filhos são iguais e nem todos os momentos são iguais. E por vezes dou por mim com menos paciência e vejo-me a falar mais alto com eles, o que provavelmente não era necessário. Eu fico irritada, depois eles também ficam mais agitados e um momento que podia ter sido fluido e fácil torna-se mais difícil de gerir. E quando para, quando tenho dois segundos só para mim, sei que eu poderia ter evitado a confusão. Sei que eu, a adulta no meio de duas crianças, devia ser mais adulta. Queria ter mais paciência, mais e sempre.
Tentámos fazer tudo o que é suposto fazer naquele dia, cumprir a rotina, cumprir as horas, deitar cedo e cedo erguer, para mais um dia começar. Mas, dou por mim a apressar certas tarefas, já mecanizadas e quase automáticas, para cumprir um timing que defini na minha cabeça. E assim momentos a dois (ou a três) que já são rotineiros, não aproveitados no seu todo.
Às vezes, para cumprir esse timing que eu própria (mentalmente) defini, esfrego a cabeça com o champô, quase mecanicamente, e nem ouço as histórias do João, não me rio das piadas, não entro nas brincadeiras. E fico chateada quando vejo a água a inundar o chão.
São nesses dias em que ao deitar fico a pensar que gostava de ter feito muita coisa diferente. De ter tido mais tempo e menos pressa. De ter dado mais atenção. De ter manifestado mais paciência e menos preocupação com horários e rotinas. Afinal, não há mal nenhum em demorar mais uns minutos a gozar o banho ou mais outros minutos a ouvir (com ouvidos de ouvir) uma história exagerada e muito criativa, em demorar mais uns minutinhos a vestir um super-herói ou a preparar um cavaleiro, a encontrar um dinossauro escondido na caverna do sofá ou a desmontar a garagem atrás das cortinas.
São pequenos minutos que podem parecer longos, mas são naturalmente vividos e ficarão gravados na memória de uma família.
Marta Andrade Maia
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